Os combustíveis tradicionais, sejam eles gasolina ou gasóleo, são obtidos através da refinação do petróleo. Porém, com os biocombustíveis a conversa é outra. Se bem que possam recorrer a uma percentagem diminuta de combustíveis clássicos, a maior parte – e em alguns casos até a totalidade – é produzida à custa de produtos de origem biológica e não fóssil. Ou seja, em vez de crude extraído das profundezas, é gerado pelo processamento de plantas e produtos agrícolas.

É claro que num planeta em que abundam locais em que a fome é um flagelo, não faz muito sentido semear cana-de-açúcar, milho ou beterraba apenas para fabricar combustível. Por isso mesmo, a Seat decidiu criar o projecto Life Methamorphosis, que visa produzir biocombustível a partir daquilo que todos os dias deitamos fora: o lixo. O projecto arrancou em Barcelona, onde cada espanhol gera cerca de 1,5 kg de lixo por dia, ou seja, um total para a cidade de 2,5 milhões de quilogramas.

Desta muito respeitável quantidade de resíduos, de momento apenas cerca de 40% é reciclado, o que deixa um potencial brutal para reaproveitamento do restante. Segundo Andrew Shepherd, o líder do projecto na marca espanhola, com todo o lixo orgânico que é gerado pela população, seria possível colocar 10.000 veículos a percorrer 15.000 km por ano (cada) – o que constituiria uma economia notável para a carteira e para o ambiente.

O Life Methamorphosis parte de uma ideia que não é nova e está por demais testada. Passa por juntar lixo orgânico e excremento, forçar a sua decomposição sem a presença de oxigénio e aproveitar o gás que daí emana, na essência metano. Este biogás (com 65% de metano) é depois refinado até ter a qualidade necessária para se tornar um combustível para motores.

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Na realidade, este biometano é um gás com um comportamento similar ao gás natural (o metano é, aliás, o seu maior constituinte), quimicamente muito simples (a sua molécula CH4 é apenas constituída por um átomo de carbono e quatro de hidrogénio, possuindo por isso muito menos carbono do que a gasolina ou o gasóleo), podendo ser abastecido de forma similar ao gás natural e queimado pelo mesmo tipo de motores (a gasolina).

A Seat já está a testar o biometano em quatro veículos, um Arona e três Leon, com a finalidade de avaliar a reacção da mecânica ao novo combustível. Após os primeiros 30.000 km, os motores serão desmontados e analisados, com o projecto a avançar caso tudo esteja perfeito, à semelhança do que já acontece com a frota de veículos alimentados por gás natural que o construtor espanhol já tem em circulação.

A unidade protótipo que a Seat pensa montar em Barcelona será capaz de produzir biometano suficiente para alimentar, anualmente, 3.750 veículos numa volta ao mundo.  Com a vantagem de emitir menos 80% de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera.