O secretário-geral da Comissão Europeia defendeu hoje que nenhum cenário deve ser excluído na distribuição dos cargos de topo da União Europeia, afirmando que acredita que conservadores, socialistas e liberais alcançarão um consenso para criar uma ampla maioria pró-europeia.

Intervindo na conferência “O dia depois das eleições europeias: o que se segue para a Europa?”, Martin Selmayr considerou que os resultados do escrutínio europeu requerem que o Partido Popular Europeu (PPE), vencedor com 180 assentos, Socialistas e Democratas (S&D), que somaram 146 eurodeputados, e Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (ALDE), que ascendeu a terceira força com 109, “trabalhem em conjunto, “também em colaboração com os Verdes”.

“Todas estas forças democráticas pró-europeias terão de trabalhar em conjunto. Se quisermos que a União Europeia (UE) funcione, que não fique paralisada — algo que só beneficiaria os populistas -, penso que amanhã [terça-feira] à noite [no Conselho Europeu] nenhum cenário deve ser excluído. Devemos assegurar que as forças democráticas se sentam a dialogar, elaboram um programa e aí escolham os líderes que poderão levar a cabo esse projeto”, sustentou.

O secretário-geral do executivo comunitário disse ter a certeza de que Manfred Weber, o candidato do PPE, Frans Timmermans, o ‘spitzenkandidat’ socialista, e Margrethe Vestager, o principal rosto da equipa de sete candidatos do ALDE, irão sentar-se à mesa com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, seja em conjunto ou no formato de reuniões bilaterais, para dialogar e chegar a um acordo quanto ao nome que sucederá a Jean-Claude Juncker na presidência do executivo comunitário.

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“Ninguém está interessado em ter uma crise institucional. Estou convencido que nestas consultas, Donald Tusk vai perceber qual a opção viável e vão chegar a um consenso para formar uma maioria ampla pró-europeia”, completou, assumindo que seria bom que o processo de escolha do próximo presidente da Comissão Europeia estivesse concluído no verão.

Defensor acérrimo do modelo ‘spitzenkandidaten’ — chegou mesmo a sugerir que concluir este processo é a única forma de respeitar a democracia -, Selmayr considerou que o consenso entre as forças pró-UE passará primeiro pelo “delinear do programa” do próximo executivo e só depois pela distribuição dos lugares de topo da UE.

“Por exemplo, os Verdes estão centrados no conteúdo, uma mensagem que foi reiterada ontem por Ska Keller. Esta onda ecologista europeia ficará plasmada no programa da próxima Comissão. Conhecendo os Verdes, que são idealistas, estarão mais preocupados com o conteúdo do que com o próximo presidente do Conselho”, anteviu.

A ‘Guerra dos Tronos’ das instituições europeias inclui não só a presidência do executivo comunitário, mas também a presidência do Conselho Europeu e o cargo de Alto Representante da UE para a Política Externa, e ainda a presidência do Parlamento Europeu e do Banco Central Europeu.

“O desafio dos últimos anos foi que todos os cargos de topo estavam nas mãos do PPE. Tenho muito respeito pelos meus colegas do PPE, mas espero que agora haja uma distribuição de cargos entre as forças mais votadas. Espero que as negociações sejam mais equilibradas”, defendeu a comissária europeia dos Transportes, Violeta Bulc, uma das candidatas do ALDE, que iniciou a sua intervenção identificando os dois grandes vencedores da noite eleitoral: a UE e o seu grupo político.

Bulc escusou-se a esclarecer se os liberais, muito críticos de Manfred Weber, estariam dispostos a apoiar o alemão como próximo presidente da Comissão Europeia, caso este cedesse em alguns temas fundamentais para o ALDE.

“Penso que hoje não estamos a falar de nomes. As negociações irão começar já esta semana. Estamos todos empenhados em que o funcionamento da UE não seja interrompido”, afiançou.

O nome de Weber, aquele que, nas palavras do diretor de campanha do PPE, Dara Murphy, é o candidato com maior legitimidade para ser o próximo presidente da Comissão, parece, contudo, ser o maior obstáculo no diálogo entre as forças pró-europeias, pelo menos para os Verdes, que elegeram 69 eurodeputados.

“Os eleitores deram-nos um mandato para a mudança. Ouvindo os discursos de ontem, todos os candidatos mencionaram essa mudança. A única pessoa que não falou de mudança foi Manfred weber. Não consigo imaginar que não tenha ouvido a mensagem, mas se ele quer liderar tem de ouvi-la e percebe-la. Tenho sérias dúvidas que o faça”, preconizou o eurodeputado ecologista Reinhard Bütikofer.