O ministro das Finanças de Theresa May, Philip Hammond, disse numa conversa com líderes de 330 grandes empresas (entre as quais a Siemens, Amazon e a Tesco) que a hipótese de saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo poderá sair de cima da mesa “dentro de dias”. A conferece call — chamada em grupo — juntou Hammond, o ministro da Economia Greg Clark e o ministro para o Brexit Stephen Barclay a responsáveis de algumas das maiores empresas a operar na região. A chamada aconteceu na terça-feira, 15 de janeiro, duas horas depois da proposta de acordo de May para o Brexit ter sido chumbada.
O chumbo da proposta de May para o Brexit foi considerado uma “derrota histórica” da primeira-ministra do país. Devido a uma fuga de informação, gravações da conversa do seu ministro das Finanças com empresários chegaram agora à posse do jornal britânico The Telegraph, que a divulgou esta quinta-feira em primeira mão.
Até aqui a primeira-ministra britânica tem enfatizado sempre que a hipótese de uma saída do Reino Unido da UE sem acordo “é melhor do que uma saída com um mau acordo” e é também melhor do que a realização de um segundo referendo. O primeiro referendo realizou-se a 23 de junho de 2016. Na altura, 51,89% dos votantes decidiram-se pela saída do Reino Unido da União Europeia.
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A rejeição liminar de um “hard Brexit”, isto é, de uma saída unilateral do Reino Unido da UE sem um acordo com os restantes Estados-membros, tem sido uma das exigências do líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, antes de se sentar à mesa com Theresa May. Ainda esta quarta-feira, 16 de janeiro, dia em que apresentou e viu chumbada uma moção de censura ao Governo, o líder trabalhista afirmou: “Antes que possa haver quaisquer discussões positivas sobre o caminho para a frente, o Governo tem de afastar de uma vez por todas a catástrofe de um cenário em que não há um acordo”.
Curiosamente, esta quinta-feira, dois dias depois da conversa de Philip Hammond com responsáveis das grandes empresas em que admitia que dificilmente acontecerá qualquer saída sem acordo (algo que preocupa estes empresários), Theresa May mantém-se publicamente intransigente em não recusar à partida essa opção unilateral. O Governo britânico continua a ver nessa hipótese um enfranquecimento da sua margem negocial com a UE, como aliás confirmou Caroline Lucas, do Partido Verde, que reuniu com May na manhã de quinta-feira: “Pedi-lhe repetidamente que tirasse a hipótese de saída sem acordo fora da mesa porque acho que inquina totalmente as negociações saber que a beira do penhasco está ali e é possível”.
A deputada disse ainda que May está a resistir à opção de alargar o prazo do artigo 50º, que prevê a saída do Reino Unido da UE até ao dia 29 do próximo março. Contudo, a julgar pela conversa de Hammond divulgada pelo The Telegraph, os membros do seu Governo não só não acreditam na hipótese de saída sem acordo (veem-na como hipótese teórica que não se materializará) como não parecem descartar à partida uma extensão do prazo para a saída.
O que disse o Ministro das Finanças: “Não podemos ter uma saída sem acordo”
Sobre a possibilidade de uma saída sem acordo, o Ministro das Finanças britânica não poderia ter sido mais claro: segundo refere o jornal britânico, após acesso à gravação, Hammond até disse que o Governo parará de gastar dinheiro a preparar um cenário de saída unilateral assim que souber que não vai por esse caminho, mas lembrou que “há uma larga maioria na Casa dos Comuns que se opõe a uma saída sem acordo em quaisquer circunstâncias”. O Ministro foi sempre abertamente contra essa hipótese. Porém, nunca tinha previsto que esta pudesse deixar de ser sequer considerada dentro de dias.
O Ministro de May lembrou ainda que vai ser votada em breve uma proposta para estender o Artigo 50º que deverá ter apoio do Parlamento britânico, servindo de “barreira final” à hipótese de “uma saída sem acordo”.
A conversa revela “a proximidade da relação entre o Tesouro e alguns dos grandes operadores de negócios do Reino Unido, e o modo como eles parecem trabalhar no sentido de bloquear uma saída ‘dura’ do Reino Unido da UE”, refere o jornal. E “aumenta as suspeições de que o sr. Hammond tem estado a orquestrar tentativas para suavizar o Brexit” e as condições de saída, continua o The Telegraph.