Laura Luelmo tinha 26 anos e era professora numa escola secundária. Dias depois de se ter mudado para a cidade de Huelva, no sul de Espanha, foi dada como desaparecida — o seu corpo só foi encontrado pelas autoridades espanholas na última segunda-feira, dias depois do seu misterioso desaparecimento, a quatro quilómetros da casa que arrendara. O suspeito do crime? O seu vizinho Bernardo Montoya, de 50 anos, condenado e preso no passado por vários crimes.

As autoridades tiveram o apoio de mais de 200 voluntários na procura de Laura, tendo sido um dos voluntários que, ao seguir um rasto de roupas numa zona com mato, descobriu o cadáver num aterro, coberto por ramos de árvores.”Seminua, de cabeça para baixo e com evidentes sinais de violência, incluindo marcas no pescoço e contusões na cabeça”, relata o El Mundo.

De acordo com o jornal, a jovem considerava Montoya um vizinho com mau aspeto que se sentava à porta de casa a observá-la sem pudores. Situação que a deixava desconfortável ao ponto de a comentar com o namorado, com receio de que o vizinho pudesse ser um predador. O El Mundo avança também que Montoya, condenado anteriormente por vários roubos e o homicídio de uma mulher, acabou detido na terça-feira por suspeitas de ligação ao desaparecimento e homicídio de Laura, tendo no dia seguinte confessado ser o autor do crime.

O aviso espalhado para ajudar localizar Laura.

Na sua versão dos acontecimentos, Montoya conta que tudo terá acontecido quando Laura se aproximou de si, sentado num banco à porta de casa, para lhe perguntar qual era o supermercado mais próximo nas redondezas. O homem rapidamente viu uma janela de oportunidade para a apanhar, tendo-lhe dado uma direção falsa, que a conduziu a um beco sem saída onde a encurralou e agrediu. Já inconsciente, depois de lhe bater com a cabeça na bagageira, meteu-a na bagageira do carro e levou-a até ao local onde mais tarde abandonou o corpo. Embora a tenha despido, Montoya disse às autoridades espanholas que a tentou violar, mas não conseguiu por a ver inconsciente. Garantiu ainda que a vítima estava viva no momento em que fugiu do local.

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O relatório preliminar da autópsia de Laura, contudo, contradiz o relato de Montoya. Embora careça de confirmação oficial, dado que a investigação se encontra sob segredo de justiça, o El Mundo avança que tudo indica que Laura foi mesmo sido vítima de agressão sexual, contrariamente ao que o assassino disse às autoridades espanholas durante o interrogatório. De acordo com fontes ligadas à investigação, citadas pela Europa Press, a equipa do Serviço de Criminalística da Guardia Civil está neste momento a analisar provas e vestígios biológicos da vítima, de forma a confirmar a natureza exata do crime.

Esta foi a última publicação de Laura na sua página de Twitter. Nela pode-se constatar que era uma acérrima defensora dos direitos da mulher.

Em 2015, republicou o seguinte ‘tweet’, que diz: “Ensinam-te a não andar sozinha em lugares escuros em vez de ensinarem os monstros a não o ser. ESSE é o problema”

As reações dos alunos e colegas

Para muitos dos jovens que estudavam na escola secundária onde Laura dava aulas, esta situação tem estado a causar alguma comoção, por se depararem com uma realidade que pensavam apenas ver nos filmes e na televisão. Isidoro Romero, diretor do estabelecimento de ensino, contou ao El Mundo como a escola está a viver a morte da professora, que não apareceu mais para dar aulas desde 13 de dezembro.

Diz que no primeiro dia pensaram que não se tratasse de nada grave, mas por ter continuado desaparecida “no dia seguinte, começaram a surgir algumas reações mais nervosas. Alguns professores e alunos começaram a chorar e durante o fim de semana a desesperar”, explicou.

“Na segunda-feira, quando todos já estavam alerta, fizemos uma concentração em nome de Laura. Quando a morte foi confirmada, fizemos novamente uma homenagem, mas a esperança já estava perdida, era mais como uma despedida”, continuou.

Mural feito na escola onde Laura leccionava. — imagem retirada de vídeo publicado pelo El Mundo.

A principal medida que a escola tomou foi o apoio psicológico: “Os psicólogos começaram por falar diretamente com as turmas de Laura. Além disso, estão a ser realizadas sessões individuais com os alunos e professores mais afetados, pois alguns sentem a necessidade de desabafar. Mais tarde faremos também terapias em grupo”, afirmou o diretor.

Isidoro Romero disse ainda que os professores não deram aulas durante segunda e terça-feira e que a escola voltou ao funcionamento normal esta quarta-feira. Reforçou o papel dos professores em tentar explicar a situação de forma cuidada aos jovens, instruindo-lhes que deveriam estar recetivos caso algum aluno quisesse expressar a sua dor, medo ou inquietude perante o acontecimento.

O comunicado da família

A família da professora já divulgou um comunicado no qual agradece o apoio aos que se envolveram nas buscas de Laura e a todos os que participaram nas manifestações de apoio, embora peça que a “dor e o silêncio” sejam respeitados.

“Nossa profunda gratidão a todas as pessoas, voluntários, corpos de proteção e segurança, instituições, amigos, vizinhos e todos aqueles que participaram anonimamente no trabalho de busca e nas demonstrações que fizeram em memória de Laura, prestando a sua ajuda, encorajamento e apoio”, agradeceu a família no comunicado.

Mas, para a família da jovem, neste momento “o mais importante é o esclarecimento dos factos, a justiça que pode vir ser feita e preservar a privacidade de Laura e da nossa família”. Pedem “respeito e compreensão” neste momento “tão doloroso”. Disseram ainda que não desejam fazer qualquer declaração, para além da que escreveram, e que o seu silêncio serve para evitar que sejam espalhados mais rumores que apenas causam dor à família.

Pode ler abaixo o comunicado original na íntegra (em castelhano):

“Estimados amigos:

Desde la familia Luelmo os pedimos el máximo respeto a la memoria, dignidad y honor de Laura. Por eso no vamos a aportar ninguna información que no sea estrictamente oficial y os pedimos que evitéis propagar rumores o bulos no contrastados con fuentes oficiales de la Guardia Civil y/o Policía Nacional.

Asímismo os pedimos colaboración en las redes sociales antes las numerosas cuentas y mensajes que atentan contra la dignidad de Laura y que incitan al odio y a la violencia aprovechando su asesinato. Por ello os rogamos que no contestéis a dichos mensajes ni interactuéis con los perfiles. Denunciad a las redes pertinentes siguiendo los protocolos establecidos y por favor enviad la información a la Policía Nacional y Guardia Civil.

Laura no se merece que perdamos el tiempo con quién no lo merece sino que luchemos porque se haga justicia. Gracias a todos por vuestra colaboración.”