Um estudo diz que os veados podem ajudar a prevenir incêndios ou, pelo menos, impedir que estes sejam tão intensos. Estes animais comem os arbustos que crescem nas florestas, tornando assim os solos mais limpos. Deste modo, é mais difícil que as chamas se propaguem. Quando os arbustos são baixos, o fogo é rasteiro, e por isso queima apenas a parte debaixo do tronco das árvores e não a copa.

Os autores do estudo, publicado no Journal of Applied Ecology, são do Instituto Superior de Agronomia (ISA), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e da Universidade de Stanford, na Califórnia. Miguel Bugalho, do ISA, sublinha que preservar as florestas ajuda as árvores a reter carbono, essencial para o equilíbrio do ecossistema.

A investigação demorou 14 anos e consistiu em analisar dois tipos de terreno em Vila Viçosa, no Alentejo. Cinco parcelas de terreno estavam vedadas aos veados e outras cinco davam livre acesso aos animais. As parcelas tinham sobreiros, azinheiras e estevas. As conclusões mostraram que nas zonas do terreno às quais os animais tinham acesso a vegetação crescia menos. Ou seja, nas áreas onde há veados, a probabilidade de haver grandes incêndios é menor. “A intensidade do fogo e a altura da chama [onde os arbustos são mais baixos] é significativamente mais baixa”, afirma Miguel Bugalho.

Este estudo confronta outras investigações, que defendem que os veados são prejudiciais para o desenvolvimento da flora natural, por danificarem a vegetação com as hastes, pelo domínio territorial ou na altura do cio.  O investigador diz que “normalmente, os veados não são muito compatíveis com a regeneração da floresta, mas, como eles também consomem os arbustos, até estão a contribuir para a sobrevivência das árvores adultas”.

Não é possível fazer uma correlação direta entre as zonas com mais veados no país e as zonas com mais vegetação (e, potencialmente, com mais risco de incêndio). Mas o investigador diz que os animais tendem a procurar as áreas com mais vegetação, por serem ricas em alimento e fornecerem abrigos. Miguel Bugalho afirma que as reservas naturais e as associações de caçadores têm tido um papel essencial na propagação das espécies de veados. As associações fazem planos e caça controlada e criam as condições necessárias para a preservação do habitat natural dos veados. O investigador acrescenta ainda que “o controlo que se faz é gerindo o habitat dos veados. Por exemplo: colocando pontos de água que eles possam utilizar, fazendo pastagens onde eles possam comer, e fazendo a caça de forma controlada, para que a população se mantenha”.

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