John Bunn tinha 15 anos quando foi condenado a 20 anos de prisão por alegadamente ter sido cúmplice no homicídio de um polícia de Rikers Island. Apesar das escassas provas, e de sempre ter negado o seu envolvimento no crime, Bunn foi obrigado a passar toda a sua juventude atrás das grades. Foi, contudo, enquanto vivia o seu “pesadelo” que descobriu o seu “sonho” — a literatura. Finalmente declarado inocente, Bunn dedica atualmente os seus dias a levar livros a quem não os tem.

O “pesadelo” de John Bunn começou no verão de 1991. Tinha apenas 14 anos quando, a 14 de agosto, foi levado da cozinha da mãe para uma esquadra em Brooklyn, onde foi interrogado por Louis Scarcella, um polícia que, ao longo da sua carreira, fez com que mais de uma dezena de homens fossem condenados injustamente.

O inspetor disse-lhe que ele e um outro rapaz mais velho, Rosean Hargrave, de 17 anos, que vivia no mesmo bairro que Bunn, Crown Heights, eram suspeitos de terem assassinato um polícia chamado Rolando Neischer no dia anterior, 13 de agosto. Neischer era de Rikers Island, Nova Iorque, e estava de folga quando foi abordado por dois jovens de bicicleta em Crown Heights. Estes apontaram-lhe uma arma e disseram-lhe que saísse do carro onde estava com o amigo e colega Robert Crosson. Crosson conseguiu fugir, mas Neischer decidiu ripostar. Levou cinco tiros e morreu três dias depois no hospital.

Durante o interrogatório, John Bunn garantiu que nada sabia sobre o assassinato de Neischer. Scarcella disse que não acreditava nele. O rapaz foi atirado para dentro de uma cela cheia de adultos muito maiores do que ele. Bunn tinha pouco mais do que 1,70 metros de altura. “Desde então que tenho lutado para provar a minha inocência”, declarou em entrevista à CNN.

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Bunn foi formalmente acusado de furto e homicídio a 17 de agosto de 1991 com base numa única testemunha — Robert Crosson, que o tinha identificado a ele e a Rosean Hargrave na esquadra de Scarcella. Aguardou julgamento durante 16 meses, no centro de detenção juvenil Spofford, que foi encerrado em 2011 depois de inúmeras queixas de violência e abuso. Foi condenado a 20 anos de prisão em novembro de 1992 (a pena foi posteriormente reduzida para nove anos depois de a defesa ter alegado que o jovem tinha sido acusado como um adulto). Hargrave a 30.

Apesar da sua situação, John Bunn nunca desistiu. Quando foi preso, não sabia ler nem escrever; aos 17 anos, lia tudo o que lhe aparecia à frente e que levava da biblioteca da prisão. “Escrevi um dia à minha mãe… E disse: ‘Podem trancar o meu corpo, mas não podem trancar a minha mente’”, contou à CNN. A literatura tornou-se no seu maior apoio e é por isso que hoje, dois anos depois de ele e Hargrave terem sido finalmente declarados inocentes, dedica todo o seu tempo a divulgar a importância da leitura entre jovens carenciados e reclusos.

“A leitura mudou a minha vida. Quero partilhar essa experiência com outras pessoas”, afirmou. Foi com esse objetivo que abriu uma biblioteca em Rikers Island, que começou um projeto de leitura que leva livros às comunidades mais carenciadas e que trabalha regularmente com jovens reclusos, de 16 e 17 anos. “Não existe melhor sensação do que sentir que existo com um propósito”, garantiu à CNN. “E isto é o que dá à minha vida um propósito.”