Antes da reunião de emergência do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) agendada para esta segunda-feira (16h portuguesas), a comunidade internacional criticou em bloco a captura de três navios ucranianos por parte da Marinha Russa, em pleno Mar Negro. Já se pronunciaram os governos da Alemanha, Holanda, Lituânia, Finlândia, Estónia, Dinamarca, Canadá e Turquia, tal como a NATO (uma organização militar) e a Comissão Europeia.
Rússia ataca três navios ucranianos ao largo da Crimeia. Ucrânia poderá instaurar lei marcial
“Ato declarado de agressão militar”
O governo lituano foi um dos mais críticos. Numa declaração citada pela Bloomberg, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país condenou “fortemente” a ação russa, desafiou a comunidade internacional a reagir “com todos os meios” à captura dos navios ucranianos, “exigiu” que a Rússia “termine imediatamente” a ação de apreensão e afirmou que “as ações provocadoras da Federação Russa violam a soberania e integridade territorial da Ucrânia e violam os princípios fundamentais da lei internacional. Não pode ser qualificado de outro modo que não um ato declarado de agressão militar à Ucrânia”.
Também a Alemanha deixou um apontamento crítico à ação russa. O porta-voz sénior do governo de Merkel, Steffen Seibert, afirmou que “considerando os factos que se conhecem” não há nada que justifique a ação militar, que aconteceu quando os navios ucranianos estavam a navegar em direção ao porto de Mariupol, no Mar de Azov, uma zona de grande tensão entre os dois países.
Recorde-se que Ucrânia e Rússia têm versões contraditórias sobre o que aconteceu, com a Ucrânia a defender que os seus navios foram alvo de um ataque sem justificação e a Rússia a dizer que o incidente resultou de uma “provocação perigosa” dos navios ucranianos, que acusa de terem disparado em direção à sua frota.
O governo alemão anunciou ainda estar a encetar contactos com os seus homólogos em Moscovo e em Kiev, pediu acesso livre ao mar de Azov e lembrou que o bloqueio russo do estreito de Kerch (entretanto reaberto) é, tal como a anexação da Crimeia, uma violação das leis internacionais.
NATO pede respeito pela lei, Comissão Europeia pede “libertação”
A NATO, por sua vez, pediu “contenção e redução” da tensão no local. Através da porta-voz Oana Lungescu, a organização militar internacional de que fazem parte 29 países (entre eles Portugal) da Europa e América do Norte apoiou “os direitos de navegação da Ucrânia nas suas águas territoriais”, pedindo ainda que a Rússia “garanta o acesso sem entraves aos portos ucranianos do mar de Azov, como prevê a lei internacional”.
Também a Comissão Europeia (CE) reagiu à tensão entre Rússia e Ucrânia. A porta-voz da CE para os Negócios Estrangeiros considerou “inaceitáveis” os desenvolvimentos no mar de Azov e apelou a uma diminuição da escalada da tensão entre a Rússia e a Ucrânia na região.
Na conferência de imprensa diária do executivo comunitário, Maja Kocijancic abordou a “escalada perigosa” no mar de Azov e qualificou de “inaceitáveis” as decisões da Rússia de encerrar o estreito de Kerch, que une o Mar Negro ao Mar de Azov, ao largo da Crimeia — entretanto já reaberto –, e de capturar três navios da Armada da Ucrânia (duas lanchas e um rebocador da Marinha de guerra) em águas territoriais russas.
Instamos a Rússia a libertar de imediato os três navios e a sua tripulação e a permitir a assistência médica aos feridos”, referiu a porta-voz comunitária.
Kocijancic vincou ainda que a União Europeia “não reconhece, nem reconhecerá a anexação ilegal da Península da Crimeia”, que condena a agressão da Rússia relativamente à Ucrânia e revelou que a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, está em contacto com “vários atores internacionais” desde que a escalada começou.
Estónia avisa para “conflito militar em grande escala”
O Ministro da Defesa da Estónia Juri Luik alertou, numa declaração por email citada pela Bloomberg, que “um conflito militar em grande escala pode começar a qualquer momento”, descrevendo a situação em águas russas e ucranianas como “um bloqueio marítimo por completo” promovido por Moscovo.
A Estónia pediu ainda “mais sanções” para a Rússia e apelou a que sejam enviados observadores internacionais para a região. Disse mais, insinuando que a Rússia estava a aumentar a tensão na região com o objetivo de interferir nas eleições presidenciais ucranianas agendadas para o próximo ano.
Esta segunda-feira, um partido político ucraniano — o National Corps (também denonimados de “patriotas da Ucrânia”), pequena formação de extrema-direita fundada em 2016 e fortemente apoiada por veteranos do regimento da Guarda Nacional da Ucrânia em Azov — organizou um protesto à frente do consulado russo na cidade ucraniana de Lviv. Os manifestantes argumentavam que o presidente ucraniano Poroshenko não é suficientemente agressivo no modo como lida com a Rússia. Também houve protestos junto à embaixada russa em Kiev, como atestam as imagens abaixo:
Turquia mais modesta nas críticas
A Turquia foi um dos países mais brandos nas críticas à captura russa de três navios ucranianos. Ainda assim, o regime presidido por Recep Tayyip Erdoğan não deixou de notar publicamente que era um dos países afetados pelo bloqueio do estreito de Kerch no mar Negro (já terminado) e pediu que se evitem ações que possam colocar em causa a estabilidade e a paz na região.
Mais incisiva foi a Finlândia, que através do seu presidente, Sauli Niinistö, requereu à Rússia que devolva os navios ucranianos que capturou e os tripulantes feridos. “A instabilidade na região prolonga-se há muito tempo e o risco de escalada das tensões é elevado. É por isso que é absolutamente necessário que a comunidade internacional reaja ao incidente sem mais demoras”, afirmou a presidência, citada pela Bloomberg.
O ministro dos Negócios Estrangeiros dinamarquês Anders Samuelsen expressou apoio à Ucrânia, ao passo que a sua homóloga canadiana Chrystia Freeland condenou o que considera ser uma “agressão” russa. Recorde-se que o Canadá é um dos dois países norte-americanos que integram a NATO. O outro é os Estados Unidos da América, que ainda não reagiu diretamente ao incidente, embora Donald Trump tenha tweetado que “a Europa tem de pagar a sua parte justa para Proteção Militar. Durante muitos anos, a União Europeia aproveitou-se de nós no Comércio e depois não cumpre os seus compromissos militares através da NATO. [As] coisas têm de mudar e depressa!”
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros holandês Stef Blok considerou “inaceitável” a restrição russa de acesso ao mar de Azov.
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