A ativista iraquiana Nadia Murad e o médico da República Democrática do Congo (RD Congo) Denis Mukwege exigiram o fim da impunidade dos autores de abuso sexual nos conflitos armados, ao receberem esta segunda-feira o Prémio Nobel da Paz, em Oslo.

Nadia Murad foi agraciada com o Nobel por dar visibilidade e por combater a violência sexual como arma de guerra e por denunciar publicamente esses abusos. Denis Mukwege recebeu o prémio por ajudar os refugiados de guerra na RDCongo.

No discurso de abertura da entrega do prémio Nobel da Paz, em Oslo, o presidente do Comité, Berit Reiss-Andersen, argumentou que os vencedores têm mostrado que o sofrimento humano na guerra é “universal” e que as mulheres são “vítimas invisíveis do horror da guerra”.

“Os responsáveis pela violência sexual contra yazidis e outras mulheres e crianças devem ser processados. Se não houver justiça, o genocídio vai repetir-se contra nós e contra outras comunidades vulneráveis”, disse Murad, ativista yazidi (minoria religiosa curda), que foi sequestrada pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI).

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“Se a comunidade internacional quer realmente ajudar as vítimas deste genocídio, (…) deve fornecer proteção internacional”, acrescentou Murad. Para Deniz Mukwege, “não são apenas os que praticam a violência que são responsáveis, mas também os que optam por desviar o olhar”.

O médico da RDCongo disse que, apesar dos esforços já feitos, “esta tragédia humana vai continuar se os responsáveis não forem processados. Só a luta contra a impunidade pode quebrar a espiral de violência”.

Murad, que perdeu a mãe e seis irmãos – uma história familiar para muitas famílias yazidi – afirmou que mais de 6.500 mulheres e crianças da minoria a que pertence foram vendidas, compradas e abusadas e que o destino de outras 3.000 nas mãos do EI é desconhecido.

“Aqueles que perpetraram os crimes que levaram a este genocídio não foram levados à justiça. Eu não procuro mais simpatia, eu quero esses sentimentos são traduzidos em ação”, disse a ativista, num um discurso em árabe em que pediu à comunidade internacional para garantir a proteção aos yazidis e de outras minorias sob a proteção da ONU.

Mukwege começou o seu discurso em francês, recordando os ataques ao hospital onde trabalha, há duas décadas, falando de atos de “violência macabra,” em que dezenas de bebés foram estuprados, num cenário de caos “perverso e organizado”, que resultou em mais de seis milhões de mortes, quatro milhões de pessoas deslocadas e centenas de milhares de mulheres violadas, na RDCongo.

A causa principal desta guerra é a riqueza mineral, afirmou Mukwege, que lembrou que os minerais extraídos sob intimidação e abuso sexual servem para aplicar em carros, joias e telemóveis. “Os congoleses foram humilhados, maltratados e abatidos por mais de duas décadas, à vista da comunidade internacional”, disse Mukwege, que lembrou que um relatório sobre crimes de guerra e violações na RDCongo, feito pela delegação do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, “acumulam poeira”, algures numa gaveta.

O médico exigiu medidas para compensar os sobreviventes e ajudá-los a começar uma nova vida, por considerar que é um “direito humano” básico, e pediu a criação de um fundo global para compensar as vítimas de violência sexual em conflitos armados.