Parlamentares africanos pediram esta segunda-feira, em Cabo Verde, compromissos coletivos e aumento dos orçamentos dos Estados na área da saúde para combater as causas e eliminar a tuberculose do continente até 2030.
Os pedidos foram feitos durante a abertura da reunião descentralizada do Parlamento Pan-Africano (PAP) e da III Cimeira Africana sobre a Tuberculose, que decorrem esta semana na cidade da Praia.
De acordo com a deputada cabo-verdiana Lúcia Passos, presidente da Comissão de Género, Família, Juventude e Pessoas com Deficiência do PAP, a tuberculose é uma doença infecciosa, mas que tem tratamento, pelo que o desafio é começar a fazer uma diplomacia parlamentar para aumento dos orçamentos dos países e inserir o combate à doença no Plano Nacional de Saúde.
“Cabo Verde é um exemplo disso, praticamente quase já não falamos na tuberculose, porque o país decidiu implementar uma política efetiva de combate à doença. Neste momento, temos cerca de 220 casos por ano, o que é ínfimo, comparando com o que é a morte diária no mundo, que é de 438”, salientou Lúcia Passos.
Para a deputada, a ideia é ver as experiências de países que já estão mais avançados, como Cabo Verde, para partilhar com aqueles que ainda têm alguma dificuldades e desafios nessa matéria.
É neste sentido que, indicou, o PAP incentivou a criação do grupo mundial dos parlamentares para discutir a questão da tuberculose, por entender que “há uma necessidade de empreender uma política mais efetiva no seu combate”.
Quem também defendeu o aumento dos orçamentos para o combate à tuberculose foi o deputado Aurélien Zingas, da República Centro-Africana, que pediu uma “intervenção coletiva” dos Estados e uma colaboração técnica dos parceiros para combater a doença.
O também presidente da Comissão de Saúde, Trabalho e Assuntos Sociais do PAP sublinhou ainda a importância dos cuidados de saúde primários, considerando que a vacinação é “uma das intervenções mais rentáveis” no que diz respeito à saúde pública.
Aurélien Zingas notou que há no mundo mais de 20 vacinas eficazes e que um dos grandes desafios é fazer com que essas vacinas sejam acessíveis a vários grupos, como os migrantes, as pessoas que vivem em zonas de conflitos, as afetadas pelas catástrofes e as que vivem em zonas remotas.
O presidente da Comissão de Saúde, Trabalho e Assuntos Sociais do PAP, Estephen Mule, disse que é “um sonho” erradicar a tuberculose do continente até 2030, mas para isso defendeu ser necessária a intervenção de todos.
O deputado da Zâmbia referiu que a tuberculose é uma das 10 doenças que mais pessoas matam em todo o mundo, com cerca de 1,6 milhões anualmente.
A sessão foi aberta pelo presidente da Assembleia Nacional de Cabo Verde, Jorge Santos, em substituição do Presidente da República, afirmando que “África tem feito progressos consideráveis a nível do combate à tuberculose, à semelhança do resto do mundo”, mas que “não tem investido o suficiente para eliminação das causas da doença”.
“Já não é momento para grandes discursos, é momento para ação, de traduzir essa vontade política em orçamento de Estado”, para financiar a saúde pública, pediu o chefe da casa parlamentar cabo-verdiana.
Entre as causas da doença, Jorge Santos apontou a pobreza, a má nutrição, habitação insalubre, falta de saneamento básico e de saúde materno infantil, bem como o aumento das catástrofes naturais, como a seca.
A reunião conta com a presença da cerca de 30 membros do grupo Parlamentar Africano e da plataforma do Parlamento Pan-Africano para debater a tuberculose, sendo que quase 40% das mortes devido à doença a nível mundial ocorrem em África.