Carlos Ghosn é um dos maiores nomes da indústria automóvel mundial, tendo sido o grande obreiro da recuperação da Renault – em 1996, quando foi contratado pelo então CEO Louis Schweitzer para a salvar de uma situação de quase falência –, para depois ter sido incumbido da salvação da Nissan, também ela à beira da falência, salva pela compra de 43,4% por parte da Renault. Hoje recaem sobre ele uma série de acusações estranhas, como a de ter pago luxos próprios com fundos da Nissan e de não ter declarado ao fisco a totalidade do que recebia, enquanto era chairman de uma empresa que tinha um CEO (japonês), um director financeiro (japonês) e um grupo de accionistas que controlam 56,6% do capital.

Apesar do Governo japonês, Renault impõe-se na Nissan

Sabe-se hoje que a investigação foi encomendada pela Nissan e que o próprio Governo japonês interferiu no processo, tudo para evitar que os franceses continuassem a mandar na Nissan e avançassem com uma fusão com a Renault e a Mitsubishi que transformasse a companhia nipónica numa parte menor de uma entidade europeia. Até a Renault acusa a Nissan de ter tratado Ghosn de forma ilegal e desumana, tentando forçar uma confissão, prática habitual no Japão que explica a taxa de condenação extremamente elevada.

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As acusações que pesam sobre Ghosn, e que ainda carecem de prova, beliscam a imagem do gestor, mas não são melhores para a imagem da Nissan, nem do Japão. Serão dirimidas em tribunal mas, até lá, o antigo chairman continua preso. Está detido deste Novembro de 2018 e em prisão domiciliária desde Abril, não estando ainda agendado o julgamento – o que tão pouco abona em relação à justiça japonesa.

Aproveitando a cimeira dos G20 em Tóquio, Ghosn marcou uma entrevista e tudo indicava que pretendia contar o que os nipónicos – empresa e Estado – não devem estar particularmente interessados que se saiba. Repentinamente, a apenas duas horas e meia do evento, Ghosn anulou a reunião com os repórteres sem revelar o motivo, de acordo com a Autonews. Não foi esta a primeira vez que o ex-chairman da Nissan anula à última hora uma conferência de imprensa, já que a 11 de Abril fez o mesmo, mas dessa vez porque o procurador japonês decidiu prender o quadro da Renault.

Nissan arrisca multa de 32,5 milhões de euros

Enquanto se aguarda o julgamento de Carlos Ghosn, também a Nissan está em vias de ser punida e de forma mais severa. Se o gestor francês arrisca uma multa de 1,2 milhões de euros, caso tudo lhe corra mal, além da pena de prisão – de recordar que, por declarações incorrectas ao fisco espanhol, Ronaldo pagou 18,8 milhões de euros, sem passar pela prisão –, a Nissan arrisca ter de pagar uma multa de até 32,5 milhões de euros, segundo o New York Times.

De acordo com a publicação, a entidade governamental que controla a actuação das empresas cotadas em bolsa suspeita que o construtor japonês não declarou tudo o que pagava a Ghosn. O organismo oficial vai agora arrancar com uma investigação formal até final do mês, com a Nissan a estar exposta à tal penalização de 32,5 milhões de euros. Entretanto, a CMVM nipónica informou o construtor que, caso regularize as declarações em falta até se iniciar a investigação, a multa em que incorre desce para 20 milhões. Ghosn não terá sido alvo desta abertura por parte das entidades reguladoras japonesas.