O partido trabalhista do Reino Unido, liderado por Jeremy Corbyn, venceu a corrida ao lugar de deputado eleito pelo círculo de Dudley North por uma diferença de apenas 22 votos, nas eleições gerais de 2017. O resultado confirmou aquilo que já se sabia durante a campanha: o eleitorado estava profundamente dividido, e todos os votos eram valiosos. O Financial Times recupera a história dessa campanha para revelar que militantes do partido trabalhista usaram chatbots [programas informáticos que simulam conversas reais] em aplicações vocacionadas para encontros amorosos, como o Tinder.

Segundo o diário financeiro britânico, cerca de 150 membros da campanha de Corbyn emprestaram os seus perfis no Tinder para que estes fossem usados por este tipo de bots. Foram esses programas informáticos que, de forma automática, foram “gostar” do máximo número de pessoas e tentar fazer “match” (correspondência) com elas, para que o diálogo se pudesse iniciar. O programa era desenhado para começar com alguns elogios ao aspeto físico da outra pessoa e conversa de circunstância — esperando pelas respostas do outro lado, como se de uma conversa verdadeira se tratasse.

A certa altura, o bot começava a falar sobre como estava a pensar votar no partido trabalhista (o Labour), enumerando algumas das principais medidas do programa político de Jeremy Corbyn, como a eliminação das propinas universitárias, aumento do salário mínimo e apoios à habitação para jovens. “O que achas disto?”, perguntava, no final, o bot. Uma das imagens mostradas pelo Financial Times mostra um eleitor a responder “sim, parece-me bem. Onde eu vivo normalmente é o Labour que ganha, portanto provavelmente vou optar por aí”.

Terão sido enviadas cerca de 40 mil mensagens dirigidas a pessoas entre os 18 anos (a idade mínima para votar) e os 25 anos. Repetimos: no final, o Labour ganhou por uma diferença de 22 votos.

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O mesmo bot (devidamente adaptado) foi usado em outros casos, incluindo um movimento que quis criticar o envolvimento da transportadora aérea British Airways nas políticas de deportação de pessoas. E, no Brasil, o próprio Ministério da Saúde usou bots em apps como o Tinder para alertar para o perigo de contrair HIV, antes das festas do Carnaval de 2015.

Uma das autoras do bot que foi usado pelos militantes trabalhistas, Charlotte Goodman, revelou ao jornal britânico que também já foi abordada por campanhas políticas nos EUA que já estão a trabalhar nas eleições presidenciais de 2020. Mas não revela quais form os partidos que a contactaram.

Quem não parece ver esta tendência com bons olhos são as empresas donas das redes sociais que são usadas para este fim. A Match Group, dona do Tinder, diz que este tipo de bots são “absolutamente proibidos”: “os nossos produtos são feitos para que solteiros procurem conhecer outros solteiros, quem estiver a fazer outra coisa que não isso será expulso”.