O novo anúncio da marca de produtos de barbear Gillette está a causar polémica. Com um minuto e 48 segundos de duração, aborda a masculinidade tóxica, o assédio sexual e o movimento #metoo e suscitou vários ataques de figuras públicas nas redes sociais, noticiam esta terça-feira o jornal britânico The Guardian e a cadeia de televisão norte-americana CNN.
O anúncio começa com um pergunta aos espetadores: “Este é o melhor homem que consegue ser?”. Segue-se uma série de episódios do quotidiano que ilustram situações de sexismo, machismo ou assédio sexual, numa alusão aos casos denunciados pelo movimento #metoo.
No final, e com o slogan “Porque os rapazes que vemos hoje serão os homens de amanhã”, há uma sequência de cenas entre pais e filhos, com os pais a ser o exemplo para as crianças, separando-os de lutas ou a serem, simplesmente, carinhosos.
https://www.youtube.com/watch?time_continue=36&v=koPmuEyP3a0
Há quem elogie o anúncio, mas também quem ameace fazer um boicote à empresa, dizendo que se trata de “propaganda feminista” ou que representava um insulto para os homens. Pankaj Bhalla, diretor de marca da Gillette na América do Norte, admite que a ideia era mesmo que os homens possam mostrar o anúncio aos filhos para que se sintam inspirados e saibam como reagir perante um mau comportamento e, sobretudo, que tratem as pessoas com respeito.
Nós esperávamos um debate. Na verdade, a discussão é necessária. Se não debatermos e não falarmos sobre isso, não haverá uma mudança real”, afirma Pankaj Bhalla, diretor de marca da Gillette na América do Norte, em declarações à CNN.
A empresa garantiu ainda que para realizar o anúncio fez questionários a vários homens por todo o país, baseou-se em estudos sobre a masculinidade e falou com especialistas. Confrontado com as críticas apontadas, o diretor de comunicação defendeu que “o anúncio não trata de masculinidade tóxica”, mas pretende transmitir que “o principal inimigo é a inação”.
De acordo com o The Guardian, a publicação norte-americana The New American fez duras críticas à mensagem transmitida pelo anúncio, afirmando que “reflete muitas falsas suposições”, como se todos os homens fossem abusadores ou bandidos violentos, acrescentando que “os homens são o sexo selvagem, o que explica a sua perigosidade mas também seu dinamismo”.
Já o jornalista britânico Piers Morgan diz na rede social Twitter que sempre foi consumidor da marca, mas este anúncio pode afastá-lo para uma empresa concorrente “menos empenhada em alimentar este patético ataque global à masculinidade”.
I've used @Gillette razors my entire adult life but this absurd virtue-signalling PC guff may drive me away to a company less eager to fuel the current pathetic global assault on masculinity.
Let boys be damn boys.
Let men be damn men. https://t.co/Hm66OD5lA4— Piers Morgan (@piersmorgan) January 14, 2019
Outras pessoas criticaram o anúncio por ter sido realizado por uma mulher, a realizadora Kim Gehrig. O comentador político conservador canadiano Ezra Levant escreveu: “Um anúncio de barbear escrito por uma feminista de cabelos rosados é quase tão eficaz quanto um anúncio de tampões escrito por homens de meia idade …”.
Mas há também quem elogie a publicidade e que diga que são necessárias mais iniciativas como esta. “A sério: se a vossa masculinidade fica ASSIM tão ameaçada por um anúncio que diz que devemos ser mais simpáticos, então a vossa masculinidade está errada”, escreveu este utilizador.
The comments under the @Gillette toxic masculinity ad is a living document of how desperately society needs things like the Gillette toxic masculinity ad.
Seriously: if your masculinity is THAT threatened by an ad that says we should be nicer then you're doing masculinity wrong.
— Andrew P Street, The (@AndrewPStreet) January 15, 2019
Fantastic ad and more of this is needed.
Also…seeing "men" boycott Gillette are proving the point of the ad. Way to NOT be the best man you can be, guys. https://t.co/Q4XPqt2NLw
— Cat Staggs ????️???? (@CatStaggs) January 14, 2019
Exploitative? Maybe. Brave and timely? Absolutely. Also, I cried. Well done, @Gillette. #foroursons https://t.co/4hYNcgsxoX
— Emily Andras (@emtothea) January 15, 2019
A empresa comprometeu-se a doar um milhão de euros a associações sem fins lucrativos com programas “projetados para inspirar, educar e ajudar homens de todas as idades a alcançar o seu melhor a nível pessoal e a tornarem-se modelos para a próxima geração”.
No Youtube o anúncio teve mais de 50 mil comentários, 22 mil “likes” e 208 mil dislikes. Ou seja, quase dez vezes mais pessoas do que as que mostraram o seu apreço.