Os próximos dias serão difíceis para os norte-americanos. Durante a noite de terça para quarta-feira, mas sobretudo na quinta-feira, espera-se que as temperaturas mínimas continuem a cair, atingindo valores inéditos na história dos Estados Unidos. Há já quem descreva o ar gelado, que está a ser trazido do Pólo Norte por um fenómeno anormal, como “o mais frio desta geração”.

Em Chicago, uma das regiões mais afetadas pelo chamado “vórtice polar”, poderão ultrapassar os -30º até quinta-feira. A sensação térmica poderá rondar os -50º, mas no Minnesota será ainda superior, podendo atingir perto de -60º. No North Dakota, onde as autoridades lançaram um apelo para que ninguém pense em viajar, também deverá ultrapassar os -50º.

-57º nos EUA: esta quarta-feira, vai estar mais frio no Minnesota do que na Antártida

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De uma forma geral, as autoridades aconselharam a população a manter-se dentro de casa. Mas nem todos se podem dar ao luxo de passar a noite em frente a uma lareira. Em Chicago e outras cidades do Midwest, os sem-abrigo, que muitas vezes recusam lugar nos abrigos, são a principal preocupação dos responsáveis locais. Muitos agricultores planeiam também passar as próximas noites acordados para garantir o bem-estar dos seus animais. O frio é extremo, e o pior ainda está por vir, garantem os meteorologistas norte-americanos.

Sem-abrigo tentam angariar dinheiro para passarem noite num motel: “Tenho frio e tenho medo”

No oeste dos Estados Unidos, uma das regiões que o “vórtice polar” irá atingir com mais força, as associações de apoio aos sem-abrigo estão inquietos com a situação de quem passa as noites na rua. “Ninguém devia estar na rua com este tempo”, afirmou ao The New York Times Lisa Morrison Butler, comissária do Departamento da Família da cidade de Chicago, onde se estima que existam 80 mil pessoas nestas condições.

Rahm Emanuel, presidente da Câmara de Chicago, garantiu que ninguém ficará. “Ninguém será recusado”, afirmou. Bibliotecas, esquadras da polícia e centros comunitários foram transformados em abrigos para os mais necessitados, ao mesmo tempo que equipas de trabalhadores vão tentar convencer os sem-abrigo a saírem da rua.

Tony Neeley costuma passar as noites na baixa de Chicago mas, tendo em conta as temperaturas baixas, espera conseguir angariar dinheiro suficiente para dormir num motel. “Tenho frio e tenho medo”, disse ao The New York Times, explicando que um abrigo está fora de questão. “Muitos de nós não vão para abrigos por causa dos percevejos, porque somos roubados e porque muitas vezes nem sequer podemos dormir lá. Mas os meus pés estão frios e estas roupas são tudo o que tenho”, admitiu.

Um outro sem-abrigo, que o jornal norte-americano encontrou na Michigan Avenue, também em Chicago, onde se espera que as temperaturas sejam inferiores aos -28º, explicou que precisava de 20 dólares para pagar um quarto que conseguiu arranjar para passar a noite. Andre Jones teve mais sorte do que Tony Neeley, que terá de angariar 45 dólares. “Tenho quase dinheiro suficiente para esta noite”, disse ao The New York Times. “Acreditem em mim, vou conseguir. Não dá para ficar na rua.”

Frio em Chicago “é uma sensação de morte, terrível”

Ana Paula Leite, uma portuguesa que vive nos arredores de Chicago há quatro anos, contou à TSF como tem lidado com o frio extremo. “É uma sensação de morte, terrível“, afirmou, frisando que a principal preocupação da população é o vento que “traz a sensação” de -30º. Esta semana tem sido particularmente difícil de suportar.

De acordo com Ana Paula Leite, as autoridades estão a aconselhar a população a ficar em casa. Os passeios devem ser “muito reduzidos”. Para “quem tem de se deslocar de carro aconselham a levar cobertores”, referiu ainda.

Agricultores constroem iglus para galinhas e passam noite em branco para tratar de animais

No norte dos Estados Unidos, os agricultores tentam lidar com o frio extremo como podem. Alguns planeiam construir iglus para as galinhas, como refere a Reuters, e outros esperam que aumentar a quantidade de ração seja suficiente para manter os animais vivos.

Foi o que fez uma das maiores produtoras de carne de suíno do Iowa. Ron Prestage, presidente da empresa, explicou à mesma agência de notícias que começou a reforçar o stock de alimentos na passada sexta-feira. “Quando está frio, comem mais”, afirmou, explicando que as linhas de água também vão ser uma preocupação quando as temperaturas ficarem ainda mais baixas. “É preciso planear com antecedência.”

Lynn Ankney, de Chicago, decidiu usar o tempo a seu favor e construir iglus para as galinhas com o gelo acumulado nos últimos dias para criar isolamento extra. Ela e a família vão reforçar a atenção dada aos animais nos próximos dias, tal como Joey Myers e Scott Bailey.

Os criadores de gado de Minot, no estado do North Dakota, onde se espera que as temperaturas cheguem aos -28º, passaram a noite de terça para quarta-feira acordados para garantirem o bem estar dos animais. O celeiro aquecido que têm na sua propriedade não é suficientemente grande para todas as vacas e, por isso, têm de manter os bezerros recém-nascidos debaixo de olho. Pretendem fazer o mesmo nas próximas duas noites, ou enquanto o frio extremo durar, explicaram à Reuters.