Na última semana de outubro, e a pedido dos próprios, os antigos membros da Direção do Sporting destituída em Assembleia Geral a 23 de junho estiveram em Alvalade reunidos com Rogério Alves, entretanto eleito presidente da Mesa dos leões no ato eleitoral que conduziu Frederico Varandas à liderança do clube. O encontro foi solicitado por um ponto muito em específico: a possibilidade de, conforme consta nos estatutos, poderem recorrer da suspensão de sócios que tinha sido aplicada pela Comissão de Fiscalização coordenada por Henrique Monteiro, a 13 de junho, e explicar o porquê de alguns atos. E foi isso que se debateu, com a garantia dada logo na altura que, caso o Conselho Fiscal e Disciplinar considerasse que o recurso cumpria todos os requisitos, poderiam apresentar a sua defesa quando essa mesma reunião magna fosse marcada.
O encontro, que deveria ter sido privado, começou a ser falado nesse mesmo dia em alguns blogues afetos ao clube, chegando pouco depois à comunicação social. E não caiu bem a toda a gente, como se percebeu numa reação que Rita Garcia Pereira, um dos cinco elementos que faziam parte da Comissão de Fiscalização, teve num grupo privado do Facebook contra o presidente da Mesa. “Fui para onde pertenci, a bancada. Mas há silêncios incómodos. O do presidente da MAG, por exemplo, que se permite reunir com os suspensos mas nunca tratou de fazer mais do que mandar recados por interpostas pessoas à Comissão a que pertenci. Rogério a ser Rogério, e eu conheço o estilo de outras sedes, e não sou admiradora”, comentou.
A meio de novembro, depois de todos os pormenores terem sido devidamente revistos, o Sporting anunciou a marcação de duas Assembleias Gerais: a primeira, a 30 de novembro, para aprovação do Orçamento para o exercício 2018/19 e o Relatório e Contas relativo a 2017/18; a segunda, duas semanas depois, para avaliar o recurso das suspensões aplicadas a antigos dirigentes do clube. Esta terça-feira, e como forma de preparação para o que poderá acontecer, Rogério Alves explicou em conferência que os sócios suspensos poderiam não só marcar presença no Pavilhão João Rocha como dar a sua explicação dos factos num período máximo de 15 minutos, caso assim entendessem. E pode acontecer no sábado o mesmo que ocorreu na reunião prévia que houve em Alvalade: Bruno de Carvalho, ausente, a fazer-se representar e alguns ex-vices e vogais a marcarem presença.
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De acordo com informações recolhidas pelo Observador, o antigo presidente não está a ponderar marcar presença na Assembleia Geral mas não quer também, nesta fase, fechar essa possibilidade. Algumas pessoas próximas de Bruno de Carvalho entendem que, depois de tudo o que aconteceu nas últimas semanas, uma possível aparição no Pavilhão João Rocha teria mais efeitos negativos do que positivos, até porque, mesmo que o recurso seja votado de forma favorável pelos associados, continuará na mesma suspenso de forma preventiva por causa de um segundo processo avaliado pela Comissão de Fiscalização e que, no limite, poderá levar à expulsão de sócio – um processo e uma decisão que está agora apenas nas mãos do Conselho Fiscal e Disciplinar eleito a 8 de setembro, que é liderado por Joaquim Baltazar Pinto, também sujeita a recurso. Ainda assim, e tal como aconteceu na reunião em Alvalade com Rogério Alves em junho, poderá fazer-se representar. Na altura foi o advogado que o defendeu também no processo da invasão à Academia Sporting em Alcochete, José Preto.
Tal como Bruno de Carvalho, também o ex-vogal Alexandre Godinho, que se manteve sempre ao lado do presidente destituído, não deverá comparecer no encontro. Ao invés, os restantes quatro antigos dirigentes que caíram também na Assembleia Geral destitutiva de 23 de junho (Carlos Vieira, Rui Caeiro, Luís Gestas e José Quintela), e que chegaram a ponderar avançar com uma candidatura no último ato eleitoral com Carlos Vieira como cabeça de lista (que só não foi concretizada porque, dada a condição de sócios suspensos, seria sempre recusada pelos serviços do clube e por Jaime Marta Soares), admitem marcar presença caso estejam reunidas todas as condições para tal. O objetivo passa, sobretudo, por apresentar a sua defesa do castigo.
Há três grandes pontos nessa linha de raciocínio e admitindo já a devida distância temporal que permite olhar para os factos de uma forma menos “emotiva”. Por um lado, existe a clara ideia que, apesar de tudo o que se passou entre meio de maio e 23 de junho, a permanência no cargo foi algo consciente e a pensar em pontos importantes que estavam na altura em cima da mesa, nomeadamente a reestruturação financeira e a tentativa de pagamento do empréstimo obrigacionista, que viria a ser adiado seis meses; por outro, e em resposta à nota de culpa apresentada para justificar o castigo, a criação da Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral (que viria a ser considerada uma decisão ilegal) pode não estar presente nos estatutos do clube mas tinha sustentação legal, apesar de ter sido posteriormente indeferida; por fim, o comportamento que tiveram depois de ter sido sufragada a destituição, em claro contraponto com o antigo número 1, Bruno de Carvalho.
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De referir que, nessa primeira decisão da Comissão de Fiscalização, Bruno de Carvalho foi suspenso de sócio por um ano, ao passo que Carlos Vieira, Rui Caeiro, Alexandre Godinho, Luís Gestas e José Quintela tiveram uma sanção de dez meses. Além deles, existem ainda mais dois casos de associados que foram expulsos: Elsa Judas e Trindade Barros. Ainda não se sabe se algum estará também presente no Pavilhão João Rocha para evitar aquele que é o maior castigo previsto em termos estatutários.
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“Esses órgãos baseavam-se em pareceres jurídicos sem fundamento elaborados por aquela que viria a ser a presidente da chamada Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral, Elsa Judas, no que foi coadjuvada por outro jurista e professor de leis, Trindade Barros. Uma nota de culpa foi emitida contra os participantes nesses órgãos fictícios, tendo a Comissão de Fiscalização votado a expulsão do clube desses dois membros que, como especialistas em Direito, não podiam desconhecer o dolo, o dano e o prejuízo que causaram ao clube e a confusão e perplexidade criada aos seus sócios. Para tanto, militou também o facto de, à data da assunção de funções, não terem as suas quotas regularizadas”, escreveu a Comissão de Fiscalização no último comunicado feito nessa função, a 7 de setembro, onde deixou também a recomendação para uma eventual expulsão futura de Bruno de Carvalho e Alexandre Godinho, por outros dados que teriam sido entretanto apurados.
“Os membros desta Comissão de Fiscalização não ficariam bem com a sua consciência se, no entanto, não recomendassem vivamente – e tendo em conta as continuadas violações regulamentares e estatutárias, a instabilidade criada com factos falsos e os ataques constantes aos órgãos sociais legítimos do Sporting – a expulsão de Bruno de Carvalho e de Alexandre Godinho, distinguindo negativamente a ação destes em relação a todos os outros membros do demitido Conselho Diretivo. Obviamente, esta recomendação tem em conta os dados apurados até ao momento e não põe em causa, e menos desautoriza, outras medidas que os eleitos do Conselho Fiscal e Disciplinar entendam por bem tomar”, concluiu.