Entronizado como candidato dos socialistas europeus à Comissão Europeia, Frans Timmermans arrancou o seu discurso a parafrasear “Uma Casa Portuguesa” de Amália Rodrigues, em português com sotaque holandês: “É uma casa portuguesa, concerteza. É concerteza um casa portuguesa“. No Congresso dos socialistas europeus, em Lisboa, Timmermans aproveitou o “vinho sobre a mesa”, para uma metáfora sobre os populismos que quer combater: “Quando bebemos um copo ou dois, ficamos nostálgicos, se bebemos a garrafa toda ficamos demasiado nostálgicos e tornamo-nos nacionalistas e aí perdemos o rumo”.

Para o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, as Europeias de maio “não são umas eleições normais e são as de maior risco para a Europa“, já que os eleitores vão decidir se querem que a Europa tenha por “base o respeito dos direitos humanos ou se voltamos atrás e a governação será feita pelo medo”.

Timmermans não atirou só aos populistas, mas também à direita europeia. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, foi um dos visados: “Chegámos ao ponto de expulsar uma universidade do país, porque as ideias da universidade não estavam de acordo com o líder“. O holandês prometeu nunca abandonar “o povo húngaro” nem o “povo polaco na defesa pela democracia”. Timmermans quer combater o nacionalismo e a xenofobia e defendeu uma máxima dos socialistas: “Para nós só existe uma raça, a raça humana.”

Na resposta a um desafio do primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchéz, Timmermans disse que aceitava começar a desenhar um novo contrato social na Europa. Para isso disse ser importante envolver o que chamou de “eixo socialista”.

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O antigo chefe da diplomacia holandesa defendeu ainda o fim do fosso salarial e uma maior participação dos sindicatos nas empresas. Os socialistas europeus, defende Timmermans, “têm de combater os falsos empregos“. Para o candidato socialista “um rapaz de 16 anos com uma bicicleta e uma mochila em Hannover, não é um empresário. É um rapaz qus está com pressa e que se cair e partir o braço fica por sua conta e isso é inaceitável”. E acrescentou, para que os delegados refletissem sempre que recorressem a plataformas como a UberEats: “Estamos preparados para pagar para estas pessoas que trabalham para nós? Façam esta pergunta cada vez que pedem comida em casa.”

O candidato socialista quer acabar com isenções a grandes empresas tecnológicas, que podem “perfeitamente pagar impostos”. Timmermans diz que os governos pedem as trabalhadores de pequenas empresas “nas suas lojas de reparação, mercearias, que paguem impostos, mas depois não pedem às Googles e aos Facebook que os paguem”. Neste momento, aproveitou para uma crítica  a Trump: “Já sei que vão dizer que eles nos EUA vão ficar malucos com isso. Mas já há loucura que chegue nos EUA e não me importo de provocar mais essa loucura para conseguirmos cobrar impostos”.

Timmermans diz que é tempo dos “super-ricos” pagarem impostos, já que enquanto “10% dos europeus não conseguirem pagar eletricidade, 10% não tiverem comida adequada na mesa e um quarto das crianças europeias estiverem em risco de pobreza, [os milionários] têm de continuar a pagar impostos”. Sobre a caridade, o antigo governante holandês apelou: “Sempre que virem os multimilionários a fazerem ações de caridade, digam: ‘Paguem os vossos impostos é a melhor forma de ajudarem os pobres“.

Sobre o Brexit, o candidato socialista desafiou ainda Jeremy Corbyn a defender o regresso do Reino Unido à União Europeia e defendeu que os britânicos continuem no espaço europeu. Houve muitos aplausos no Congresso. Timmermans pediu então que estas imagens chegassem ao Reino Unido, para que saibam que “há pelo menos uma família europeia que os quer na União Europeia.