António Tomás Correia obteve um quarto mandato às frente da Montepio Geral Associação Mutualista (MGAM), com 43,2% dos votos nas eleições desta sexta-feira, à frente do candidato da lista C, António Godinho, que obteve 36,3%. O candidato da lista B, Fernando Ribeiro Mendes, ficou em terceiro, com 20,5% dos votos, soube o Observador. Tomás Correia diz que os associados são “sábios” e “soberanos” e promete um “mandato muito exigente, que apela à responsabilidade por que sempre nos pautámos”.

Os resultados da votação, que saíram já às primeiras horas de sábado, indicam que uma candidatura única da oposição a Tomás Correia — o que foi equacionado inicialmente entre Godinho e Ribeiro Mendes — poderia ter sido suficiente para suplantar o atual presidente da mutualista, acusado por ambos os concorrentes de falta de idoneidade para liderar a instituição. Mas não foi possível formar essa lista única porque, nas palavras de Godinho esta sexta-feira, “não se pode obrigar as pessoas a entenderem-se”.

Tomás Correia e António Godinho terão ficado separados por menos de três mil votos, menos do que o número de votos considerados inválidos durante o processo eleitoral que, segundo o jornal Público, foi de 3.585. Num universo de cerca de 460 mil associados da mutualista com direito a voto, apenas foram registados cerca de 43.200 votos válidos, uma quebra significativa face aos mais de 56 mil da eleição anterior, em 2015.

Nos dias que antecederam as eleições, e no próprio dia da votação, as listas opositoras de Tomás Correia lançaram dúvidas sobre a transparência e a equidade do processo eleitoral, afirmando que todo o processo estava cheio de irregularidades que favorecem a lista do incumbente.

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Mas, em comunicado enviado por fonte oficial da candidatura, Tomás Correia defende que essas dúvidas foram lançadas por “pessoas que recorrem a expedientes que colocam em causa o bom nome do Montepio” e “não estão à altura de honrar a sua história e os seus fundadores”.

Chegados a esta noite, os associados fizeram a sua escolha, redobrando agora a responsabilidade dos que acabam de ser eleitos, que vão tomar posse e que irão gerir esta nossa grande instituição nos próximos três anos.”

Montepio. Tomás Correia acredita que vai ganhar e, depois, vai ouvir “as mesmas charlatanices” de quem perdeu

No mesmo comunicado de vitória, e falando em nome da associação, Tomás Correia rematou que “chegados a esta noite, a Associação Mutualista Montepio está grata a todos os que participaram neste ato eleitoral, nomeadamente aos seus associados, que, mais uma vez, souberam separar o trigo do joio”.

Na tarde das eleições, Tomás Correia já se mostrava confiante na vitória e dizia estar preparado para voltar a ouvir “as mesmas charlatanices” da boca de quem sair derrotado, como pedidos de impugnação (como em 2015) ou outras suspeições.

Nessa manhã, por outro lado, António Godinho, o que viria a ser o segundo candidato mais votado, dizia-se confiante na vitória mas salientava: “isto já passa para um nível de responsabilidade dos reguladores e das entidades oficiais, e não apenas dos associados”, dando a entender que poderá haver nova impugnação destas eleições que, na sua opinião, tiveram um grau “similar” de irregularidades.

Além disso, a frase de António Godinho pode indicar que o empresário tem confiança de que a nova supervisão financeira da ASF poderá impedir Tomás Correia de cumprir o mandato, por falta de idoneidade — uma questão que Tomás Correia garantiu, esta sexta-feira, que não lhe “tira ponta de sono, ponta de serenidade”.

Votação no Montepio. As suspeitas e as acusações

Estas eleições destinavam-se a escolher os dirigentes para os órgãos sociais da AMMG para o triénio 2019/2022.

Nos últimos anos, o Banco de Portugal impôs uma maior separação na gestão do banco e da associação mutualista, que entre 2008 e 2015 foi acumulada por António Tomás Correia, tendo vindo também a defender uma melhor diferenciação entre as duas entidades.

Em 2015, precisamente por imposição do regulador bancário, o sistema mudou, ficando Tomás Correia à frente da mutualista e passando o banco a ter uma gestão autónoma, com Carlos Tavares a assumir a presidência da Caixa Económica Montepio Geral, que irá ficar com uma nova designação comercial até final do ano, embora estatutariamente mantenha o nome.

Fundado em 1840 por um grupo de funcionários públicos liderados pelo professor e funcionário da Contadoria da Junta do Crédito Público Francisco Álvares Botelho, o então “Monte Pio dos Empregados Públicos” pretendia colmatar, através do apoio mútuo, a ausência de um quadro público de apoio social em Portugal.