Marcelo Rebelo de Sousa elegeu Joe Berardo como figura do ano na economia nacional em 2007. Na altura, o comentador político utilizou o seu espaço de opinião na televisão para distinguir o comendador Joe Berardo pelo papel decisivo que tinha tido na definição do futuro do BCP, um grande banco nacional que no verão de 2007 entrou num período de crise com o confronto aberto entre o fundador Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto, outrora o seu “delfim”.

Foi a 16 de dezembro de 2007, como recordam as notícias em arquivo do Correio da Manhã. Além do envolvimento na luta pelo poder no BCP, Marcelo acrescentava que o investidor madeirense merecia a distinção pelo papel relevante na área da cultura, com a abertura do Museu de Arte Contemporânea.

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Nos últimos anos percebeu-se, porém, que o grosso do investimento de Joe Berardo nas ações do BCP — que lhe garantiram a influência que teve no derrube de Jardim Gonçalves — foi feito graças a créditos que foram concedidos pelo banco público, a Caixa Geral de Depósitos, créditos cujas condições (na concessão e nas sucessivas reestruturações) foram escrutinadas pela auditoria da EY sobre a gestão da CGD entre 2000 e 2015, que está em discussão na comissão parlamentar de inquérito.

No âmbito dessa comissão parlamentar de inquérito, o empresário Joe Berardo falou na sexta-feira passada sobre a derrocada do valor das ações que se seguiu — reconhecendo que foi o pior negócio que fez na sua vida (“um desastre”) mas salientando que as dívidas que foram contraídas não são “pessoalmente” suas mas, sim, da Fundação Berardo e de entidades relacionadas com o comendador.

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Em 2007, Berardo teve um pico de atenção mediática, também com o lançamento da OPA sobre as ações do Benfica, mas dizia que continuava “à espera do dia que as pessoas percebam que o dinheiro não é tudo na vida”. “Não sou tão importante como Gulbenkian, mas quase, no sentido em que tenho ajudado muita gente com bolsas de estudo”, acrescentava o comendador.

Na altura, era José Sócrates primeiro-ministro, Berardo defendia que “Portugal precisa de um primeiro-ministro com a coragem dele para dar uma reviravolta ao país. Se queremos acompanhar a competititvidade do mundo, temos que ter líderes como ele [Sócrates] senão estamos tramados”.

No mesmo dia em que elegeu Joe Berardo como grande figura no meio empresarial, Marcelo Rebelo de Sousa escolheu, também, Aníbal Cavaco Silva como principal personalidade na área política, em 2007, porque tinha sido um ano em que Cavaco “não cometeu erros”. Marcelo viria a suceder a Cavaco Silva na presidência em 2016.