“Já conhece o primeiro-ministro. Agora, prepare-se para conhecer o homem.” Foi dessa forma que a SIC promoveu a entrevista com António Costa n’O Programa da Cristina e foi precisamente nesse tom que a entrevista com Cristina Ferreira começou.

António Costa começou por falar dos seus tempos de infância e de como era, naquele tempo, raro ser filho de pais divorciados. “Na escola lembro-me de que era diferente. Hoje é ao contrário. Naquela altura quando andava na escola primária havia dois filhos de pais separados. Mas na altura era um bocadinho estigmatizante”, recordou o primeiro-ministro.

Sobre os tempos de escola, lembrou que não era propriamente o aluno mais disciplinado. “Fiz [asneiras], com certeza, com as reguadas que eu levava”, disse. E depois explicou que, na verdade, era também mal entendido. “Há um sorriso que eu tenho que é muito irritante e que nunca consegui corrigir. E os professores às vezes julgavam que esse sorriso era uma forma de estar a gozar com eles”, disse. “Há um sorriso com o qual as pessoas não simpatizam.”

Costa vestiu o avental e cozinhou uma cataplana de peixe em direto

Logo depois, fez uma cataplana de peixe na bancada de cozinha do estúdio. O anúncio desta façanha foi feito pela mulher do primeiro-ministro, Fernanda Tadeu. “Essa coisa de as mulheres cozinharem todos os dias já tem os dias contados e ainda por cima ele cozinha muito melhor do que eu”, disse a mulher de António Costa.

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Enquanto António Costa cozinha, Fernanda Tadeu contou como conheceu o marido nos tempos de universidade, onde começaram por ser amigos. “Ele tinha muitas namoradas!”, contou a mulher de António Costa.

Numa fase posterior, já a confeção da cataplana estava mais avançada, chegaram a estúdio os dois filhos e a nora de António Costa. O filho, Pedro Costa, que é militante do PS e vogal na Junta de Freguesia de Campo de Ourique, em Lisboa, explicou como não faz diferença ter um pai que é primeiro-ministro.

“Eu e a Catarina [a irmã], desde que éramos miúdos, ele já estava ligado à política. Nós não nos lembramos de outra realidade. Mesmo os problemas que surgem deste facto [de o pai ser primeiro-ministro] são coisas que para nós estão ultrapassadas, fazem parte da vida de sempre”, disse.

“Mas conhece alguém que não se queixa?”

No meio dos tachos e de histórias de família, houve ainda tempo para alguma política. Cristina Ferreira referiu, em tom de brincadeira, o facto de Fernanda Tadeu ser professora e de o governo de António Costa estar em rota de colisão com os sindicatos dos professores — tendo, ainda esta segunda-feira, interrompido as negociações que tinham sido retomadas.

“Ter uma mulher professora e depois de ter assim greves e professores a queixarem-se…”, disse Cristina Ferreira, ela própria uma ex-professora. “Com um bocadinho de sorte também tinha uma filha enfermeira a queixar-se!”, acrescentou a apresentadora.

António Costa respondeu, também entre risos: “Mas conhece alguém que não se queixe? Diga-me lá!”.

Mais à frente, Cristina Ferreira atirou a António Costa dizendo que os incêndios do verão de 2017, especificando os de Pedrógão Grande, em junho de 2017, foram “uma mancha negra” nos anos do seu governo. “Espero que não haja outros. Mas é uma coisa horrível, marcante. Isso será sempre inesquecível, aqueles dias de junho e de outubro”, disse o primeiro-ministro.

Houve também espaço para falar do caso dos bens doados às vítimas dos incêndios que, como mostrou uma reportagem da TVI, estão fechados dentro de um armazém da autarquia de Pedrógão Grande. “Na altura nós criámos um fundo para procurar organizar estes donativos e a generosidade espontânea dos cidadãos. Os cidadãos deram muito e acabaram por razões várias, provavelmente por falta de confiança no Estado, optaram por dar diretamente a diversas entidades e não necessariamente através dos mecanismos que tínhamos criado”, disse.

“Eu quando vi aqueles armazéns percebi que as coisas dificilmente podiam correr bem. ia haver com certeza problemas naquela distribuição das coisas e tal”, acrescentou.

E, com isto, António Costa procurou esclarecer que a responsabilidade daquele e de outros eventuais casos não são nem do Estado nem do Governo. “Os donativos que vieram para o Estado, esses estão todas auditados. O que tem acontecido são com entidade que não são do estado. ou foram privados ou são municípios e que têm outros mecanismos de controlo”, disse António Costa, que interrompeu a sua própria resposta para pedir um ingrediente para a receita que ali preparava. “Tem um bocadinho de vinho branco?”, perguntou a Cristina Ferreira.

António Costa disse ainda que está confiante para as eleições legislativas, agendadas para 6 de outubro deste ano. “Eu estou [confiante], mas isso agora depende dos cidadãos. Essa parte já não é comigo”, disse.

Antes de Costa, já Cristas tinha cozinhado com Cristina Ferreira

Esta é a estreia do primeiro-ministro no programa da apresentadora Cristina Ferreira na SIC, mas está longe de ser a primeira vez que um político ali participa. O primeiro a fazê-lo foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que ligou em direto, e para surpresa de Cristina Ferreira, no programa de estreia. “Interrompi aqui uma reunião que tinha. Acabei uma e ia começar outra e espreitei para ver o seu primeiro programa. Como, ao longo da vida, várias vezes, estive consigo quando arrancou com novas fases da sua vida (…), queria desejar-lhe felicidades”, disse o Presidente.

Mais tarde, na segunda semana do programa também a presidente do CDS, Assunção Cristas, participou nele, desta vez indo ao estúdio com a sua família. A líder centrista esteve sempre de avental vestido, tudo isto porque foi ao programa para cozinhar um arroz de atum — acrescentado que aquela era uma receita de recurso para os dias mais atarefados, porque mesmo “quando não há tempo nem há nada em casa, há sempre atum, arroz e polpa de tomate”.

Depois de Marcelo, Assunção Cristas: líder do CDS cozinha para Cristina (e para a família)

A seguir, foi a vez de Luís Marques Mendes, ex-presidente do PSD e atual comentador político da SIC. Por fim, a quarta e última política a participar no programa de Cristina Ferreira, até António Costa ali ter participado, foi a eurodeputada e cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda às eleições para o Parlamento Europeu, Marisa Matias.

Quanto a António Costa, esta não foi a sua primeira presença em formatos orientados para o entretenimento e não para a política. Em julho de 2018, foi convidado do programa Cinco para a Meia-Noite, da RTP. Em março de 2018, um ano antes de ir ao programa de Cristina Ferreira na SIC, o primeiro-ministro já tinha sido capa da sua revista, que publicava uma entrevista sua no interior. Antes disso, a 5 de dezembro de 2015, menos de um mês depois de ter tomado posse, António Costa foi capa da revista Caras, juntamente com a mulher e os dois filhos.

António Costa na capa da revista Cristina