O investimento de sete milhões de euros realizado no âmbito da Rede de Judiarias de Portugal constitui para a diretora regional de Cultura do Centro uma “mais-valia determinante” para o desenvolvimento da região.
“Numa região que tem problemas que estão absolutamente identificados, do ponto de vista da desertificação dos territórios, a criação deste tipo de oportunidades de negócio pode vir a revelar-se no futuro, aliás, penso que já se está a revelar, neste momento, como uma mais-valia absolutamente determinante para o desenvolvimento da região”, disse Susana Menezes à agência Lusa.
O programa “Rotas de Sefarad, Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo de Culturas” desenvolveu-se entre 2014 e 2017 e teve como entidade promotora a Rede de Judiarias de Portugal.
A medida permitiu um investimento de sete milhões de euros (financiamento do programa EEA Grants, do Estado Português e dos municípios envolvidos) e teve uma execução superior a 95%.
Segundo a responsável pela Direção Regional de Cultura do Centro (DRCC), o programa permitiu reorganizar o património relacionado com a presença judaica e criar uma rota que, “do ponto de vista do turismo, de todas as atividades relacionadas com a indústria do lazer, é absolutamente estruturante”.
Para o futuro, adiantou que há “outras parcerias que poderão vir a ser potenciadas, nomeadamente com Espanha”, que também tem uma Rede de Judiarias.
“Há um caminho óbvio de internacionalização, que vai ser feito, como é evidente, mas há também investigação a ser aprofundada, desenvolvimento de outros estudos, para abrir potencialidades e para abrir outro leque de oportunidades dentro da região”, disse.
Susana Menezes valoriza o programa por permitir fazer a ligação do local com o global.
“Isto [Rede de Judiarias] liga-nos numa grande rede global com os Estados Unidos da América, por exemplo. Portanto, não apenas com países europeus, mas com países na América do Norte e até mesmo na América do Sul. A Rede pode consubstanciar uma ligação universal muito maior do que aquilo que neste momento até está a acontecer”, vaticina.
Um dos projetos apoiados pelo programa foi o Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes, em Vilar Formoso, Almeida, que abriu em agosto de 2017.
O presidente da Câmara Municipal de Almeida, António José Machado, disse à agência Lusa tratar-se de um equipamento “importante”, por “esbater a interioridade”.
“É com a ligação entre os equipamentos e a parte económica, da hotelaria, da restauração, que poderemos dar a volta ou, pelo menos, minimizar esta avalanche de despovoamento”, disse.
Segundo o autarca, o espaço, que possui seis núcleos expositivos relacionados com as temáticas “Gente como nós”, “Início do pesadelo”, “A viagem”, “Vilar Formoso fronteira da paz”, “Por terras de Portugal” e “A partida”, já acolheu cerca de nove mil visitantes nacionais e estrangeiros.
“Temos aqui várias segmentações de público. Segmentações a nível nacional e a nível internacional. Somos um museu recente, por isso ainda não muito conhecido no mercado turístico, mas já conseguimos captar algum, nomeadamente excursões, escolas, universidades, investigadores, professores, um pouco de tudo”, disse Fernanda Cruz, coordenadora do equipamento que custou cerca de 1,2 milhões de euros.
A responsável lança o desafio aos professores de História para que visitem o espaço, alegando que “vale a pena darem uma aula viva” naquele local.
Os habitantes de Vilar Formoso valorizam o projeto museológico por considerarem que tem contribuído para captar turistas.
Jorge Fonseca, proprietário de um quiosque/bar, disse que a movimentação de pessoas “melhorou um bocadinho” desde a inauguração do museu.
“Não é assim muito, mas faz diferença, bastante diferença. Ao fim de semana há sempre mais movimento”, declarou.
Manuel Costa, que possui um quiosque de venda de jornais, também reconhece que o equipamento cultural “trouxe mais movimento” ao largo da Estação da CP, onde se situa.
“As pessoas já se espalham, já ficam a almoçar, já é bom para os restaurantes e tudo”, disse.
Outra comerciante da vila, Maria José, admite que a obra “veio dinamizar” Vilar Formoso.
“É uma coisa boa. Precisamos é cá de outras obras como esta. Mas penso que sim, que é uma coisa boa e espero que traga, efetivamente, mais turistas”, afirmou.