“É óbvio que não”. Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, garantiu esta segunda-feira no programa “Tudo é economia”, da RTP3, que nunca facilitou a concessão de créditos durante o período em que esteve na administração da Caixa Geral de Depósitos. As declarações chegam depois de ser divulgado o relatório preliminar da auditoria forense à CGD, que indicou que o banco perdeu 1.200 milhões de euros em crédito de risco e que foram concedidos créditos a grandes devedores que tinham sido recusados inicialmente.
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Entre a informação divulgada pelo jornal online Eco está uma lista de 64 dos 200 grandes devedores. O relatório de auditoria forense ao banco público revela que no período entre 2007 e 2012 — apanha as administrações lideradas por Carlos Santos Ferreira e Faria de Oliveira — e só neste período, já que a análise da consultora e auditora EY abrange o período desde 2000, a Direção de Risco do banco público recusou cerca de 7% das operações de crédito a grandes devedores que depois acabaram por ser concedidos com o visto bom da gestão da Caixa. “Não vou falar sobre esse assunto, mas é óbvio que não”, respondeu Faria de Oliveira quando questionado sobre se alguma vez tinha facilitado a concessão de créditos.
Os conselhos de crédito abrangem um número muito grande de pessoas, muito elevado de pessoas, os assuntos são discutidos, toma-se uma decisão final e, que eu me lembre, nunca houve uma declaração de voto, mesmo da área de risco, em relação às decisões tomadas”, acrescentou Faria de Oliveira em declarações à RTP3.
Com base no relatório que revela os créditos concedidos pela Caixa Geral de Depósitos a grandes devedores, entre 2000 e 2015, sem que fossem cumpridas as regras internas, o jornal online Eco adiantou que a CGD perdeu 1.200 milhões de euros em créditos de risco. Segundo o Expresso, a CGD também reconheceu perdas de 580 milhões de euros relacionados com sete financiamentos concedidos à margem das “boas práticas na concessão de crédito”. Estas sete operações dizem respeito a devedores como a Artlant (a fábrica da ex-La Seda em Sines), Joe Berardo (através da Fundação Berardo e da holding Metalgest), a Birchview e a QDL (protagonistas do projeto de Vale do Lobo), a Investfino e a Finpro.
Faria de Oliveira disse ainda está contra a forma como está formulada a lei que obriga à divulgação dos grandes devedores dos bancos com ajuda estatal, afirmando que esta é uma lei que “não existe em mais nenhum outro país da Europa”. “Pode pôr em causa os bancos visados, na medida em que se se quebrar esta relação de confiança entre clientes e bancos, pode haver manifestamente uma tendência para procurar outro banco que não seja visado pela lei”, disse.
O presidente da APB, aliás, disse que não se oporia à lei se os deputados e funcionários do parlamento que têm acesso à informação fossem obrigados a seguir as mesmas regras de sigilo bancário.
“A haver esta iniciativa, deveria confinar-se às comissões parlamentares de inquérito, desde que os deputados e os trabalhadores com acesso à documentação seguissem as mesmas regras de sigilo bancário que são cumpridas pelos funcionários bancários, pelo regulador e pelo Fisco. Se isso fosse assegurado, nós não teríamos qualquer objeção, desde que houvesse proporcionalidade e verdadeiro interesse na obtenção da informação”, ressalvou.