A marca que mais vitórias e títulos obteve na F1, a italiana Ferrari, juntou no princípio de Janeiro mais uma exposição ao seu museu. Juntamente com a “Driven by Enzo” e “Passion and Legend”, os visitantes passam igualmente a poder visitar “Michael 50”, onde se celebra o 50º aniversário de Michael Schumacher, o piloto alemão que guiou os carros da marca do Cavalino Rampante entre 1999 e 2006, período durante o qual a Ferrari se sagrou seis vezes campeã do mundo de F1.

Os visitantes podem assim, apreciar todos os fórmulas que participaram nos oito campeonatos em que Schumy pilotou para os italianos, na disciplina máxima do desporto automóvel, mas igualmente os dois Ferrari de série em que o alemão participou activamente no desenvolvimento dos modelos, respectivamente o F430 Scuderia e o California. Uma forma de recordar a carreira do piloto que mais vitórias e títulos conquistou na F1, que nunca mais ninguém viu – excepto a família e um restrito grupo de amigos – desde que um acidente de ski lhe provocou grandes danos celebrais em 2013, numa das pistas da estância francesa de Méribel.

Herói ou vilão?

Compreende-se esta fixação da Ferrari – que não vence um campeonato desde 2008 – em Schumacher, pois não só o alemão é de longe o piloto com a carreira mais vitoriosa entre os que já pilotaram para a casa de Maranello, como há uma óbvia sensação de injustiça associada ao facto de um dos melhores pilotos de sempre estar preso a uma cama depois de um dos acidentes mais vulgares nas pistas de ski, em que os praticantes se aventuram pelas zonas entre as pistas, em busca de um pouco de neve virgem onde colocar à prova a sua técnica naquelas condições mais exigentes.

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Mas se Schumacher foi um vencedor, foi também um dos pilotos mais polémicos – se não mesmo o mais polémico – entre os que já militaram na disciplina. E, a provar isso mesmo, está o facto de o alemão ter sido o mais castigado de sempre da F1. Em 1994, conseguiu sagrar-se campeão do mundo depois de se despistar e danificar bastante o seu Benetton com motor Ford contra um muro no GP da Austrália. Se o toque o levaria ao abandono, entregando o título a Damon Hill e à Williams, Schumacher evitou esta realidade esperando por Hill, na volta seguinte, para de seguida atirar literalmente o seu carro já moribundo para cima do seu rival e, ao levar ambos à desistência, sagrar-se campeão, uma vez que antes da derradeira prova da época liderava com um ponto de avanço. Isto num campeonato em que Schumacher já tinha sido desclassificado em duas corridas e banido noutras tantas.

Depois de ter alcançado o sucesso em 1994 com uma clara transgressão, que a FIA deixou passar, o piloto alemão repetiu a estratégia em 1997, já na Ferrari, tentando atirar para fora da pista o seu rival Jacques Villeneuve, seu principal adversário na corrida para o título. Só que dessa vez teve menos sorte – ou jeito – e, ao atirar-se para cima de Villeneuve, estragou mais o seu carro do que o do canadiano, entregando o título ao piloto da Williams. Mais uma vez a organização do GP fez vista grossa à habilidade de Schumacher. Mas a FIA, talvez com o amargo de boca do que não fez em 1994, duas semanas depois decidiu desclassificar o alemão da prova e de todo o campeonato de 1997, com Schumacher a poder exibir outro título no seu invejável palmarés: o do primeiro piloto banido de toda uma época, em virtude da sua conduta imprópria em pista.

No GP do Mónaco de 2006, Schumacher detinha a pole position a poucos minutos do final dos treinos cronometrados, mas como antecipou que Alonso no Renault poderia bater o seu tempo na última tentativa, o alemão resolveu recorrer a mais um truque que garantisse os seus objectivos. Mesmo que de forma duvidosa. Simulou uma saída de frente, mas sem bater nos rails de protecção – para não estragar o carro, uma vez que necessitava dele em boas condições no dia seguinte –, o que levou a bandeiras amarelas, impedindo os restantes pilotos de melhorarem os seus tempos, ficando ele na frente no arranque para um GP onde as ultrapassagens são sempre muito complicadas. Sucede que os comissários pediram para analisar a telemetria do Ferrari do alemão, após a qual concluíram que o despiste fora simulado, castigando-o ao relegá-lo para a última posição a grelha.

Em 2010, já na Mercedes, Schumy voltou a ser penalizado no mesmo GP do principado por outra manobra ilegal, que lhe retirou a vitória, para nesse mesmo ano a FIA o punir novamente no GP da Hungria, ao considerar que recorreu a uma manobra perigosa, para tentar evitar (sem sucesso) ser ultrapassado pelo Williams de Rubens Barrichello, penalizando-o com 10 lugares na grelha para o GP seguinte. Obviamente uma carreira de sucesso, mas com muitas marcas negras, o que faz de Schumacher o piloto mais castigado de sempre na F1, em paralelo com o que detém o maior número de títulos.