Portugal está “no bom caminho”, defendem os economistas do Credit Suisse numa nota de análise onde o banco de investimento antecipa que, apesar da desaceleração previsível, a economia deverá crescer mais do que a média europeia em 2019 — o que, a confirmar-se, irá acontecer pelo quarto ano consecutivo. O que mais preocupa o Credit Suisse, porém, é o baixo investimento — tanto no setor privado como no setor público, onde o corte no investimento foi uma das formas de compensar as reversões das políticas do governo anterior, lembra o banco.

Numa nota de análise a que o Observador teve acesso, difundida pelos clientes do banco suíço nesta segunda-feira, o Credit Suisse antecipa que, depois do crescimento de 2,1% em 2018, a perspetiva é que o Produto Interno Bruto (PIB) aumente 1,5% em 2019 — em 2020, nova desaceleração, para 1,2%.

Em 2019, o crescimento mais baixo acabará, no entanto, por se comparar favoravelmente com os 1,0% que o PIB na zona euro deve crescer neste ano. Contudo, a confirmarem-se as estimativas do banco suíço, Portugal voltará já em 2020 a crescer menos do que a média da zona euro (1,2% contra 1,4%), uma interrupção da trajetória de recuperação depois de, nos anos piores da crise, a economia se ter contraído em Portugal mais do que a média europeia.

A criação de emprego deve estabilizar e o consumo privado deve tornar-se mais moderado. A confiança do consumidor já começou a afastar-se dos máximos (…) e a taxa de poupança historicamente baixa deverá limitar o consumo privado daqui para a frente”.

Consumidor menos confiante pode gelar a economia?

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No futuro próximo, o crescimento económico ainda deverá encontrar suporte nos aumentos de rendimentos, “relacionados com a decisão deste Governo de descongelar as progressões nas carreiras dos funcionários públicos”. Porém, o Credit Suisse sublinha que em 2018, “pelo segundo ano consecutivo, o emprego cresceu a um ritmo mais elevado do que o PIB, o que levou a mais uma ligeira perda de produtividade”.

Portugal continua a ser um dos países menos produtivos na zona euro. Melhorias nessa área serão cruciais para que possamos ver os salários e os padrões de vida a melhorar e para que o país consiga atrair talento para o país”.

Corte no investimento para compensar “reversões”

O Credit Suisse justifica o “elevado” crescimento de 2,1% em 2018 — o terceiro ano consecutivo de crescimento acima da média do euro — com dois fatores: “a recuperação cíclica após a recessão de 2011-2013 e, por outro lado, a decisão do governo, em 2011, de aplicar algumas das medidas de austeridade mais fortes que foram impostas pela UE/FMI”.

O banco recorda que, no final de 2015, “o novo primeiro-ministro, António Costa, formou um governo de maioria de esquerda e rapidamente passou a reverter algumas das medidas de austeridade mais duras, que tinham sido impostas pela UE/FMI”.

“O governo [de António Costa] aumentou os salários, as pensões e lançou medidas para estimular a economia”, lembra o Credit Suisse, acrescentando que, “para compensar o efeito dessas medidas nas finanças públicas, Costa baixou outras despesas e diminuiu o investimento”, nota a economista Anaïs Boussié.

Este é um dado que preocupa o Credit Suisse porque, com a desaceleração do consumo interno e, também, nas exportações, “Portugal precisa muito de ter mais investimento”. Nos cálculos do banco de investimento, a proporção do investimento (público e privado) no PIB é de apenas 18%, o que compara com 24% antes da crise.

O nível de investimento ainda não conseguiu recuperar dos níveis pré-crise”, lamenta o banco suíço, argumentando que uma das “vulnerabilidades” da economia é que continua a não ser “suficientemente diversificada para aguentar choques de maior dimensão” e seria necessário “um grande volume de investimentos para ajudar Portugal a superar os seus principais problemas estruturais” — designadamente “a proporção relativamente elevada de trabalhadores pouco qualificados”.

O Credit Suisse diz que é “encorajador” ver que no país estão a “ser criados novos empregos em setores mais produtivos” mas, ainda assim, continuar “as reformas estruturais que foram iniciadas, apostar nas qualificações e na reafetação de recursos no sentido de setores mais promissores (vocacionados para a exportação) serão fatores-chave para solucionar os desequilíbrios da economia”.