A aventura de Marcelo Bielsa no Leeds United, do Championship (segundo escalão inglês), tem sido tudo menos uma passagem aborrecida e os últimos quatro dias são exemplo paradigmático disso mesmo: no dia 23, na sempre complicada deslocação ao terreno do Aston Villa, a equipa já perdia por 2-0 aos 17′, empatou com dois golos quase de rajada no segundo tempo e venceu já depois do minuto 90 com o 3-2 apontado por Kemar Roofe; depois veio o descanso, o Natal, o regresso aos jogos em casa e nova situação de desvantagem com o Blackburn Rovers, invertida com um bis do mesmo Roofe nos descontos (3-2). El Loco pode ser um dos treinadores mais excêntricos da atualidade mas sabe o que faz e mantém-se na liderança isolada.

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“Ele fez-nos melhores jogadores. Além disso, a forma de trabalhar com os adjuntos é muito importante. Se diz para colocar um cone a dez metros e o colocam a 11, pode ser que não sejam chamados para a próxima viagem da equipa. Têm de trabalhar muito bem durante a semana para poderem viajar. Com os jogadores é igual. No primeiro encontro da época, um particular, fomos apenas com um médico. Não levámos adjunto, nada. Nem sequer uma pessoa que falasse francês. Tudo porque não fizeram bem o trabalho”, contou esta semana Mendy, lateral do City que trabalhou com o argentino no Marselha.

As excentricidades do técnico que, após as passagens pelas seleções da Argentina e do Chile, regressou à Europa e comandou Athl. Bilbao, Marselha, Lazio e Lille, são muitas e conhecidas. Também desde que chegou a Inglaterra deixou a sua marca: entre outros exemplos, pediu ao clube para lhe colocar uma cama e uma cozinha no centro de treinos, para poder pernoitar por lá; tem uma obsessão pelo tamanho da relva nos campos de jogo e treino; obriga os jogadores a pesarem-se todos os dias; e faz alguns treinos contra… pinos. E era apenas a quarta opção dos responsáveis do clube, atrás dos italianos Antonio Conte e Claudio Ranieri e do espanhol Roberto Martínez. Acabou por ser o escolhido, tornando-se o manager mais caro de sempre.

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Há ainda assim pontos em comum entre as passagens, nomeadamente a proximidade com os adeptos da equipa. De manhã, antes do treino, tem por hábito juntar os adjuntos e respondem a cartas dos fãs do Leeds, chegando mesmo a telefonar a um fã que o convidou para jantar declinando a oferta mas passando algum tempo a falar ao telefone de futebol com o sobrinho. Justifica essas atitudes com uma questão de estar na vida, a mesma que explicou que tivesse colocado os jogadores na pré-temporada (onde não tiveram nenhuma folga) a apanhar lixo nas ruas circundantes ao centro de treinos durante três horas.

Marcelo Bielsa é louco. Agora, também é generoso

Mais ou menos ortodoxos, os métodos estão a resultar no Leeds United, que somou a sétima vitória consecutiva no Championship e vai terminar o ano no primeiro lugar, tendo nesta altura seis pontos de vantagem sobre o terceiro lugar (só os dois primeiros dão acesso direto à Premier League). Desde que desceu de escalão, em 2003/04, nunca os peacocks tiveram 48 pontos nesta fase da temporada e mantém a racha de triunfos sempre que inaugura o marcador. E tentativas não faltaram porque nesse lapso de 14 anos passaram pelo comando técnico da equipa 17 treinadores. Antes, o Leeds conquistara o último de três títulos em 1992, último ano antes da passagem para Premier League, com jogadores como Eric Cantona, Gary McAllister, Gordon Strachan, Lee Chapman, Rod Wallace ou Gary Kelly sob a liderança de Howard Wilkinson.