O veto do Presidente da República ao diploma do Governo que previa a recuperação parcial do congelamento das carreiras dos professores era “completamente óbvio e evidente”. Para Luís Marques Mendes, que abordou o tema no seu espaço de comentário na SIC, Marcelo Rebelo de Sousa não tinha outra alternativa senão mandar o documento para trásporque “a lei do Orçamento, aprovada na Assembleia da República por todos os partidos menos o Partido Socialista, dizia que o Governo os sindicatos tinham de entrar num novo processo negocial, e o Presidente tinha de respeitar”. “Se [o] promulgasse, estava a afrontar a Assembleia da República”, afirmou este domingo, defendendo que o veto é uma derrota para o Executivo de António Costa.

Marques Mendes considerou ainda que a decisão do Governo de avançar com as negociações com os professores foi precipitada e que se deveu a “erro de análise”. “Acho que o Governo se convenceu de que o Presidente da República era uma espécie de notário, de avalista e que, portanto, assinava de cruz o que vinha [do lado do Executivo]. O Presidente tem apoiado o Governo em muitas ocasiões, mas não é evidentemente um notário ou um avalista”, disse o comentador.

Ainda sobre a questão dos professores, que se arrasta “há imenso tempo”, Marques Mendes defendeu que o problema tem também a ver com um “jogo político-eleitoral”. “Os professores estão a ser usados, e muitas vezes até a ser vítimas”, afirmou o comentador, considerando que os partidos, em especial o PCP e o Bloco de Esquerda, não têm interesse em colocar um ponto final no assunto. Querem “arrastar” o conflito até às eleições legislativas do próximo ano e procurar “captar o voto dos professores descontentes”. Marques Mendes salientou que é preciso encontrar uma solução, e que tanto o Governo como os sindicatos precisam de ceder.

Professores. Sete respostas para perceber o veto de Marcelo

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Marques Mendes abordou ainda a eventual existência de regimes diferentes para a carreira dos professores no Continente, Madeira e Açores, considerando-a inconstitucional. “Não é possível nestas matérias haver dois ou três regimes diferentes, uns professores de segunda e outros de primeira”, disse, defendendo que a situação pode dar origem a “um berbicacho”.

Recandidatura: Marcelo já tem tudo decidido mas não faz anúncio por causa das legislativas

Numa reportagem publicada no Diário de Notícias neste sábado, Marcelo Rebelo de Sousa deixou em aberto a possibilidade de se recandidatar à Presidência da República em 2020. Sobre as declarações do Presidente da República ao jornal, Marques Mendes admitir ter a convicção de que Marcelo já tem tudo decidido relativamente a uma recandidatura. “Só não quer dar um sinal” para não interferir nas legislativas.

“De acordo com a teoria dos equilíbrios políticos, se o Presidente da República anunciasse antes das eleições legislativas de 2019 as sua recandidatura, poderia favorecer uma eleição e até com maioria com António Costa. Porquê? Porque os portugueses não gostam normalmente de colocar os ovos todos no mesmo cesto, e se Marcelo Rebelo de Sousa disser que se vai recandidatar, a ideia de um Presidente de centro-direita fazer um segundo mandato podia ajudar a favorecer o segundo mandato de António Costa, ou seja, de um primeiro-ministro de centro-esquerda”, esclareceu Mendes, explicando assim, do seu ponto de vista, a existência de este “tabu”.

Marcelo hesitante não garante recandidatura em 2020

Durante o seu comentário semanal na SIC, Mendes teve ainda tempo para analisar a mensagem de Natal deixada por Marcelo num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias a 25 de dezembro, que classificou como muito virada para as causas sociais, onde “Marcelo é mais militante e genuíno”. “Ele vive com muita intensidade as causas sociais”, afirmou, deixando a análise política do Presidente para a mensagem de Ano Novo.

Mensagem de Natal: primeiro-ministro foi mais humilde do que habitual

Relativamente à mensagem de Natal do primeiro-ministro, Marques Mendes descreveu-a como “eminentemente política”, de “pré-campanha eleitoral”. “Até anteciparia dizer que ele fez uma espécie de guião do que vai dizer no seu discurso de campanha eleitoral daqui a uns meses”, afirmou o comentador. Do ponto de vista do conteúdo, Mendes descreveu a mensagem de António Costa como muito moderada, sem “esquerdismos, radicalismos” ou “aventurismos”, o que prova que o primeiro-ministro que “obter votos no centro-esquerda, mas também no centro-direita.” O comentador também considerou que Costa foi mais humilde do que é habitual, procurando corrigir os erros do passado. “Significa que ele está atento às políticas que se vão fazendo”, acrescentou.

Com o ano a chegar ao fim, Marques Mendes deixou também algumas previsões para 2019, como o abrandamento da economia mundial, incluindo da portuguesa, um défice “muito, muito próximo do zero” e um segundo mandato para o Partido Socialista, que sairá vencedor das próximas eleições tendo em conta as “sondagens atuais”. “A única grande dúvida é esta: se vai conseguir o seu grande objetivo que é ter uma maioria absoluta. E eu diria que não vai ser fácil, e que já esteve mais perto de a obter”, afirmou o comentador, considerando que o partido tem vindo a “perder gás”.