A dias de se saber de o vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden, vai ou não entrar na corrida à Casa Branca, nos Estados Unidos, duas mulheres vieram manchar o seu percurso. Em apenas quatro dias, Biden foi acusado por duas mulheres de importunação sexual e até já se defendeu publicamente. “Em muitos anos de campanha eleitoral, e de vida pública, ofereci inúmeros apertos de mãos, abraços, expressões de afeto, apoio e conforto. Nem uma vez — nunca — acreditei ter agido inapropriadamente”, disse.

A declaração pública foi feita domingo, dois dias depois de a latino-americana Lucy Flores, funcionária da Assembleia do estado do Nevada, ter escrito um texto no site The Cut em que recordava quando, em 2014, aceitou a ajuda de Biden para ganhar as eleições e acabou por sentir que o então vice-presidente tinha abusado dela. Lucy Flores diz que Biden lhe pôs as mãos nos ombros quando estava a subir ao palco e lhe deu um beijo na nuca. O relato é de quem ficou ao mesmo tempo perplexo e na dúvida com o que estava a acontecer.

Senti-o a aproximar-se de mim por trás. Ele inclinou-se e cheirou o meu cabelo. Fiquei petrificada. Pensei para mim: ‘eu não lavei meu cabelo hoje e o vice-presidente dos Estados Unidos está a cheirá-lo. E, também, que se lixe. Por que é que o vice-presidente dos Estados Unidos está a cheirar o meu cabelo?’ Ele começou por dar um grande e lento beijo na parte de trás da minha cabeça. O meu cérebro não conseguiu processar o que estava a acontecer. Estava envergonhada. Fiquei chocada. Confusa”, descreve.

https://twitter.com/thehill/status/1112857690886299650

Naquele momento Lucy Flores foi chamada ao palco. E, segundo descreve no relato onde publica uma fotografia com Biden e com a atriz Eva Longoria, foi o momento que mais queria que chegasse, para se afastar dele. Flores diz que durante anos pensou naquele episódio e quando o relatou a um membro do circulo de Biden, que a avisaram que seria desacreditada. Ainda assim, optou por falar. Esta segunda-feira publicou na rede social uma mensagem em que dizia que “infelizmente” o que temeu que acontecia, aconteceu. Como a qualquer mulher que aponte o dedo a um homem poderoso.

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Esta terça-feira os jornais internacionais dão conta de mais um relato de uma mulher que também sentiu a alegada investida de Biden. A BBC, por exemplo, conta que Amy Lappos, de 43 anos, disse que há dez anos o então vice-presidente a agarrou na cara, com as duas mãos, e tocou o nariz dele no dela. A ex-assessora de um deputado do Partido Democrata acusa-o de lhe ter tocado de forma inapropriada durante uma angariação de fundos numa casa privada em Hartford, Connecticut, em 2009. Ao jornal Hartford Courant, contou que tudo aconteceu na cozinha, onde estavam para agradecer a ajuda de um grupo de pessoas. “Afetos indesejados não são bons. Transformar a mulher num objeto não é bom”, disse.

Um porta-voz de Biden respondeu a esta nova acusação recorrendo à declaração do político feita no domingo, já depois da denúncia de Flores. “Em muitos anos de campanha eleitoral, a de vida pública, ofereci inúmeros apertos de mão, abraços, expressões de afeto, apoio e conforto. Nem uma vez — nunca — acreditei ter agido inapropriadamente”.” Mas chegámos a um altura em que a mulheres sentem que podem e devem relatar as suas experiências e que os homens devem prestar-lhes atenção. E eu prestarei”.

Biden e o ex-presidente Barack Obama eram conhecidos pela sua amizade próxima e eram vistos frequentemente a jogar golf juntos. Biden chegou mesmo a dizer que Obama lhe ofereceu ajuda financeira quando o filho ficou doente. Obama publicou no Twitter uma foto com ele, pelo seu aniversário em 2017, que ele era como um irmão. E que era também o melhor vice-presidente que alguém podia ter.

Na segunda-feira, um porta-voz de Biden também acusou os “trolls da ala direita” de andarem a divulgar imagens do vice-presidente a interagir com várias mulheres nos últimos anos para tentar provar estes comportamentos.