Haya bint al-Hussein, mulher do vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos e emir do Dubai, vai enfrentar o marido, Mohammed bin Rashid Al Maktoum, num tribunal em Londres, para onde fugiu na semana passada, avançou esta terça-feira o jornal britânico The Guardian. A princesa Haya e os dois filhos — Jalila de 11 anos e Zayed de sete — poderão estar debaixo da proteção da família real britânica, de quem é uma amiga próxima e vizinha numa mansão junto ao Palácio de Kensington.
Sete meses depois do desaparecimento da princesa Latifa, filha de Mohammed bin Rashid Al Maktoum que fugiu do Dubai mas acabou por ser apanhada na Índia e obrigada a regressar a casa, a princesa Haya também escapou dos Emirados Árabes Unidos para se divorciar do emir do Dubai — de quem é a sexta mulher. Escolheu o Reino Unido como destino por ter sido lá, na Universidade de Oxford, que estudou filosofia, política e economia.
As suspeitas de uma separação entre os dois membros da família real começou quando Haya não apareceu em Ascot, o célebre evento marcado pelas corridas de cavalos e parada de chapéus exuberantes, onde era presença assídua. Nessa altura, já devia ter escapado do Dubai. No entanto, a princesa terá admitido que temia pela segurança pessoal em Londres. E terá pedido asilo à Alemanha, abrindo assim um conflito diplomático entre o país e os Emirados Árabes Unidos.
Mas a história não acaba aqui. A imprensa britânica noticia que antes destas corridas a rainha Isabel II recebeu Haya no palácio de Windsor e que lhe terá dado proteção num dos seus palácios, ainda que Buckingham ainda não tenha confirmado estas informações. De qualquer dos casos, explica El País, a amizade da rainha com ambos pode acabar num conflito com dimensões políticas e humanitárias e colocar numa situação incómoda a casa real britânica.
Entretanto, e enquanto decorre o caso em tribunal, em declarações ao The Guardian, a embaixada dos Emirados Árabes Unidos em Londres disse não estar envolvida no processo entre o emir do Dubai e a princesa Haya. E garante que não há problemas diplomáticas com nenhum dos países envolvidos: “O governo dos Emirados Árabes Unidos não pretende comentar as alegações sobre a vida privada dos indivíduos. Quanto a saber se isso levantou algum problema com os nossos colegas alemães ou britânicos, a resposta é não”, garantiu.
Para os especialistas na dinâmica política dos Emirados Árabes Unidos, a princessa Haya fugiu do Dubai pela mesma razão que levou Latifa a virar costas ao país de origem: os abusos da família real árabe.
“Já sabemos que a princesa Latifa, filha do emir Mohammed, fugiu dos Emirados Áraves Unidos pedindo asilo e alegando abuso indescritível nas mãos do pai dela. Agora, parece que a princesa Haya, esposa do emir, também fugiu do país e procurou refúgio na Alemanha”, resume Radha Stirling, chefe executivo do grupo Detained in Dubai. “Obviamente que isto levanta sérias questões sobre o que a levou a fugir. Afinal, ela é uma mulher adulta livre, irmã do rei da Jordânia. E ainda assim, aparentemente, sente-se insegura”, termina.
As princesas Latifa e Haya não foram os primeiros membros da família real árabe a fugir. Num vídeo publicado enquanto esteve em parte incerta, Latifa conta como uma das suas irmãs — o emir do Dubai tem 23 filhos — tentou fugir de casa em 2000 por viver como uma prisioneira. Quando foi encontrada, a princesa regressou ao Dubai mas, segundo a irmã, vinha drogada pelos soldados de Mohammed bin Rashid Al Maktoum.