Cerca de 30% dos adolescentes dizem não gostar da escola, apontando que “o pior” é a comida do refeitório e as aulas e o “menos mau” os intervalos, revela um estudo que vai ser divulgado esta quarta-feira em Lisboa.
O estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) 2018, uma iniciativa da investigadora Margarida Gaspar de Matos, da Universidade de Lisboa, e da Equipa Aventura Social, é realizado em colaboração com a Organização Mundial de Saúde e conta com a participação de 44 países. Em Portugal, o primeiro estudo foi realizado em 1998, celebrando agora 20 anos.
Foram aplicados questionários online, em 42 agrupamentos de escolas, num total de 387 turmas, havendo um estudo complementar nos Açores, sendo a amostra constituída por 6.997 jovens do 6.º, 8.º e 10.º ano, a maioria (51,7%) raparigas, com uma média de idades de 13,73 anos.
O estudo pretende estudar os estilos de vida dos adolescentes em idade escolar nos seus contextos de vida, em áreas como o apoio familiar, escola, amigos, saúde, bem-estar, sono, sexualidade, alimentação, lazer, sedentarismo, consumo de substâncias, violência e migrações.
De acordo com o estudo, 29,6% dos jovens não gostam da escola, considerando que o pior é “comida do refeitório” (58,3%) e as aulas (35,3%) e o “menos mau” são os intervalos/recreios (8,3%). Os alunos sugerem que, para melhorar a comida do refeitório, esta tem que “ser melhor cozinhada (57,2%)” e “mais variada (44,2%)”.
A grande maioria (80,3%) dos alunos sente-se sempre ou quase sempre segura na escola, enquanto 13,7% referem que sentem muita pressão com os trabalhos da escola. Já 85,6% disseram que só faltam às aulas quando estão doentes ou têm algum imprevisto, refere o estudo, indicando ainda que 14,2% dos jovens considera-se, na opinião dos professores, “muito bom aluno” e 51,8% avalia-se como um aluno com pouco ou nenhum sucesso académico.
As dificuldades apontadas na escola são que, às vezes ou sempre, a matéria é demasiada (87,2%), aborrecida (84,9%), difícil (82%) e a avaliação “um stresse” (77%). Mais de metade aponta a pressão dos pais pelas boas notas. A maioria (54,8%) disse que pretende prosseguir os estudos universitários e cerca de um terço dos alunos do 8.º e 10.º anos tem fracas expectativas face ao seu futuro profissional, ou não sabe.
O estudo realça a importância de estarem disponíveis na família, na escola e na comunidade/autarquia “ações com crianças e adolescentes, que promovam o gosto e o usufruto na e pela escola, uma alimentação saborosa e saudável, o aumento de expectativas face à escola, às matérias escolares e ao seu impacto no futuro profissional”.
“O afastamento dos alunos portugueses da escola tem sido referido em relatórios anteriores e estes resultados merecem uma continuidade/incremento de ações de revisão curricular no que diz respeito à adequação, relevância e extensão das matérias escolares”, defende o HBSC.
Sublinha ainda que “o aspeto da gestão da ansiedade relacionada com as avaliações e os trabalhos da escola, bem como a pressão dos pais face às classificações, fica a merecer reflexão”.
O estudo revela também que 79,3% dos adolescentes têm três ou mais amigos, embora 26,4% confessem ser difícil fazer novos amigos. Quase dois terços disseram conhecer pessoalmente todos os seus amigos, enquanto 34,1% referem que têm um ou mais amigos que só conhecem “virtualmente”.
Nos tempos livres, 56,6% usam o telemóvel, 46,9% ouvem música e 35,7% dormem, em todos os casos várias horas por dia, e 50,7% afirmam que é a “falta de tempo” que os impede de desenvolver mais atividades de lazer.
Metade dos inquiridos disse que raramente ou nunca lê, 80% raramente ou nunca fazem atividades de voluntariado, 65,7% raramente ou nunca frequentam atividades religiosas e 86% raramente ou nunca têm intervenção associativa ou política.
Nesta área, o estudo defende a importância de “ações com crianças e adolescentes, que promovam a gestão do tempo, o convívio entre pares à volta de atividades de caráter cultural, artístico ou desportivo e ainda, a participação social e exercício da cidadania ativa”.
Mais de oito em cada dez adolescentes consideram-se felizes
Mais de oito em cada dez adolescentes (81,7%) consideram-se felizes, revela um estudo, que aponta ainda que 27,6% se sente preocupado “todos os dias, várias vezes por dia”.
De acordo com o estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) 2018, 21,8% dos adolescentes afirma que quando tem uma preocupação intensa, esta “não o larga” e “não o deixa ter calma para pensar em mais nada”.
Segundo o inquérito, 16,2% dos jovens refere que, “sempre ou quase sempre, não é capaz de controlar coisas importantes da sua vida” e 17,1% afirma que “sempre ou quase sempre, sente que as suas dificuldades se acumulam de tal modo que não as consegue ultrapassar“.
Quase 28% diz que nunca ou quase nunca sente que as coisas lhe correm como queria, e 26,2% nunca ou quase nunca se sente confiante com a sua capacidade para lidar com problemas pessoais.
Os autores do estudo defendem a importância de, na família, na escola e na comunidade/autarquia, “estarem disponíveis ações com crianças e adolescentes que promovam a gestão e autorregulação das emoções, a resolução de problemas, a autoconfiança“.
A nível familiar, o estudo revela que, apesar de a situação ter melhorado nos últimos anos, apenas 22,5% das mães dos adolescentes têm um curso superior (e 15,5% dos pais). Outra conclusão aponta que 85,5% dos pais e 85,1% das mães têm um emprego. A maioria considera ser fácil falar com os pais, especialmente com a mãe (85,5%) e um quarto dos jovens confessa ter dificuldades em falar com o pai.
De acordo com HBSC, 71,7% vive com os pais na mesma casa. Dos que não vivem com ambos os pais, 36,3% vive com a mãe e raramente ou nunca está com o pai.
Mais de dois terços (68,8%) faz todos os dias refeições com os pais e 34,4% todos os dias toma o pequeno-almoço com os pais. A grande maioria (83,7%) considera que o sítio onde vive é um sítio bom para viver.
Na sequência destes resultados, o estudo destaca a importância de estarem disponíveis na escola, nos locais de trabalho e na comunidade/autarquia ações com as famílias que “promovam o tempo e o convívio em família, a comunicação pais-filhos e, de um modo mais macro, a possibilidade da continuação do aumento da escolarização dos pais e das mães“.