Joaquim Barroca deverá dizer ao juiz Ivo Rosa que a quantia de um milhão de euros saída da sua conta na Unions des Banques Suisses (UBS) para a conta de Armando Vara no mesmo banco não correspondia ao pagamento de serviços de consultoria — contrariando assim o que o ex-ministro e ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos tinha dito no interrogatório da fase de instrução da Operação Marquês.
Segundo a notícia avançada esta terça-feira pela SIC, o administrador do Grupo Lena diz sentir-se desiludido com Carlos Santos Silva, testa-de-ferro de José Sócrates, por ter deixado que este utilizasse as suas contas suíças como conta de passagem para quantias das quais desconhecia a origem e o destino dos respetivos fundos — os quais acabaram, segundo o Ministério Público, por ser utilizados em alegado proveito de José Sócrates.
José Sócrates e Armando Vara são suspeitos, em regime de co-autoria, do crime de corrupção passiva por alegadamente terem influenciado a aprovação de um crédito de cerca de 284 milhões de euros da Caixa Geral de Depósitos para um grupo de investidores adquirirem o resort de luxo Vale do Lobo. Em troca, segundo a acusação da Operação Marquês, Sócrates e Vara terão recebido uma alegada comissão de 2 milhões de euros dividida a meias.
Recorde-se que Joaquim Barroca já tinha confessado, aquando dos primeiros interrogatórios em 2015, que assinou ordens de transferência em branco para que Carlos Santos Silva, o alegado testa-de-ferro de José Sócrates, pudesse movimentar livremente as suas contas bancárias na Suíça. Terá sido Santos Silva quem transferiu a parte da alegada comissão de Vara (1 milhãoe de euros) para as contas da Vama Holdins, uma sociedade offshore controlada por Armando Vara.
Joaquim Barroca não ‘entregou’ Sócrates mas admitiu negócios com primo José Paulo
Armando Vara, recorde-se, surpreendeu ao admitir ao juiz Ivo Rosa ter ocultado rendimentos da administração fiscal portuguesa no depoimento que prestou a 5 de fevereiro de 2019 na fase de instrução da Operação Marques. Chamado como testemunha da filha Bárbara, que também está acusada de dois crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais como alegada cúmplice do pai, o ex-ministro do segundo Governo de António Guterres disse ter recebido rendimentos como consultor que não tinha declarado à administração fiscal, tendo escondido tais valores numa conta bancária aberta na Suíça em nome da Vama Holdings. Tais rendimentos, pagos em numerário (vulgo “dinheiro vivo”), terão sido entregues a Michel Canals, um dos principais operacionais da rede de branqueamento de capitais do caso Monte Branco, que alegadamente fez chegar os mesmos fundos à Suíça.
Ao juiz de instrução Ivo Rosa, Vara disse ainda que o facto de ter recebido tal alegada remuneração de empresas portuguesas com operações no Leste europeu — empresas essas que se recusou a identificar — foi uma das razões que quase o levou a desistir do cargo de administrador da Caixa Geral de Depósitos passou por ter desenvolvido trabalhos para algumas empresas portuguesas quando ainda era diretor do banco público.