Domingos Bruges criou uma startup, a Muzzley, que “não correu bem”, conta ao Observador Alexandre Teixeira dos Santos, responsável pela área de investimento da Bright Pixel. E em 2019 decidiu mudar o modelo de negócio: deixou de apostar na plataforma que queria pôr aparelhos eletrónicos a falar uns com os outros e transformou-a na Habits Analytics, que analisa dados com recurso a inteligência artificial. Resultado? A Bright Pixel, que seguia “com interesse” o percurso de Domingos, escolheu a startup com escritórios em Nova Iorque para fazer o seu primeiro investimento nos Estados Unidos da América.

O investimento na Habits Analytics foi de “cerca de 600 mil euros” e, para fechar todos os pormenores, foi preciso esperar sete meses para concluir a operação. Esta aposta da Bright Pixel vai permitir abrir portas a outros investimentos no país, explica o investidor, mas, neste caso, o ADN português da Habit Analytics ajudou bastante. “Cada vez mais vamos ver empresas assim [com forte presença portuguesa]”, defende o investidor da Bright Pixel.

Bright Pixel. Nasceu uma nova fábrica de startups

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Enquanto a Muzzley era uma startup “muito virada para o consumo”, a Habit Analytics foi adaptada para fornecer dados a clientes empresariais, como seguradoras. Passou de um modelo de negócio de “B2C” [“Business to Consumer”, no qual a transação digital é direta entre a empresa e o consumidor] para “B2B” [“Business to Business”, no qual se disponibiliza o produto e os clientes são as empresas], explica Domingos Bruges.

Domingos Bruges estava a frequentar o programa de aceleração da Techstars nos EUA , quando conheceu Sasha DeWitt, com quem fundou a Habit Analytics e que tem sido “grande responsável pela expansão nesta região”.

O renascimento da startup foi como uma espécie de fénix (pássaro mitológico que morre e renasce das cinzas). “Sim, podemos dizer que sim”, ri-se Domingos, ao telefone de Nova Iorque. Que as startups falham, é um facto, mas há quem não perca tempo em voltar a arriscar e foi isso que o empreendedor, que agora divide o tempo entre Nova Iorque e Lisboa, fez, aproveitando o conhecimento que já tinha adquirido com a Muzzley.

A Muzzley era um empresa de IoT [Internet das Coisas] e foi necessário reestrututar. Era fundador e diretor tecnológico e passei a presidente executivo. Adquirimos a Muzzley. Fizemos [com a Sasha] o buyout (comprar a empresa por completo) e reestruturou-se a operação”, conta Domingos Bruges.

Com esta reestruturação, a empresa manteve-se nos EUA. A sede é no Delaware, como é comum na maioria das empresas no país (o Estado tem legislação que cativa muito as empresas e chega a ser comparado a um paraíso fiscal), mas os escritórios são em Nova Iorque. Contudo, a equipa de desenvolvimento funciona em Lisboa. “Temos bastante experiência em Portugal”, afirma o empreendedor, dizendo também que, no futuro, a base de desenvolvimento do produto vai continuar no país.

A Habit Analytics, atualmente, já tem clientes como a seguradora Allianz. O software desenvolvido pela Muzzley para IoT foi adaptado e, agora, permite a estas empresas “ter informações muito mais precisas sobre os clientes”, explica Alexandre Teixeira dos Santos. Nesta ronda de investimento, a Bright Pixel, fundada por Celso Martinho, ex-diretor do Sapo e que tem como objetivo investir em projetos tecnológicos “em fase prematura”, não foi a única a participar. Ao todo, a Habit Analytics angariou 1,8 milhões de euros, de fundos como o “Partnership for New York City”, que investe em empresas que operam em Nova Iorque, entre outros.

Para a portuguesa Bright Pixel este montante representou “o segundo maior investimento” até à data numa startup. Com este primeiro investimento nos EUA, Domingos Bruges assume que vai continuar a voltar a Portugal, mas vai continuar a passar “dois terços do tempo” em Nova Iorque. Nos “próximos 14 meses”, como conta, o objetivo é continuar a crescer no número de clientes. Já a Bright Pixel, que apesar de investir maioritariamente em Portugal, já apostou em startups em países como Espanha, França e Polónia, assume que vai investir “cada vez mais em startups que não são só portuguesas”.