Abo Aqil. É este o nome do homem que abriu caminho a que Steve Duarte se juntasse ao Estado Islâmico. Pelo menos, é o que diz este jihadista com dupla nacionalidade (portuguesa e luxemburguesa) numa entrevista à Rudaw TV, um canal de televisão curdo. Em 2014, juntou-se ao Estado Islâmico e, dois anos depois, terá aparecido num vídeo de propaganda do ISIS, no qual cinco reféns, identificados como traidores do Estado Islâmico, são executados — um deles, pelo jihadista português. Steve Duarte encontra-se atualmente detido na Síria e mostra-se arrependido: “Cometi um erro. Estou pronto para ir para a cadeia”.

O homem de 32 anos entra numa sala vestido com um macacão cor de laranja. Senta-se numa das duas cadeiras que se encontram na sala da prisão — o local não foi revelado a pedido dos serviços prisionais, por razões de segurança. E, começando por dizer que é do Luxemburgo, recua a 2014 para explicar como se radicalizou.

Steve Duarte tem atualmente 32 anos e encontra-se detido na Síria

O objetivo inicial, conta, era ir para a Península Arábica para formar-se em estudos religiosos. “No entanto, há condições que estas zonas têm para entrar numa boa escola. Aqueles que queriam entrar em escolas destas tinham de ter um diploma — eu não tinha um. Os alunos tinham de ter menos de 25 anos e eu sou mais velho. Foi por isso que não me pude matricular numa escola deste tipo”, explica na entrevista. Foi por isso também que entrou em contacto com Abo Aqil, no Facebook, que lhe sugeriu que viesse para a Síria.

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Ele é uma pessoa nomal. Nós falávamos normalmente e começámos a falar todos os dias sobre estas coisas. Disse-lhe que era ok. Se havia uma escola, ia e ficava com o meu diploma em estudos religiosos. Nessa altura, li vários livros sobre a Síria”, disse ao canal Rudaw.

Do Luxemburgo, viajou de avião para Istambul. Dali, viajou de autocarro até chegar à cidade síria de Jarablus. “Fiquei em Jarablus durante 17 dias sem ver nada. Estava numa base, e não consegui ver nada por 17 dias. A certa altura, um homem — sim, um homem — veio e leu todos os nomes que estavam numa lista. O meu nome estava lá. Ele disse que tinha de ir treinar para o acampamento naquele momento. Disse sim, mas que tinha ido para ali para ir à escola. Ele disse que iam ver isso depois. Então, ficámos lá no acampamento durante quase um mês”, contou.

Apenas dois meses depois de estar no campo de treino, eles queriam enviar-me para uma ação militar, mas eu disse que não queria combater. Disse que eu só queria aprender estudos religiosos. No entanto, um dos administradores do acampamento disse-me que não havia escolas naquela altura. Então perguntou-me o que é que eu poderia fazer”, contou.

Steve Duarte ou Abu Muhadjir Al Andalousi (o seu nome de guerra) terá dito que podia tirar fotos ou gravar vídeos. “Ele disse que estava tudo bem, que eu ia para o departamento de media”, recorda. Acabou por ficar nesse departamento dois meses. Há fortes suspeitas de que foi este português quem surgiu num vídeo de propaganda, em fevereiro de 2016. Steve Duarte será um dos terroristas portugueses que consta na lista do Governo (por revelar).

Governo sabe quantos terroristas portugueses existem, mas não o revela (para já). E prepara regresso dos seus familiares

O homem de 32 anos conta depois que foi atingido por uma explosão de uma bala na coluna. “Não me consegui mexer durante seis meses e meio. Precisei de reabilitação. Transferiram-me para o departamento dos feridos. Deram-me uma renda mensal e fiquei lá durante seis, seis meses e meio, ou sete meses”, disse, acrescentando:

“Houve uma separação entre o trabalhos. Havia o trabalho militar e o trabalho de media. E apenas fotografava lugares lindos. Apenas isso. Disse-lhes que não queria lutar”

Tem dois filhos — um rapaz de três anos e uma menina de dois — e está casado com uma mulher africana — uma ex-emigrante francesa — que não sabe onde está. Sob Steve Duarte pense um mandado de captura internacional emitido pelas autoridades do Luxemburgo. Agora, quer voltar para a Europa: “Estou a pensar em voltar para o Luxemburgo para cumprir uma pena de prisão. Cometi um erro e esse erro merece uma pena. Estou pronto para ir para a cadeia”.