Um filme, uma nova paixão e um Óscar. Rami Malek conquistou este domingo o Óscar de Melhor Ator com a interpretação de Freddie Mercury no filme “Bohemian Rhapsody”, onde conheceu um novo amor, a atriz Lucy Boyton. O ator era praticamente um desconhecido até o filme sobre os Queen estrear nos cinemas e para subir ao palco do Dolby Theatre, em Hollywood, teve de percorrer um longo caminho que começou no curso de teatro no Indiana e numa pizzaria.
Rami Malek nasceu em Los Angeles, filho de pais que emigraram do Egito para os Estados Unidos da América. Nos tempos que correm, esta linha biográfica tem já um peso político e é por isso que Malek a frisou no discurso de agradecimento. “Uma parte da minha história está a ser escrita agora mesmo. Vou guardar este momento para o resto da minha vida”, disse o agora detentor do Óscar de Melhor Ator.
"I am the son of immigrants from Egypt. I'm a first-generation American." Best Actor winning Rami Malek makes a call for diversity in movie storytelling in his #Oscars speech pic.twitter.com/BlA4gXxRce
— MTV NEWS (@MTVNEWS) February 25, 2019
Este ano, com a interpretação em “Bohemian Rhapsody”, Rami Malek faz o pleno com a conquista de um Emmy, um BAFTA, um Screen Actors Guild e agora um Óscar e pelo caminho ainda fez com que a ficção passasse a realidade, transportando a paixão de Freddie Mercury e de Mary Austin para a vida real, ao assumir uma relação com Lucy Boyton, que foi também alvo de agradecimentos nesta noite dos Óscares.
De colega de liceu de Kirsten Dunst até aluno premiado em Evansville
Rami Malek fez o ensino secundário no Liceu de Notre Dame, onde foi colega de Kirsten Dunst (a Mary Jane do “Homem-Aranha”) e de Rachel Bolson, de “The O.C” e “New York, I Love You”. Concluído o liceu, Malek ingressou na Universidade de Evansville, na região do Indiana, para estudar teatro contra o desejo dos pais que queriam um filho advogado. Em 2017 (quatro anos depois de concluir o curso), foi agraciado com um prémio que distingue “os alunos que atingiram grande sucesso e contribuíram com os seus serviços para a comunidade e para os Estados Unidos da América”.
Rami Malek fez uma parte do “percurso-tipo” de quem quer entrar no mundo de Hollywood: trabalhou num pizzaria para conhecer os agentes e produtores até que o telefone tocou. Com “Gilmore Girls” entrou pela primeira vez na televisão, em 2004. A estreia no grande ecrã deu-se dois anos depois com a aparição no filme “À Noite no Museu”, que repetiu nas duas sequelas.
Entre 2010 e 2015, Rami Malek manteve um conjunto de papéis secundários — com mais ou menos destaque –, em várias séries e filmes: “24”, “The Pacific”, “Alcatraz”, um dos filmes da saga “Twilight”, “Oldboy”, “The Masters”, entre outros. Até teve uma participação num jogo da PlayStation.
O ano do salto com “Mr. Robot” e a segunda escolha que se tornou número um
2015 é o ano do primeiro grande salto de Rami Malek. “Mr. Robot” estreou em 2015 com Malek no papel principal e levou o ator até aos grandes palcos e à conquista de um Emmy. Na série, Malek deu corpo a um engenheiro de cibersegurança que sofria de ansiedade e depressão A série vai entrar este ano na quarta temporada, que será a última.
A partir de 2015, os papéis no grande ecrã, embora em filmes menos comerciais, começaram a ser de outra importância. Até que, em 2016, Sacha Baron Cohen foi afastado da produção do filme biográfico dos Queen e Rami Malek assumiu o papel de Freddie Mercury.
Como segunda escolha, Malek não quis deixar os créditos por mãos alheias e empenhou-se a fundo no projeto. Sem conhecer em grande detalhe Freddie — como agora lhe chama –, Malek contratou um treinador pessoal para assimilar os tiques de movimentos do cantor, aprendeu a falar com dentes postiços para imitar as feições do vocalista dos Queen e teve aulas de canto e de piano para que nenhum detalhe ficasse esquecido.
Se houvesse um Óscar para Melhor Voz Adaptada já havia vencedor: Marc Martel
O filme, que acabou por ser um dos grandes vencedores da 91ª edição dos Óscares ao conquistar quatro dos cinco galardões para os quais tinha sido nomeado, foi também o sexto filme mais rentável de 2018, ficando apenas abaixo de “Black Panther”, também na lista de nomeados para o galardão de Melhor Filme.
As acusações a Bryan Singer, realizador de “Bohemian Rhapsody”
“Bohemian Rhapsody” passou por diversas dificuldades até ter sido lançado e muitas outras depois de já estar nos cinemas. O realizador do filme, Bryan Singer, foi uma das figuras de Hollywood envolvidas em escândalos de abusos sexuais e Rami Malek foi rápido a querer colocar um ponto final na polémica.
Realizador de “Bohemian Rhapsody” acusado de abuso sexual. Vítimas falam pela primeira vez
Dias depois de ter sido nomeado para os Óscares, o ator, que terá pressionado os responsáveis pelo filme para removerem Singer da produção, deu a conhecer a sua posição: “Para quem procura uma resposta: Bryan Singer foi despedido”, disse à imprensa. A posição pública ajudou a alavancar a imagem de Malek, em particular por interpretar uma personagem que é um ícone gay. O protagonista de “Bohemian Rhapsody” pôde assim entrar no Dolby Theater com uma aura positiva à sua volta.
Recentemente, em entrevista ao New York Times, Rami Malek disse que não vai “poder ser o Freddie Mercury o resto da vida”. Conquistado o Óscar de Melhor Ator é caso para dizer: “The Show Must Go On”.