Paulo Rangel diz que o diabo chegou, tal como Passos Coelho tinha anunciado. A prova disso, lembrou o cabeça de lista do PSD às eleições europeias, são os vários falhanços do Estado na saúde, nos incêndios ou na queda da estrada de Borba. Num discurso após o jantar das jornadas parlamentares do PSD, esta quinta-feira no Porto, Rangel atirou ao Governo para chegar ao alvo final: o seu adversário e ex-ministro Pedro Marques. “Dizem-nos a todos que o diabo não veio. Não veio pela porta, mas entrou pela janela do Serviço Nacional de Saúde e da segurança de pessoas e bens”, começou por dizer.
Rangel concretizou pouco depois: “O diabo está lá para quem tem de ir ao hospital, está nos incêndios de Pedrógão, de outubro, de Monchique e quando cai uma estrada. Se isto não é o diabo não sei o que será“. Mas o inferno não parou por aqui, na descrição de Rangel, uma vez que depois das tragédias o Governo “tinha todas as condições para dar uma resposta célere, organizada, que não desse origem a fraudes sistemáticas e a fraudes permanentes”. O que, no seu entender, não fez. E isso, para Rangel é “imoral e essa imoralidade tem um rosto: Pedro Marques“.
O tom já era de campanha eleitoral e o seu principal adversário é o alvo a abater. O candidato do PSD às Europeias recorda que “o ministro que se esperava que fosse responsável pela reconstrução, que fosse uma espécie de Marquês de Pombal, que reconstruísse Pedrógão, era Pedro Marques“. O que não aconteceu.
O mesmo Pedro Marques, continua Rangel, “diz que é candidato a deputado europeu, mas já pensa em ser comissário. Era um ministro que era candidato e agora é um candidato que é comissário”. A este propósito, Rangel lembrou a música “Estou Além” de António Variações, para caricaturar o cabeça-de-lista do PS: “Só estou bem onde não estou. É o ministro que só estava bem onde não estava”. Em ataques cerrados ao adversário, Paulo Rangel destacou que “o comissário candidato tem um problema de fundo com fundos” e contestou a execução de fundos propalada por Pedro Marques.
Rangel avisa que o PSD não vai “tolerar uma relação difícil [do PS] com a verdade”, uma vez que já o fez “entre 2005 e 2011”. O candidato do PSD contestou depois o facto de Pedro Marques não aceitar debates antes de abril: “Percebo porque não quer fazer debates connosco. A SIC convidou-nos e Pedro Marques recusou o debate.”
E continuou no mesmo tom que entusiasmou a plateia: “Quer só ficar no Twitter, na sua rede social, a editar as fake news que aproveita (…) Sabemos que é um produtor de fake news, mas venha fazer um debate connosco. Não temos medo de ser confrontados.” No fim da sua intervenção, a sala levantou-se a gritar PSD.
Sobre a Venezuela, Rangel rentabilizou o facto de ter estado no último fim-de-semana na fronteira. Acusou o primeiro-ministro António Costa e o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, de falta de sensibilidade nesta questão e disse ainda ser “chocante” o facto de Augusto Santos Silva desvalorizar o nível de perigo que representam os “colectivos“, as milícias civis de apoio a Nicolás Maduro. Rangel fez ainda referência aos portugueses que estão entre os refugiados em condições muito difíceis, dizendo que apenas um político (Marcelo Rebelo de Sousa, e ao de leve) denunciou esta situação.
Rangel criticou ainda o facto do Governo não ter um verdadeiro estudo público sobre o impacto do Brexit.
Antes da intervenção de Paulo Rangel, os deputados cantaram os parabéns a José Silvano, o secretário-geral do partido, que fazia anos. Mesmo ao lado na mesa estava Emília Cerqueira, a deputada que fez log in pelo secretário-geral do PSD no caso das presenças-fantasma. Minutos antes, todo o grupo, à porta fechada, tinha discutido precisamente como solucionar essas situações. Aquela hora, contudo, não era tempo de falar nisso. Era noite de celebração, Silvano apagou as velas e Rangel incendiou a sala. Com a ajuda do diabo.