Calor abrasador na Europa, chuvas torrenciais no Reino Unido, tempestades de granizo mortais na Grécia e ciclones nos Estados Unidos. Afinal, o que se passa com o tempo? Hoje, as alterações climáticas são um dos grandes problemas do mundo e algo que podemos observar (cada vez mais) literalmente.
Comecemos por Portugal. Os meses mais frios do ano foram, como seria de esperar, frios. Até aí nada de anormal. Mas o último inverno foi o quarto mais seco do século. O país esteve mesmo em seca meteorológica no final da estação devido aos baixos valores de precipitação. E, em fevereiro, chegou a atingir temperaturas de 25º C. Na altura, foram muitos os portugueses que aproveitaram para dar o primeiro mergulho do ano.
Avancemos uns meses, até ao verão — em que estamos. Depois de uma primavera com temperaturas altas, o verão chegou tímido e trouxe nebulosidade e até chuva. Mas as temperaturas têm subido a pique (principalmente nos últimos dias) e máximas de 42º C estão a deixar o país em alerta máximo para o perigo de incêndios. O calor está cada vez mais abrasador e assim vai continuar.
Temperaturas continuam a subir e máximas até 42º C mantêm país em alerta máximo para incêndios
Fazemos agora zoom out e passamos para uma visão mais alargada — a Europa que bateu este ano recordes de temperaturas máximas. E onde a Grécia viveu na mesma semana calor insuportável e tempestade de granizo que matou pessoas. Prepare-se, notícias como esta serão mais comuns. Um estudo da Universidade de Zurique mostra que, até 2050, cerca de 77% de todas as cidades do mundo vão sofrer alterações climáticas drásticas. A publicação diz que na Europa as cidades vão ter uma subida de 3.5º C no verão e o inverno vai ser 4.7º C mais quente.
Por exemplo, Londres terá uma temperatura semelhante à Barcelona atual. Madrid vai assemelhar-se a Marraquexe. E isto já está a acontecer. Destaca o estudo que cidades como Kuala Lumpur, Jakarta e Singapura têm já situações extremas nunca antes registadas. Centenas de cidades poderão atravessar graves secas, inundações, tempestades, ciclones e outras catástrofes. Tudo isto dentro de 30 anos.
Esta condições atmosféricas não são atualmente experienciadas em nenhum ponto do planeta. Isto significa que, no futuro, vão haver novos desafios políticos, novos desafios ao nível das infraestruturas que nunca enfrentámos antes”, afirma ao The Guardian Tom Crowther, um dos responsáveis pela investigação
Em zonas tropicais, o perigo não é tanto a subida médias das temperaturas, mas sim o nível de precipitação. As estações secas ficarão mais secas e na altura das chuvas vai haver ainda mais precipitação. Este fenómeno aumenta o risco de secas e de inundações, conclui o estudo.
Um pouco para a direita neste nosso mapa, voltemos à Grécia. Os termómetros quase chegaram aos 40º C nos últimos dias e o país está em estado de emergência devido… a tempestades de granizo. E a anormal situação já vitimou pelo menos seis pessoas.
Pelo menos seis turistas mortos e centenas de feridos em tempestade no norte da Grécia
Continuamos na Europa. O site de meteorologia Accuweather já tinha anunciado a chegada de uma forte onda de calor a vários países europeus no verão. E as previsões parecem ter batido certo. O mês de junho de 2019 foi o junho mais quente já registado no mundo. Uma massa de ar quente vinda do Saara fez mesmo vários países atingirem temperaturas inéditas. Foi o caso de França, que chegou aos 45,9º C.
Apesar de todos estes fenómenos, José Manuel Castanheira, professor do departamento de física da Universidade de Aveiro, explica ao Observador que os mesmos não podem ser associados às alterações climáticas.
Estes episódios não podem ser ligados às alterações climáticas. São normais e podem até tornar-se mais frequentes. É preciso olhar em perspetiva”, esclarece José Manuel Castanheira.
Ao Observador, o professor explica que as tempestades de granizo — como a observada na Grécia — são típicas de “sistemas convetivos” e normais em altas temperaturas. “Se o ar é muito quente, formam-se tempestades convetivas. Acontece o mesmo nas nossas trovoadas de agosto: o ar quente sobe rapidamente e formam-se nuvens com congelação”, diz José Manuel Castanheira. Quanto ao tamanho pouco comum das bolas de granizo encontradas em Itália, o professor diz que tal se deve à “quantidade de humidade que havia no ar” naquele momento.
E teremos mais ondas de calor intenso no futuro? “Haverá mais dias de calor acima de um determinado percentil. Não é nada de anormal”, explica o professor.
É agora altura de passar pelos Estados Unidos. O país está em alerta desde quarta-feira devido a uma tempestade tropical que se está a formar no Golfo do México. A tempestade pode chegar à costa do Estado sulista do Louisiana na forma de um furacão no sábado. As autoridades locais falam “ameaça” e numa possível “tempestade mortal”.
4AM CDT on Potential Tropical Cyclone Two. No changes to ongoing watches. However, rainfall forecast has increased. The system is still expected to gradually gain strength south of Louisiana today and Friday and make landfall along the coast on Saturday. #lawx #mswx pic.twitter.com/xYP6X6xFof
— NWS New Orleans (@NWSNewOrleans) July 11, 2019
“A questão é saber se estes eventos serão ou não mais frequentes no futuro”, acrescenta José Manuel Castanheira.
Lembra a CNN que a ONU diz que 120 milhões de pessoas vão estar em risco de pobreza na próxima década devido às acentuadas alterações climáticas.