O jogo do passado sábado, dia 2 de fevereiro, entre o Reading e o Aston Villa, a contar para a 30ª jornada do Championship inglês — o equivalente à nossa Segunda Liga — não ficará na memória pelos melhores motivos para os adeptos portugueses. Além de ter terminado empatado a zero, a imagem que marcou a partida foi portuguesa e por motivos menos felizes. Numa disputa de bola ao minuto 73′, Nelson Oliveira, jogador do Reading, foi pisado na cara por Tyrone Mings. O resultado foi o que se pode ver na foto.

Nelson saiu de imediato de jogo e seguiu para o Royal Berkshire Hospital, ao contrário daquilo que se costuma ver em alguns casos destes, em que o jogador é suturado fora de campo pela equipa médica do clube. Só que desta vez não bastariam alguns pontos. Nelson Oliveira teve mesmo de ser operado à face para reconstruir aquilo que foi magoado. Esteve quase três dias internado, regressando, com nova cara, no dia 4, e deixando uma mensagem na sua conta pessoal da rede social Instagram, que pode ler abaixo.

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“Finalmente em casa… Quero agradecer a toda a equipa médica do Reading FC e ao Hospital Royal Berkshire, que me ajudaram brilhantemente durante estes dias difíceis. Não tenho palavras para dizer o quão grato estou. Obrigado a todos os que me enviaram mensagens a partilhar o vosso amor e apoio, que certamente vão ajudar-me para regressar mais forte. Um obrigado especial para a minha adorável e bela esposa por estar sempre comigo em todos os momentos. Até breve”, escreveu o futebolista no seu perfil, sendo nítidas as marcas que ficaram na face.

Quem é Tyrone Mings, o homem que olhou nos olhos de Zlatan?

Tyrone Mings é defesa-central – com algumas adaptações à ala-esquerda. Inglês, mas com dupla nacionalidade por Barbados, joga atualmente no Aston Villa, por empréstimo do AFC Bournemouth. Aliás, o jogo do incidente com Nelson foi mesmo o seu primeiro com a camisola dos Villans.

É preciso dizer que o ato de Mings parece ser involuntário. O próprio jogador já pediu desculpa publicamente, como se pode ver no tweet abaixo (“As maiores desculpas para o Oliveira, espero que ele esteja bem“). Na mesma rede social, respondendo a outro tweet, disse também que “ninguém se sente pior do que ele pelo sucedido“. No momento da lesão foi igualmente o primeiro a alertar o árbitro Geoff Eltringham sobre o sucedido.

Porém, o jogador inglês não é virgem neste tipo de situações. Já tem um histórico. Apesar de nunca ter visto um único cartão vermelho na carreira, ficou conhecido no mundo do futebol por um caso semelhante ao de Nelson Oliveira. No dia 4 de março de 2017, na visita do AFC Bournemouth a Old Traford, para defrontar o Manchester United, Tyrone Mings pisou Zlatan Ibrahimovic na cabeça, igualmente numa disputa de bola. O avançado sueco não ficou tão maltratado como o português, mas, e como é seu habitual, não “se ficou” e respondeu minutos depois com uma cotovelada na face de Mings. Veja os lances e compare com a situação do português.

Quais os castigos de Mings para estes lances?

Talvez seja melhor corrigir a pergunta. Nesta equação só existe singular, visto que, nas duas situações, Mings só recebeu castigo numa delas. A primeira, com Zlatan. Na altura, o jogador inglês recebeu uma suspensão de cinco jogos, enquanto que o avançado do Manchester United recebeu “apenas três”. Desta vez, com Nelson Oliveira, Mings não recebeu nem irá receber qualquer sanção.

O anúncio foi feito pela Federação Inglesa de Futebol (FA), que justificou a decisão devido ao facto de o lance ter sido visto pelo árbitro no momento, o que impede a tomada de qualquer decisão posterior. Na situação de Mings com Zlatan, foi possível abrir um processo por parte da FA, visto o árbitro da partida não ter assistido aos dois lances. O Reading, clube de Nelson Oliveira, já reagiu, dizendo, num gesto de fair-play, que compreende a justificação.

Quem também reagiu à situação foi o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, que, em comunicado enviado à imprensa, diz que “este episódio não deixa de preocupar o Sindicato, quer pelas marcas da lesão que permanecerão, quer pela brutalidade da agressão, que não pode suceder no futebol profissional“. A instituição já falou com a FA para obter esclarecimentos e sugerir recomendações para evitar lances destes dentro de campo.