“Em pequeno, como não havia infantários, o meu pai deixava-me aqui e ao meu irmão depois da escola e passávamos o dia inteiro com os meus avós. Desde os meus seis anos que estou dentro desta casa, pois o meu avô era guarda na Casa Museu, inclusive, morava onde hoje é o By the Wine – Azeitão, a segunda flagship store da marca, integrada na Casa Museu. Todos os dias íamos com ele fazer a volta, depois de todos os trabalhadores terem saído. Passávamos, por exemplo, pela Adega dos Teares Novos onde estão os cascos do Periquita. Ali, ele costumava levar a lanterna e, quando via que havia pequenos furos nas pipas, tapava-as com papel pardo, para estancar o correr do vinho. Isto para nós era um encanto”. Telmo Glória tem 44 anos e faz parte da quarta geração a trabalhar “nesta casa”, que é a José Maria da Fonseca , berço do Periquita. “Trabalharam cá os meus bisavós, avós e pais. Atualmente trabalho eu e o meu irmão.” É encarregado de Refrigeração e Acabamentos e a sua história profissional começa há cerca de duas décadas. Mas a sua ligação à empresa é umbilical, como se vê, e, se hoje bebemos um Periquita de qualidade, deve-se também ao esmero daquele seu avô.
Entretanto, os anos passaram, estudou Arte e Design e fez o conservatório de música. “O design ficou para trás, mas a música continua, já que também dou aulas. De qualquer forma, ainda não pensava ficar aqui e já ia tocar à Confraria do Periquita. Todos os anos, a banda da terra é convidada para ir tocar e eu também vou, toco a percussão.” A ligação à casa, porém, não se extinguiu. “A partir dos 14-15 anos, começámos a trabalhar nas férias do verão. Nos meses de junho e julho juntavam-se os filhos de alguns trabalhadores e vínhamos arrumar garrafas na cave e ajudar nas linhas, a formar caixas, ou qualquer outra coisa que fosse necessário fazer. Isto, para nós, era uma aventura e era uma forma dos nossos pais nos ensinarem o valor do trabalho.”
Há cerca de 21 anos começou a trabalhar “a sério” aqui. “Iniciei do lado de lá (na Casa Museu), vim depois para a adega, onde estive 13 anos, e há sete que estou à frente da seção de Refrigeração e Acabamentos”.
Esta é a sua casa e aqui conta ficar, à semelhança do seu pai, que trabalhou sempre nos escritórios, e só fez um breve interregno na sua colaboração no período em que esteve na Guerra do Ultramar. Telmo Glória refere as vantagens de morar próximo do local de trabalho, mas também o “ambiente espetacular” e o facto de sempre ter gostado de trabalhar com o vinho, como alguns dos fatores que não o farão sair daqui facilmente. Os seus dois filhos – de dois e 14 anos – já vão conhecendo algumas histórias de cor e, quem sabe, se não virão a contar as suas às gerações vindouras? Não só a do papel pardo, mas também a do enorme relógio que o seu avô levava nas rondas e que picava em todas as zonas vistoriadas. “Era uma aventura! Se bem que às vezes o meu avô também nos ralhava, porque fugíamos ou nos escondíamos. É assim que conheço todos os cantos daquela casa”.
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