A 14 de maio de 1997, Sir Bobby Robson levava o Barcelona à conquista da quarta Taça das Taças da história do clube catalão. Dois dias antes de Figo, Baía, Guardiola, Ronaldo e companhia baterem o PSG na final de Roterdão, nascia Frenkie De Jong na pequena cidade holandesa de Arkel. Ora, entre Arkel e Roterdão existe uma distância de apenas 36 quilómetros. E entre De Jong e o Barcelona existe agora uma distância de apenas seis meses. Os catalães anunciaram esta quarta-feira a contratação do médio holandês, até aqui a jogar no Ajax e uma das principais atrações deste mercado de inverno. Com 21 anos, De Jong custou 75 milhões de euros aos cofres blaugrana (mais 11 milhões em variáveis) e junta-se ao plantel comandado por Ernesto Valverde – ou de outro técnico, o futuro logo dirá – a partir do dia 1 de julho de 2019.

A transferência de De Jong do Ajax para o Barcelona teve cinco atores principais: Josep Maria Bartomeu, presidente dos catalães; Marc Overmars, antigo jogador do Barcelona e atual diretor desportivo do Ajax; Ali Dursun, o agente do jogador; Antero Henrique, diretor desportivo do PSG; e John de Jong, o pai de Frenkie. Ora, Bartomeu envolveu-se diretamente na operação e viajou pessoalmente até Amesterdão, em conjunto com o diretor-geral Pep Segura e o secretário técnico Eric Abidal, para fechar o negócio. O presidente do clube catalão recusava qualquer tipo de falhanço na operação e não queria que uma eventual ida de De Jong para outras paragens fosse interpretada como um tiro sem pólvora do Barcelona, encarregando-se assim das principais comunicações com o médio e com o agente e assumindo o dossier como seu.

Marc Overmars, antigo extremo holandês que representou o Barcelona entre 2000 e 2004, aconselhou De Jong e foi um dos principais aliados do clube de Messi, já que contou ao jovem jogador que os holandeses têm uma longa tradição na Catalunha e o futebol holandês e a filosofia atacante tão característica do país encontram em Camp Nou um perfeito match. Afinal, De Jong é já o oitavo jogador contratado pelo Barcelona ao Ajax (numa lista que inclui Cruyff e Neeskens) e o vigésimo holandês a representar o clube (numa lista que inclui ainda Koeman, atual selecionador do médio na seleção holandesa). E se Ali Dursun teve um papel óbvio, já que é o representante do jovem médio, Antero Henrique foi o intermediário que tentou desviar De Jong para o PSG – numa operação falhada que, segundo o jornal Marca, está a colocar em risco o lugar do português em risco no clube francês. Por fim, o pai do jogador nunca escondeu que queria que o filho se mudasse para Barcelona e chegou a admiti-lo recentemente numa entrevista, quando disse que existia “uma possibilidade de 95% de deixar o Ajax e o Barcelona seria a melhor decisão”. “Ele precisa de decidir mas é um rapaz inteligente”, garantia, na altura, John De Jong.

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O médio de 21 anos realizou toda a formação no Willem II e chamou a atenção do Ajax na temporada 2014/15, quando se estreou no Campeonato holandês com apenas 18 anos, acabando por assinar pelo clube de Amesterdão. Depois de cumprir 15 jogos pela equipa B dos lanceiros, acabou por ser emprestado ao clube de origem e ainda esteve presente nos últimos dois encontros da temporada. No ano seguinte, regressou do empréstimo e tornou-se titular indiscutível da segunda equipa do Ajax, com 31 jogos e seis golos, sendo chamado por Peter Bosz ao plantel principal em 11 ocasiões, incluindo na final da Liga Europa de 2017 que os holandeses perderam com o Manchester United de José Mourinho por 2-0. A época passada foi a primeira em que De Jong esteve a tempo inteiro na equipa principal do Ajax e foi pela mão do treinador Erik ten Hag que o médio adquiriu e aprimorou as polivalências que atraíram o Barcelona.

Médio por natureza e defesa central por necessidade, Frenkie De Jong jogou grande parte da época 2017/18 no eixo da defesa. Este ano, com a chegada do ex-Manchester United Daley Blind, conseguiu soltar-se da linha defensiva e partir para terrenos mais avançados, funcionando como a ligação entre a defesa e o ataque e sempre mais descaído na esquerda. Erik ten Hag tem apostado na qualidade ofensiva de Nicolás Tagliafico, lateral esquerdo argentino, que normalmente sobe no relvado pelo corredor lateral para apoiar as investidas atacantes – a multiplicidade de soluções que De Jong oferece permitem ao treinador envolver Tagliafico por completo no fluxo ofensivo, já que o jovem holandês é exímio a completar a dobra e ocupar o espaço do lateral no bloco mais recuado. Sem ser tremendamente rápido, ganha normalmente muitas bolas por antecipação e graças a uma visão de jogo acima da média, que coloca em prática tanto nas transições defensivas como quando procura espaços e profundidade para lançar o ataque. Normalmente posicionado um passo atrás da linha do meio-campo, é o líder da primeira fase de pressão que obriga o adversário a jogar para trás e ganha tempo para a equipa se reposicionar nas costas.

De Jong entre Jonas e Cervi, no jogo entre o Ajax e o Benfica no Estádio da Luz, a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões

Certinho a defender e perigoso a atacar, De Jong mostra dentro das quatro linhas uma confiança que está muito para lá dos 21 anos que apresenta no documento de identificação. A forma como recebe e protege a bola e se lança em situações de um para um apanha os adversários normalmente desprevenidos – como o Benfica pode testemunhar, já que os encarnados jogaram uma dupla jornada com o Ajax na fase de grupos da Liga dos Campeões. Em 65 jogos com os holandeses, De Jong tem seis golos, dez assistências e é exímio no passe, com 93% de dribles completos e entrada direta no top 20 de jogadores com mais passes completos na presente edição da Champions (412, que equivale a um taxa de sucesso de 91%).

Frenkie De Jong, produto da formação do Willem II, tem já cinco internacionalizações pela seleção holandesa e faz parte de uma nova geração laranja que tem também depositadas em De Ligt, Van de Beek, Fosu-Mensah e Justin Kluivert as esperanças numa renovação e num regresso à alta roda dos Europeus e dos Mundiais, de onde a Holanda anda afastada há alguns anos. Virgil van Dijk, central holandês que se tornou o defesa mais caro da história ao assinar pelo Liverpool em janeiro do ano passado – e também ele produto das escolas do Willem II –, felicitou o compatriota no Twitter e afirmou que a transferência foi “bem merecida”. “Acho que o Willem II se saiu bem”, brincou Van Dijk.