Com a quantidade de informação disponível na Internet, nomeadamente através das redes sociais e outras plataformas, é cada vez mais complicado filtrar aquilo em que se pode confiar. A alimentação e o exercício físico são exemplo disso: com a febre das dietas detox e de conceitos como o de “fitness”, a informação que nos chega não vem apenas de nutricionistas e especialistas no tema, mas também e cada vez mais dos chamados influencers.

A questão não é nova mas adquire outra visibilidade quando o alerta chega pela voz de altos responsáveis. A título de exemplo, foi recentemente levantada num artigo de opinião no jornal The Telegraph, no qual Stephen Powis, diretor do Serviço Nacional de Saúde de Inglaterra, aponta para o perigo das redes sociais nesta matéria, sobretudo para os jovens — sendo que um em cada quatro diz que a sua aparência é um fator muito importante. Ao tomarem como exemplo as imagens em relação ao corpo e alimentação que são promovidas através das redes sociais, os jovens podem sentir uma ansiedade que “muitas vezes desencadeia outros problemas com pensamentos negativos sobre a sua aparência”. Powis chama a atenção para o papel das celebridades e de plataformas como as redes sociais, que promovem e exploram essa vulnerabilidade ao publicitarem marcas de produtos como chás laxantes, pílulas dietéticas e outras soluções para emagrecer rapidamente.

Podemos olhar para exemplos lá fora: basta aceder à página de Instagram de uma celebridade como Kim Kardashian para nos depararmos com imagens a patrocinar produtos que promovem uma dieta mais rápida do que aquela que é feita à base do controlo alimentar e do exercício físico. Em Portugal esta realidade também não fica de fora, contagiando youtubers, influencers e figuras públicas que trabalham com marcas e utilizam as suas contas oficiais para promover este tipo de produtos, alcançando um grande número de pessoas, sobretudo numa faixa mais jovem. Um exemplo é a conta de Instagram da atriz e blogger Vanessa Martins, com 500 mil seguidores, e na qual podemos encontrar algumas publicações que remetem para empresas de suplementos desportivos, como a Prozis.

A Vanessa Martins juntam-se outras caras conhecidas dos portugueses, como Sofia ArrudaPedro Teixeira, Carolina Patrocínio, Marta Melro e Joana Duarte. Através de um código, que normalmente inclui o nome ou apelido da figura pública, a marca oferece um desconto em determinados produtos.

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Quando é que começámos a preocupar-nos tanto com as dietas?

A receita de uns será válida para outros? Onde termina a confiança e deve começar a dúvida? Como ver além da ilusão criada por mise en scènes esteticamente perfeitas que enchem os nossos feeds? Tentámos encontrar algumas respostas.

Onde é que fica o papel dos nutricionistas?

De acordo com Mafalda de Almeida Rodrigues, nutricionista e CEO do espaço Loveat, o grande desafio começa por perceber até que ponto é que a informação é fidedigna. A especialista confirma ao Observador que “hoje há um certo abuso de informação, no sentido em que toda a gente partilha tudo e vamos buscar informação a todo o lado”. A receita mais segura, e que está longe de ser nova, é confirmar sempre com algum profissional da área: “Assim como confirmamos com um médico se é seguro tomar um medicamento, com o nutricionista acho que deve acontecer o mesmo e, felizmente, acho que já acontece um bocadinho e as pessoas já começam a ganhar essa noção.”

Quanto aos perigos de seguir dietas e receitas através das redes sociais, a nutricionista aponta que o principal risco pode estar relacionado com a deficiência de um determinado nutriente, designada por “malnutrição”. “A pessoa até pode ter um peso saudável e à partida pode parecer que está tudo bem, mas na verdade pode estar mal nutrida e tal se deve ao facto de fazer um determinado tipo de dieta ou eliminar um tipo de alimento que faz com que fique com determinadas carências.” No entanto, Mafalda esclarece que este é um tipo de situação que acaba por ser relativa e que “pode acontecer mesmo que a pessoa não esteja a fazer voluntariamente qualquer ripo de restrição e portanto acho que devemos ser cuidadosos mas também não precisamos ser alarmistas em alguns casos.”

Então quais são os primeiros passos a dar para atingir determinados objetivos em relação à nossa imagem e saúde? “A primeira coisa deve ser sempre ir a um nutricionista”, explica. “Não existindo essa possibilidade, a primeira coisa que uma pessoa deve tentar perceber é que emagrecer requer sempre um défice calórico, ou seja, ao final do dia temos sempre que ter gastado mais calorias do que aquelas que consumimos e tal pode ser feito através do exercício físico ou da alimentação. Tudo depende dos objetivos.”

Maçã ou ampulheta? Como escolher o plano alimentar consoante o tipo de corpo

Com base na sua experiência enquanto nutricionista, Mafalda sente que atualmente as pessoas procuram as consultas de nutrição tanto para mudar os hábitos alimentares e ser mais saudável, como para alcançar uma determinada forma física, e nota que “existe um caminhar para uma preocupação maior com o nosso bem-estar e com a saúde do que somente com a parte do ‘fit’ e de ter músculos ou não”.  Porém, também acrescenta que hoje há mais problemas relacionados com compulsão alimentar, ou seja, as pessoas acabam por comer por compensação e não conseguem parar, e que isso “se prende muitas vezes com pressões psicológicas que derivam do facto de seguirem uma determinada pessoa e admirarem a sua forma física.”

A propósito das ideias associadas ao “saudável” e ao “fitness”, chama a atenção para que se perceba que ser saudável não implica necessariamente ser “fit” e ir ao ginásio ou fazer exercícios de musculação: “Uma pessoa pode ter um trabalho que leve a que seja fisicamente ativo, que ande a pé, que tenha um bom gasto energético e isso significa que vai ser saudável ou que fará com que a pessoa seja mais saudável sem que tenha que ir ao ginásio. Da mesma maneira que uma pessoa que não seja saudável do ponto de vista psicológico, mesmo que vá ao ginásio todos os dias não é saudável na sua totalidade, nomeadamente quando o tipo de corpo que tem é conseguido à conta de um grande distúrbio alimentar”.

Também existem riscos que se podem correr com a toma inadequada de suplementos alimentares. A nutricionista explica que se forem tomadas as doses certas, os riscos são pequenos, mas que “existe uma procura grande de suplementos que vão além dos multivitamínicos e é aí que entramos nos casos de suplementos para emagrecer. Esse tipo de suplementos, sim, têm um risco maior para a saúde.” Dentro das consequências possíveis do consumo inadequado destes produtos estão a mal absorção de nutrientes e desregulações hormonais.

Mas será este um problema que afeta só os mais jovens? Para Mafalda esta é uma questão que pode atingir diferentes faixas etárias, ainda que os mais novos acabem por ser mais influenciáveis pelo facto de não terem ainda “a experiência de quem já passou por várias dietas e ganhos de peso constantes” e por isso sente que estes “muitas vezes querem experimentar certos tipos de restrição alimentar maioritariamente por motivos estéticos e, não conseguindo, acumulam muita frustração”.

Neste tipo de casos, nem sempre o papel de um nutricionista é o suficiente: “Nós fazemos o nosso trabalho no sentido de orientar e explicar como é que deve ser feita a alimentação, além de explicar a esses jovens que efetivamente aquelas escolhas de alimentação não são as mais saudáveis. Mas em determinados casos sentimos a necessidade de recomendar um profissional da área de psicologia ou psiquiatria, por exemplo. Isso é muito delicado porque ainda existe um grande estigma da sociedade relativamente à psicologia que não devia existir”. A nutricionista acrescenta que é muito complicado conseguir convencer quer um jovem, quer uma pessoa mais adulta, da necessidade de acompanhamento para além daquilo que é feito numa consulta de nutrição.

Quando é que começámos a preocupar-nos tanto com as dietas?

Iara Rodrigues, nutricionista em Paço de Arcos, no concelho de Oeiras, refere que um outro problema atual associado a este tema são as consultas online, uma realidade por vezes solicitada. “É não faz muito sentido tendo em conta que a pessoa não está frente-a-frente, e portanto estar a dar um aconselhamento através da troca de mensagens é algo que me assusta porque acho muito pouco profissional e nada personalizado”. Para Iara, pelo menos a primeira consulta tem de ser sempre presencial para conhecer primeiro o caso. “Por exemplo, há redes de profissionais de saúde que mostram casos de pessoas que nem sequer são licenciadas em nutrição e que se tomam por especialistas e dão consultas e aconselhamento alimentar. Eu fico um bocado chocada com isso.”

Nesse sentido, a nutricionista chama a atenção para a importância de cada profissional estar no seu lugar e desempenhar as funções que lhe compete: “Há pessoas que do nada, que nem são licenciadas na área da Saúde ou do Desporto, acham que é divertido dar receitas e fazer um aconselhamento ou usar o seu próprio testemunho real como exemplo de resultados e falar disso como se fosse uma verdade absoluta. Como têm uma série de seguidores isso acaba por passar.” Enquanto profissional de saúde e especialista em nutrição, Iara procura sempre explicar a cada pessoa que cada caso é um caso e que uma figura pública que trabalhe com a sua imagem acaba por ter uma pressão social e profissional para estar constantemente no ginásio, fazer uma alimentação saudável e promover variadas marcas. “Peço sempre que as pessoas filtrem um bocadinho e, de alguma maneira, critiquem construtivamente estas situações, no sentido de pensar e não se deixar influenciar só porque X e Y fazem“, conta.

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Outro aspeto a ter em conta é a importância do esclarecimento do rótulo em Portugal. Nesse aspeto, Iara acredita que “estamos um bocadinho a anos de luz de alguns países, no sentido em que ainda há rotulagem e alegações de saúde e nutricionais que estão muito longe de ser supervisionadas e reguladas”. Um exemplo que dá é o dos produtos sem glúten: “Hoje em dia até o champô é sem glúten. Qual é o interesse disso? Acho que devia haver mais regulação e critério nas alegações que se fazem e controlo no que toca a permitir que todas as pessoas de alguma forma possam ter um código promocional, ou porque são “influenciadoras” ou têm muitos seguidores, e assim promovam comportamentos e produtos que podem não ser adequados para qualquer pessoa”, acrescenta. “Isto é uma luta que já existe há anos e, efetivamente, neste momento vivemos aquilo que é o auge de comercialização destas dietas para se fazer dinheiro. É algo que me preocupa”.

O que é que diz a psicologia?

Sandra Torres, professora do departamento de Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), alerta para o facto de as imagens que circulam nas redes sociais estarem muito vincadas a uma ideia de beleza relativamente padronizada. “O facto de sermos constantemente expostos a este tipo de mensagens cria em nós a sensação de que o correto e o desejável é que todos cheguemos a estes padrões e isto pode com muita facilidade em idades mais jovens criar uma grande insatisfação relativamente à imagem corporal e fazer com que as pessoas vivam preocupadas em cumprir esse estereótipo”, explica.

De que forma é que um psicólogo pode, então, intervir nestes casos? Para Sandra, “um dos trabalhos que é muito importante que seja feito é sensibilizar os jovens para a diferença física e para a consciência de que nós acabamos por estar expostos diariamente a imagens, quer na publicidade, quer nas imagens que vemos dos média profissionais ou não profissionais e que remetem para esses ideais de beleza”. Nesse sentido, os professores da FPCEUP estão a desenvolver um programa intitulado “Eu Consciente”, com o intuito de trabalhar a flexibilização dos ideais de beleza nas escolas: “Acreditamos que com isto acabamos por tornar os jovens mais abertos à diversidade da imagem corporal e esperamos que as pessoas se sintam também melhor com o seu corpo e se reduza alguns comportamentos de bullying”.

No entanto, de acordo com a professora, há outras medidas que a sociedade, no geral, pode tomar neste sentido: “Se estivermos menos centrados em publicar coisas nossas que tentam cumprir estes padrões, transmitindo mensagens e alguma abertura para a diferença, vamos mudando estas mentalidades. E depois há os meios de comunicação social. Se também mostrarem mensagens e realidades diferentes vão contribuindo para essa mudança de mentalidades.”

Sandra sublinha também alguns problemas que podem estar associados à influência que é causada por aquilo que se vê e que é promovido nas redes sociais, como a anorexia, a bulimia e a ingestão alimentar compulsiva:”Todos eles, de certa forma, têm na sua base uma tentativa de mudança do corpo na esperança de que nesta mudança de corpo haja aqui uma maior sensação de bem-estar que é depois generalizada a outras áreas, isto é, há uma sensação de que se eu melhorar o meu corpo e o controlo que faço da alimentação vou ser uma pessoa mais admirada, ter sucesso nas relações amorosas, etc.“. A especialista acrescenta também que há outro tipo de problemas que podem estar em causa e que acabam por estar mais escondidos na sociedade, estando relacionados muitas vezes com “o estado de depressão e de ansiedade por sentirem que o corpo e a maneira de ser não têm o valor que queriam que tivesse. Isto traduz-se muitas vezes em questões muito simples como estar na sala de aula e evitarem levantar-se para que não os vejam, mas também com a dificuldade muitas vezes em falar em público ou estar em determinados contextos sociais”.

As parcerias das influencers e figuras públicas com as marcas

Carolina Gomes da Silva é blogger e youtuber. Tem quase 57 mil seguidores na sua página de Instagram e quase três mil subscritores no canal de Youtube, plataformas nas quais produz conteúdo relacionado com lifestyle e fitness. É também embaixadora da marca de suplementos desportivos Prozis e tem parcerias com marcas de vestuário ligadas ao fitness, como a Susanagateira e Bazar Desportivo. Em entrevista ao Observador, Carolina deixa claro que é possível viver só do trabalho e das parcerias com estas marcas e que este “é um trabalho como outro qualquer”.

A preocupação com a alimentação e a prática de exercício físico sempre esteve presente na vida de Carolina, que procura estar envolvida em atividades como a natação e a dança. Através da sua influência nas plataformas digitais, a blogger afirma que tenta passar uma motivação para a prática de atividades saudáveis aos seus seguidores: “Tanto no Instagram, como no blogue, Youtube e Facebook, sempre tive esse objetivo”. Para Carolina, ser saudável e ser “fit” são dois conceitos que estão relacionados, uma vez que ser saudável implica que ter uma boa alimentação, mas “se alguém não faz exercício de todo não é 100% saudável, porque o movimento faz pare da vida e sem ele o corpo não funciona tão bem”.

A presença de marcas, nomeadamente da Prozis ou Pronatural, é algo que se destaca nas suas publicações. Estas parcerias surgiram, no caso de Carolina, por convite das próprias marcas, com as quais apenas aceitou colaborar por se identificar com as mesmas: “Só partilho o que uso e obviamente só uso aquilo de que gosto”. Quanto à interação com os seguidores, o feedback tem sido positivo: “Recebo bastante feedback de meninas que experimentaram algo que uso e que adoraram”.

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Quando questionada sobre a possibilidade deste tipo de produtos ser ou não consumido por qualquer tipo de pessoa, a influencer assegura que se tratam de suplementos “perfeitamente normais e acessíveis a todos”. Há, no entanto, uma questão que se coloca: não estarão estas marcas a promover um ideal de corpo? Carolina confessa que já recebeu mensagens de raparigas que manifestavam querer ter um corpo igual ao seu, mas que cada caso é um caso: “Acho que cada um deve procurar o que considera ideal. O que é ideal para mim pode não ser ideal para si e o mesmo se aplica a outras pessoas, certo? O corpo ideal existe, claro, e está nos olhos de cada um de nós. Não se pode achar que vamos ter o corpo de outra pessoa, porque não é possível. Podemos é ter uma aparência melhor, isso sim, e para tal podemos inspirar-nos noutras pessoas, mas sempre com a consciência de que somos diferentes e que não vamos ficar iguais”, explica. “Nada que se tome vai dar um corpo, mas há alimentos e suplementos que ajudam, claro”. O Observador tentou obter algumas respostas através de marcas como a Prozis e a Pronatural, mas sem sucesso até à conclusão deste trabalho.

Carolina nunca foi seguida por um profissional de saúde, sempre fez as suas dietas de forma autónoma, uma vez que também estudou e tirou cursos relacionados com a área. No entanto, não descarta o facto de existir sempre um risco associado à falta de um acompanhamento nutricional em alguns casos. Para contornar esse perigo, diz que é importante que haja um cuidado por parte das marcas e influenciadores e que “cada um saiba até onde pode ajudar ou não”.

Será o ginásio, então, essencial para o bem-estar físico? “Não, não. O ginásio é só uma forma mais fácil de fazer exercício para certas pessoas. Qualquer desporto serve”, sublinha. Quanto à alimentação, acrescenta que “há quem não precise de suplementos, mas de legumes, fruta, boas proteínas e boas gorduras”.

Os seguidores e os seguidos

Para Ana Vieira, 22 anos, tudo começou há cinco anos, quando entrou para a faculdade. Na altura, por influência do namorado que trabalhava com uma equipa de culturismo, desporto que se baseia no uso de exercícios de resistência para controlar e desenvolver os músculos, decidiu ir para um ginásio e começou a ganhar o gosto pelo exercício físico.

Inicialmente frequentava o ginásio como uma forma de descomprimir do dia-a-dia e não tinha muitos objetivos estabelecidos. A dieta veio mais tarde e foi aí que começou a estabelecer as suas próprias metas e a trabalhar para “ser mais forte e ter um corpo mais musculado com uma estrutura mais desenhada, que é característica de quem faz musculação”. Quando começou a ganhar um ritmo de vida mais independente acabou por se focar na alimentação numa perspetiva mais “sociopolítica, relacionada com a sustentabilidade e com a saúde pública”. Foi o que a levou a adotar uma dieta vegetariana, conciliando com o exercício físico regular.

A pressão proveniente das imagens que mostram corpos musculados no ginásio e que circulam nas redes sociais são, para Ana, uma questão a ter em conta: “Essa pressão existe. Eu própria tive e ainda tenho por vezes a tendência a comparar-me. Esta forma de entender o fitness não lhe faz justiça porque compromete a saúde mental“. A jovem relata que já chegou a ser questionada regularmente sobre o facto de ter determinadas características corporais e que sabe “que provêm de construções sociais promovidas em plataformas como o Instagram”.

Nesta lógica, Ana considera desmedida a quantidade de patrocinadores deste tipo de marcas. “Lembram os sistemas em pirâmide de vendedores como os de produtos de beleza da Avon ou Oriflame”, exemplica. Mas o principal problema passa pelo facto de “a larga maioria dos produtos da Prozis não ter qualquer valor para a saúde que se veja. Pessoalmente, adquiro alguns produtos pelo sabor que são conjugáveis com uma nutrição adequada”. E ainda há a questão do preço: “Vende-se a preço de ouro produtos que no seu estado original são muito saudáveis e baratos como o caso da aveia, que eles transformam em pó e adicionam aromas e adoçantes aos montes. Eu sou consciente disso e compro-os porque me sabem bem e porque sei que não são tão prejudiciais como uma fatia de bolo.”

Na sua opinião, Ana acha necessário que exista uma filtragem mais adequada em relação à promoção destes produtos e ao tipo de pessoa que o faz. “Eu creio que o facto de um criador de uma página de Instagram que tenha visibilidade, ao receber um apoio da Prozis, por exemplo, recebe quase como um selo de aprovação da comunidade que, em vasta maioria, não merece”, explica. Nesse sentido, acredita que é importante que as marcas e os influenciadores ganhem uma maior consciência do impacto que têm na modulação de comportamentos e na criação de um ideal de perfeição e que é necessário que exista uma valorização do acompanhamento profissional na tomada de decisão do estilo de vida e alimentação.

Anita MacDonald, a nutricionista que não larga o telemóvel nem o Twitter

Mariana Madureira, 21 anos, começou a ter um cuidado redobrado com a saúde há quatro anos, quando tinha 17. O primeiro passo foi entrar para o ginásio e, na altura, não sentiu que havia tanta abordagem sobre este tema através das redes sociais. Foi através de consultas com nutricionistas que começou a ter mais cuidados com a alimentação, “para potenciar mais os resultados desses treinos, sendo que os meus objetivos eram perder massa gorda, aumentar a massa muscular e ganhar mais resistência”, conta.

Entretanto, há um dia em que, através da Internet, Mariana encontra uma publicação da Prozis sobre um dos seus produtos, nomeadamente, a manteiga de amendoim. “Como gosto muito de manteiga de amendoim e andava a fazê-la por mim mesma em casa com amendoins naturais, porque não queria adicionar mais nada, ao ver que a manteiga deles não tinha adição de açúcar e que o preço era até mais barato do que nos supermercados, comecei a consumir esse produto”. O certo é que a manteiga de amendoim foi apenas o primeiro passo que deu no consumo destes alimentos e proteínas: “Acabei por começar a encomendar também proteína por indicação da minha nutricionista, isto porque reduzo bastante o consumo de carne e peixe pelo que ela me aconselhou a introduzir alguma proteína vegetal para recuperar o que gastava nos treinos”.

Ainda assim, a jovem tem noção de que conseguiria atingir os seus objetivos sem consumir estes produtos, mas prefere utilizar por ser mais prático: “Por exemplo, como sempre papas de aveia de manhã. Se tivesse que utilizar focos de aveia normais iria demorar muito mais tempo a preparar. Por isso acho que a nível da praticidade, os produtos deles são úteis para o dia-a-dia. Pelo menos aqueles que consumo.”

Quanto às influencers e à publicidade destas marcas nas plataformas digitais, Mariana prefere olhar para as mesmas como uma forma de inspiração. “Acho muito difícil conseguirmos ser como a outra pessoa. Cada um tem o seu próprio corpo. Mas vejo muito como uma inspiração, por exemplo,quando publicam um vídeo em que foram treinar e penso que, se calhar, como já não vou treinar há algum tempo, devia ir. Acho que é mais por aí, de nos inspirar a sermos a melhor versão de nós próprios.”, explica. Mas não ignora o perigo inerente a estas publicações no mundo digital: “Sinto que há muito esse perigo porque quando era mais nova e já estava no ginásio sentia um pouco essa pressão devido aos conteúdos nas redes sociais. Houve uma altura em que era muito restrita naquilo que comia, pesava as quantidades, tudo para ter um controlo muito maior que me ajudasse a atingir os meus objetivos de forma mais eficaz“.

Mariana conta que chegou a passar por momentos em que se sentiu menos motivada, mas que o segredo passa por estabelecer qual é a prioridade segundo a qual se leva a cabo determinadas dietas e treinos: “Se for por uma questão de saúde, acho que a motivação se mantém mais firme, porque a preocupação vai além da nossa imagem. Por exemplo, no inverno, como não vamos à praia, desvalorizamos um bocadinho a preocupação com a imagem. Já a preocupação com a saúde é algo que é constante.”

Retomando as palavras da nutricionista Iara Rodrigues, “é importante que se perceba que ser saudável não significa ser extremista nem fundamentalista, implica sim que a pessoa faça da sua alimentação um pilar de saúde, acreditando no poder dos alimentos para estar bem, sem desprezar o “espaço para a vida social, com flexibilidade para não levar uma vida que seja escrava da alimentação“.