O vice-presidente do Sindicato Motoristas Matérias Perigosas (SNMMP), Pedro Pardal Henriques, admitiu esta segunda-feira a possibilidade de uma nova greve, caso a Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) não aceite que o salário base corresponda a dois salários mínimos nacionais e se não for criada uma carreira específica.

Questionado à saída da reunião (sem acordo) entre o sindicato e a ANTRAM sobre se uma nova greve está em cima da mesa, Pedro Pardal disse apenas: “Muito provavelmente”. O vice-presidente sindical considerou uma “afronta” o facto de o representante da ANTRAM, segundo as suas declarações, “não vir preparado”.

Trouxemos hoje uma proposta de um contrato coletivo de trabalho com mais de 70 artigos. A ANTRAM disse que foi surpreendida pelas nossas reivindicações. Nós não estamos a reivindicar nada a mais do que aquilo que já foi reivindicado ainda antes de iniciarmos a greve”, disse Pedro Pardal Henriques.

O vice-presidente do SNMMP adiantou ainda que deu um prazo de uma semana à ANTRAM para que “se pronuncie concretamente sobre os dois principais temas que estão em cima da minha: reconhecimento oficial da categoria de motorista matérias perigosas e o salário base destas pessoas ser igual a dois salários mínimos nacionais”. “No final desta semana, veremos quais são as formas de luta que iremos utilizar“, acrescentou ainda.

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Do outro lado nas negociações, a ANTRAM pareceu desvalorizar a possibilidade de uma nova greve. Pedro Polónio, presidente da direção nacional, explicou que “a ANTRAM não trabalha com ameaças de greve. Aceitamos aquilo que é fazível e que faz sentido”. Em declarações à saída da reunião, Pedro Polónio confirmou que a ANTRAM, “naturalmente, não trazia nenhumas respostas porque não tinha, em primeiro lugar, tido acesso a uma proposta integral e, por outro lado, foi estabelecido um calendário de negociações até ao final deste ano”. “Como tal, achamos que não se pode querer respostas imediatas. É preciso refletir”, acrescentou.

O presidente da ANTRAM adiantou ainda que o objetivo desta reunião “foi ouvir o sindicato” e que agora irá pensar sobre ela. “De amanhã a oito dias, há uma nova reunião onde vamos tentar continuar as negociações — que foi para isso que nos propusemos“, acrescentou Pedro Polónio.

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A primeira reunião após a desconvocação da greve que conseguiu esvaziar cerca de metade das bombas de gasolina do país em apenas dois dias. O Governo, através do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, conseguiu um acordo para pôr um ponto final na paralisação, definindo um calendário de negociações. Esta era a primeira reunião.

Para representar o Governo neste processo negocial onde é mediador, foi indicado Guilherme Dray, um advogado especialista em direito de trabalho que foi chefe de gabinete de José Sócrates no segundo Governo liderado pelo socialista. O nome de Guilherme Dray é avançado pelo jornal online Eco. O advogado já esteve envolvido nas negociações entre o sindicato dos estivadores e as empresas do setor durante a paralisação no Porto de Setúbal. Guilherme Dray foi também chefe de gabinete de Mário Lino, ministro das Obras Públicas, que em 2008 enfrentou um bloqueio de camionistas que também teve forte impacto no abastecimento de combustíveis.

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