O ministro federal para a Economia e Energia da Alemanha, Peter Altmaier, que é um dos elementos do Governo mais próximos da chanceler Angela Merkel, surpreendeu a plateia que assistia a uma discussão sobre Inteligência Artificial e deixou sem palavras (literalmente) os CEO dos três principais grupos automóveis alemães – Mercedes, BMW e Volkswagen. Fê-lo com duas perguntas e uma comparação ‘assassina’, segundo o Der Spiegel.

Dirigindo-se a Herbert Diess e a Dieter Zetsche, respectivamente responsáveis máximos dos grupos Volkswagen e Daimler, ambos presentes da sala, mas envolvendo igualmente o CEO do grupo BMW, Harald Krüger, que não estava no encontro, Altmaier abriu assim as hostilidades:

Interrogo-me quando é que vocês, Sr. Zetsche e Sr. Diess, e também o Sr. Krüger da BMW, serão capazes de produzir um veículo eléctrico que seja apenas metade do sexy que é um Tesla.”

A declaração, vinda de um governante cujo país depende tanto da indústria automóvel, traduz uma clara decepção face aos eléctricos propostos pelos principais fabricantes locais, quando comparados com os modelos americanos da Tesla, marca jovem, mas que tem dado que falar pela forma inovadora como aborda o mercado da mobilidade eléctrica. E, aparentemente, era aí que o ministro alemão pretendia chegar, pois de seguida lançou uma espécie de desafio, em tom de crítica, aos CEO germânicos:

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No que respeita à capacidade dos vossos carros eléctricos atraírem o público, vocês podiam surgir com algumas ideias novas”.

Ainda de acordo com a publicação alemã, Altmaier não teve qualquer resposta a estas interpelações. Do lado dos visados, ouviu-se apenas silêncio.

Por que se calaram?

Altmaier afrontou, de forma directa, os principais responsáveis pela indústria automóvel alemã. Tem razão para submetê-los a estas declarações enxovalhantes? Sim e não.

As afirmações do ministro pecam por exageradas, pelo menos em parte. É certo que, até agora, tudo os que os alemães apresentaram é apenas uma variação e não para melhor, do que a Tesla vem oferecendo desde 2012. Estamos a falar de seis anos, após os quais os fabricantes alemães apenas copiaram as actualizações over-the-air, a distribuição com menor dependência dos concessionários, baterias maiores e motores mais potentes. Mas será injusto classificar o que o grupo VW tem em preparação, para surgir a partir de 2020 – o que incrementa o atraso para oito anos, face ao rival americano – como algo que não é “nem metade de sexy de um Tesla”. A menos que o ministro se estivesse a referir apenas aos actuais eléctricos alemães, do e-Golf ao Classe B, passando pelo i3.

Entre BMW, Daimler e VW, este último grupo é de longe o que está a investir mais fortemente nos eléctricos e em todas as áreas, para controlar a produção de veículos, mas igualmente das baterias que os movem. Com base em tudo o que já se sabe – ou se julga saber, pois os carros ainda não estão a ser produzidos –, a gama I.D. vai ser competitiva com a Tesla, com Diess a prometer “um produto igualmente bom a metade do preço”. E até é (altamente) provável que sejam melhores em qualidade e em robustez.

No limite, o Altmaier poderá ter apenas razão em relação à falta de criatividade e inovação, que tem muito a ver com o menor sex appeal a que se referiu.