Em política, não há coincidências? Esta quarta-feira à noite, à mesma hora que decorria o jantar de Natal do grupo parlamentar do PSD, protagonizado por Rui Rio, um grupo de deputados e figuras sociais-democratas juntava-se no Campo Grande para um jantar alternativo. O motivo era a despedida do deputado Luís Álvaro Campos Ferreira, que deixou esta quarta-feira o seu lugar na Assembleia da República, mas o grupo que se juntou faz adivinhar muito mais. Miguel Relvas, Luís Montenegro, Luís Marques Mendes, Hugo Soares, Aguiar Branco, Marco António Costa, Matos Rosa, Luís Marques Guedes, Pedro Pinto ou Passos Coelho, além do próprio homenageado, foram alguns dos presentes.

“Foi um jantar de amigos para marcar a despedida do Parlamento do Luís Álvaro”, confirmou ao Observador um dos presentes, sublinhando que o critério de escolha dos convidados foi o da “amizade”, sendo que também estava “muita gente de fora da política”. Coincidência ou não, acontece que os amigos de Campos Ferreira — que até foi apoiante de Rui Rio nas diretas de janeiro –, são alguns dos maiores críticos da atual direção do partido, a avaliar pelos nomes que se juntaram à volta da mesa. E, coincidência ou não, o jantar calhou no mesmo dia do tradicional jantar de Natal do PSD, que junta deputados e funcionários do grupo parlamentar ao presidente do partido e membros da direção que não têm assento parlamentar.

Campos Ferreira já tinha anunciado que iria sair do Parlamento até ao fim do mês, e vários foram os deputados que notaram a ausência de uma palavra de despedida no discurso de 40 minutos de Rui Rio. “Esqueceu-se de deixar uma palavra ao deputado que saía ontem do parlamento e que foi seu apoiante”, notou uma fonte. O jantar decorreu no restaurante Jockey, no centro hípico de Lisboa, no Campo Grande, ponto de encontro habitual dos críticos de Rio.

Um infiltrado: vice de Rio também foi ao jantar

Os deputados que marcaram presença no jantar de despedida, contudo, não deixaram de estar presentes no restaurante da Assembleia da República para ouvir o discurso do líder da bancada e do líder do partido. Terminados os discursos, saíram. Foi o caso de Campos Ferreira, Hugo Soares, José Pedro Aguiar Branco ou Marco António Costa. E de Castro Almeida… o vice de Rio que foi aos dois eventos.

É que além do clube dos críticos, o jantar “de amigos” tinha também um infiltrado: Manuel Castro Almeida, um dos vices de Rui Rio que jantou na mesa de honra ao lado de Rui Rio mas depois não deixou de passar no jantar de despedida do amigo. Então porque é que o jantar não aconteceu noutro dia? “Era a única data em que dava para conciliar agendas”, disse ao Observador um dos presentes.

Eleito por Viana do Castelo, Luís Álvaro Barbosa de Campos Ferreira era deputado há cinco legislaturas (desde 2002), com uma interrupção durante o tempo em que foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do anterior Governo PSD/CDS-PP liderado por Passos Coelho. No PSD, já foi vice da bancada e secretário-geral adjunto do partido durante a liderança de Durão Barroso. Quando anunciou que iria renunciar ao cargo de deputado, no início de dezembro, Campos Ferreira justificou a saída com motivos pessoais e um novo desafio profissional, garantindo que se manteria no PSD e que não estava em causa uma rutura com a atual direção.

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