Ao fim de dois anos de investigação, chega quase uma espécie de veredicto: a equipa do procurador especial Robert Mueller não encontrou nenhuma prova sólida de que a “algum representante ou colaborador da campanha de [Donald] Trump tenha conspirado ou coordenado de forma consciente” qualquer ato com operacionais russos para interferir e manipular a campanha de 2016 que elegeu o milionário do imobiliário como presidente dos Estados Unidos.
A equipa de Mueller estava também a investigar uma possível obstrução à justiça, um crime federal nos Estados Unidos, da parte do presidente norte-americano e de pessoas da sua equipa na Casa Branca. Mas também aqui não foram encontradas provas que fundamentassem uma acusação.
Donald Trump, que está na Florida, no seu luxuoso resort de Mar-a-Lago, já reagiu no Twitter: “Não houve conluio, não houve obstrução à justiça. Completa e totalmente ilibado”, escreveu o presidente norte-americano no Twitter referindo-se aos colaboradores acusados (e alguns condenados) pelo procurador especial Robert Mueller. O mesmo fez a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, que afirmou que Trump fica “totalmente ilibado” do caso com o relatório de Robert Mueller.
No Collusion, No Obstruction, Complete and Total EXONERATION. KEEP AMERICA GREAT!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) March 24, 2019
“As investigações do procurador especial [Mueller] não determinaram que a equipa da campanha eleitoral de Trump ou qualquer pessoa a ela associada se tenha coordenado com a Rússia nos seus esforços para influenciar a eleição presidencial norte-americana de 2016”, indicou Barr numa mensagem de correio eletrónico enviada ao Congresso dos Estados Unidos e tornada pública logo a seguir.
De acordo com a carta de quatro páginas revelada pelo New York Times e pelo The Guardian, Robert Mueller considera que não está em condições de concluir “num sentido ou noutro” sobre se o próprio Donald Trump ou alguém membro do gabinete da Casa Branca cometeu o crime de obstrução à justiça durante a investigação que começou em 2017.
Na missiva do procurador-geral William P. Barr, que no sistema norte-americano equivale ao ministro da Justiça por ser um membro do Governo, pode ler-se ainda que “este relatório [de Robert Mueller] não conclui que o presidente [Donald Trump] cometeu algum crime mas também não o iliba”.
No que diz respeito ao crime de obstrução à justiça, e tendo em conta que Rober Muller não chegou a nenhuma conclusão, o procurador-geral Barr faz questão de referir na sua missiva que ele próprio e o seu vice-procurador-geral (Rod Rosenstein) concluíram que as provas obtidas pela investigação “não são suficientes para afirmar que o presidente [Donald Trump] cometeu o crime de obstrução à justiça”.
A carta de Barr, que é um resumo das conclusões da investigação de Mueller, surge dias depois da investigação do procurador especial nomeado por Donald Trump ter terminado a sua investigação. Fonte do Departamento de Justiça, liderado pelo procurador-geral William P. Barr, citada pelo NYT, assegura que a equipa de Robert Mueller não vai produzir novas acusações.
Recorde-se que seis ex-colaboradores de Donald Trump já foram acusados ou até mesmo condenados de diversos crimes — a maioria dos quais por obstrução à justiça ou falsas declarações à equipa de Mueller. Os casos mais conhecidos verificaram-se com Paul Manafort, ex-diretor de campanha de Trump, e com Michael Cohen, o ex-advogado do presidente norte-americano.
Ex-advogado de Trump condenado a 3 anos de prisão por suborno
Mueller dá como provada a interferência russa nas eleições 2016
A investigação conduzida pelo procurador especial concluiu que houve mesmo interferência russa nas eleições presidenciais norte-americanas em que Donald Trump foi eleito. E isso aconteceu terá acontecido de duas formas:
- A primeira foi liderada organização russa Internet Research Agency (IRA), que tentou realizar campanhas de desinformação nos Estados Unidos para “semear a discórdia social, eventualmente com o objetivo de interferir na eleição”. No entanto, a missiva de William P. Barr sublinha que “o Conselho Especial não descobriu que qualquer funcionário ou membro da campanha de Trump tenha conspirado ou se tenha coordenado intencionalmente com o IRA”;
- A segunda forma envolveu membros do governo russo, que conduziram operações de hacking de computadores, com o objetivo de reunir e disseminar informações para influenciar as eleições. “O Conselho Especial descobriu que os atores do governo russo invadiram computadores com sucesso e obtiveram e-mails de pessoas afiliadas à campanha de [Hilary] Clinton e a do Partido Democrata. E divulgaram publicamente esses materiais através de vários intermediários, incluindo o WikiLeaks“. A investigação também não encontrou indícios de que Trump tenha estado envolvido nessas ações mas, segundo a carta enviada ao Congresso, foram acusados diversos militares russos de crimes federais por terem conspirado para levarem a cabo esses ataques informáticos.
A equipa de Robert Muller que chegou a estas conclusões foi composta por 19 juristas auxiliados por 40 agentes do FBI — Federal Bureau Investigation, analistas de informações e especialistas forenses, entre outros cargos. Muller emitiu mais de 2.800 intimações, executaram quase 500 mandados de busca, obtiveram mais de 230 pedidos quebra do sigilo de comunicação, fizeram 13 pedidos de cooperação judiciária internacional e interrogaram aproximadamente 500 testemunhas, lê-se na carta de Barr.
Democratas não desistem mas processo de impeachment perde força
De acordo com o NYT, o Partido Democrata deverá requerer à administração Trump que revele o relatório de Robert Mueller na íntegra, de forma que o mesmo seja tornado público. Os democratas querem também que o procurador-geral William P. Barr entregue todos os dossiês que a equipa de Mueller produziu ao longo destes dois anos.
Estas revelações do procurador-geral Barr, além de estarem a provocar uma surpresa geral na imprensa norte-americana, acabam por enfraquecer os argumentos dos democratas para iniciarem o processo de impeachment de Donald Trump.
Leia aqui a carta na íntegra que o procurador-geral William P. Barr enviou ao Congresso dos Estados Unidos.