Toda a zona sul do país está sem recolha de óvulos e espermatozoides para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), obrigando os dadores a deslocarem-se a Coimbra ou ao Porto, denunciou o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida.

A informação foi também confirmada à agência Lusa pela Associação Portuguesa de Fertilidade.

Segundo a presidente do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA), “a sul de Coimbra” não há recolha de gâmetas (óvulos e espermatozoides) para o SNS.

Uma pessoa de Lisboa, do Alentejo, de Santarém que queira doar generosamente, voluntariamente, os seus gâmetas ou vai a Coimbra ou vai ao Porto ou então não doa. Ou vai ao privado e continuamos com este défice de gâmetas doados no SNS”, afirmou a presidente do CNPMA, Carla Rodrigues, esta semana na Comissão Parlamentar de Saúde.

Carla Rodrigues adiantou que há um banco público de gâmetas no Porto e que “recentemente o Ministério da Saúde solicitou a colaboração dos centros de procriação medicamente assistida para que houvesse postos de recolha de gâmetas noutros serviços de saúde”.

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Aderiram o Centro Hospitalar de Coimbra e a Maternidade Alfredo do Costa, tendo passado a haver postos de recolha de gâmetas públicos no Porto, em Lisboa e em Coimbra, mas “a verdade é que o de Lisboa nunca funcionou”, salientou a presidente do CNPMA.

Ou seja, de Coimbra para baixo não há um posto de recolha de gâmetas e está a haver campanhas de sensibilização e as pessoas querem responder, mas não podem porque o SNS continua com os mesmos problemas. Não há gâmetas, mas também não facilita aos dadores que possam doar”, frisou.

“A Maternidade Alfredo da Costa veio dizer através de notícias de jornais que não tem recursos, não tem meios para recolher de dádivas, mas tem que haver recursos”, defendeu.

Em declarações esta sexta-feira à agência Lusa, a presidente da Associação Portuguesa de Fertilidade (APFertilidade), Cláudia Vieira, afirmou que a Maternidade Alfredo da Costa tem apresentado desde há alguns anos algumas dificuldades não apenas nesta questão da doação, mas também na sua capacidade de resposta aos casais que estavam a ser acompanhados.

“Temos tido um ou outro contacto de pessoas que teriam vontade de dar o seu contributo ou pelo menos perceber se estão em condições de serem dadores e dadoras, mas na impossibilidade de se deslocarem ao norte naturalmente procuram respostas mais próximo da sua área de residência, nomeadamente na zona da Grande Lisboa”, disse Cláudia Vieira.

Isto porque “há sempre a alternativa dos centros privados”.

Mas a associação gostaria que o SNS respondesse de forma adequada e que não condicionasse geograficamente quem quer contribuir.

Cláudia Vieira apontou como explicação para o posto de recolha da MAC não estar a funcionar a saída de técnicos e profissionais para unidades privadas.

Com estas saídas, acabaram por ter algumas dificuldades não apenas no corpo clínico, mas também na área de laboratório, o que também “condicionou muito a resposta aos tratamentos normais, que não envolviam qualquer tipo de doação”.

A APFertilidade já manifestou a sua preocupação com este problema ao centro para “perceber o que estava a ser feito”, ao Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, ao Ministério da Saúde e aos grupos parlamentares.

A situação começou “a agudizar-se um bocadinho na Maternidade Alfredo da Costa”, mas também outras unidades foram perdendo recentemente profissionais que “são imprescindíveis para dar uma resposta capaz aos casais que estão a ser acompanhados nas unidades públicas”, lamentou Cláudia Vieira.

A agência Lusa contactou o Ministério da Saúde que remeteu esclarecimentos para o Centro Hospitalar de Lisboa Central, que integra a Maternidade Alfredo da Costa, aguardando resposta.

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