Já estiveram em Madrid, Barcelona Miami, Paris, Cidade do México e Berlim. Este sábado, o We/Code Women Edition chega pela primeira vez a Lisboa. Objetivo: reunir 100 mulheres, com ou sem experiência na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), para, durante um dia, aprenderem o básico sobre programação, desconstruirem mitos e sensibilizarem para a importância da igualdade de género nesta área. No final, as três melhores ganham uma bolsa que pode abrir portas para um futuro tecnológico.
O workshop é organizada pela Startup Lisboa, em conjunto com a escola de programação informática Ironhack, que chegou em dezembro a Portugal. As 100 participantes vão estar no Campus da Universidade Católica a aprender linguagens de programação (HTML, CSS e Javascript) e não necessitam de ter qualquer experiência na área para se poderem inscrever: apenas interesse e disponibilidade.
A nossa parceria é um processo natural dos nossos papéis como players para educar a próxima geração de talentos tecnológicos em Portugal: enquanto a Ironhack ambiciona ser a próxima escola de tecnologia líder em Portugal, a Startup Lisboa é a principal incubadora de empreendedores. E ambos partilhamos a visão e o esforço em apoiar as minorias na tecnologia, especialmente em apoiar um segmento muito pouco representado (as mulheres)”, explicou Carmen Ortega, growth hacker (desenvolvimento de marketing) da Ironhack, ao Observador.
Pelo meio, há também duas sessões de “histórias inspiradoras das mulheres na tecnologia” apresentadas por Celine Abecassis-Moedas, professora associada da Católica Lisbon School of Business & Economics, e Louise Lindblad, cofundadora da startup Valispace. No final, as 100 participantes serão colocadas à prova e as três melhores ganham uma bolsa da Ironhack: uma no valor de seis mil euros e duas bolsas parciais de três mil euros para tirar um curso de programação e, no futuro, ter uma porta aberta para seguir esta área.
A iniciativa, refere a gestora de conteúdos da Startup Lisboa, foi criada porque a entidade “cedo se apercebeu do desperdício do talento feminino na área da tecnologia”. Tudo porque, explica Sandra Pereira, esta é ainda uma área associada essencialmente ao universo masculino. E a Ironhack forneceu alguns dados relativos à indústria tecnológica na Europa que mostram esse cenário: 46% das mulheres diz ter experienciado algum tipo de discriminação de género; 90% da discriminação na indústria está relacionada com o género; a participação de mulheres em cargos de chefia é inferior a 10%; e a presença de mulheres participantes em eventos relacionados com a tecnologia na Europa é de 22%.
Face a estes números, o responsável da Ironhack em Lisboa questiona: “Como é que isto é possível?”. “Não há fundamentos para argumentar que as mulheres são menos interessadas na tecnologia ou são piores líderes tecnológicas. A tecnologia tem sido percebida como uma indústria masculina e dominada pelos homens durante décadas. É triste, mas as mulheres estão a ser altamente discriminadas na indústria tecnológica. E estamos comprometidos a mudar o status quo“, argumentou Álvaro González.
As 100 vagas para participar na iniciativa já estão esgotadas, mas os responsáveis pelo evento decidiram libertar mais 20 bilhetes, cada um à venda por sete euros. “Era urgente dar palco às mulheres que enveredaram por esta área e, sobretudo, incentivar e motivar mais mulheres a juntarem-se a este universo”, referiu a gestora de conteúdos da Startup Lisboa ao Observador, acrescentando que “ninguém deve ser beneficiado ou prejudicado pelo seu género, mas sim, pelo seu genuíno valor”.
E em Portugal? Há evolução, mas “um longuíssimo caminho a ser percorrido”
Esta quinta-feira, a lei que obriga à igualdade dos salários entre homens e mulheres entrou em vigor em Portugal, o que significa que também as empresas de tecnologia vão ter de justificar a diferença salarial sempre que as funções desempenhadas forem as mesmas. “Consideramos um passo extraordinário. Tardio, mas que finalmente, aconteceu. Porém, há ainda muito por conquistar”, comentou Sandra Pereira.
E um dos desafios a superar, explica Carmen Ortega, é a dificuldade em encontrar professoras de desenvolvimento web, “tendo em conta que os cargos para as mulheres a trabalhar em web development são muito poucos em Portugal”. A growth hacker da Iron Hack acrescenta, no entanto, que o panorama começa a mudar e que está otimista em relação ao aumento do número de mulheres em tecnologia nos próximos anos. Prova disso é que 40% dos estudantes inscritos na escola de programação para o próximo ano são mulheres.
Felizmente, Portugal tem acompanhado a constante, e cada vez mais rápida, transformação tecnológica, sendo hoje um grande catalisador internacional de talento na área da tecnologia. Por isso, acreditamos que a atração de jovens altamente qualificados está no caminho certo, representando posteriormente a Startup Lisboa, uma peça fundamental no momento em que alguns destes talentos se lançam na criação de projetos próprios”, acrescentou Sandra Pereira.
A educação, refere Álvaro González, “é a única forma” de alterar o panorama. “Sou muito ativista em relação às mulheres no problema da discriminação na tecnologia, e os meus estudantes entendem que, uma vez que entram no mercado de trabalho, vão ser a futura geração que vai liderar essa mudança e fechar com sucesso esta lacuna do género. Sonho com o dia em que nunca mais vamos ter de falar sobre este assunto da discriminação”. Os homens, acrescentou, são parte essencial nesse processo: “Isto é fundamental, para que não seja percebido como uma batalha apenas das mulheres, mas de toda a sociedade”.
O We/Code Women Edition decorre entre as 9h30 e as 20h deste sábado e conta também com o apoio da comunidade “Portuguese Women in Tech”.
(Artigo atualizado às 18h08 do dia 23 de fevereiro)