A Renault e a Nissan têm estado envolvidas em conversações visando a redução da percentagem que os franceses detêm no construtor nipónico, de acordo com o Wall Street Journal (WSJ). O objectivo é permitir à marca gaulesa retomar as negociações com a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), com vista à fusão 50%-50% que esteve em cima da mesa na primeira metade do ano. Na altura, a fusão não avançou porque não interessava à Nissan, que obviamente sentia que ia ficar numa situação ainda mais fragilizada quando integrada num grupo muito maior, mas também porque o Estado francês impediu a Renault de extremar posições, numa tentativa – que muitos vêem como vã – de salvar a Aliança Renault-Nissan.

Em relação à estratégia para o futuro do construtor francês, Max Warburton, analista da Bernstein, publicou no Automotive News Europa uma curiosa carta aberta (que pode ver aqui) ao chairman da Renault, Jean-Dominique Senard, aconselhando-o a abandonar a ligação aos japoneses e a vender-lhes os 43,4% que detêm na Nissan por, estima ele, 11 mil milhões de euros.

Afirma Warburton que, “depois de 20 anos de esforços com a Nissan”, desde o dia em que a Renault salvou os japoneses da falência, estes (por uma questão cultural) sempre trabalharam nas sombras para minar o poder que os franceses justamente detinham na marca japonesa. Isto levou Warburton a concluir que a Renault deveria fazer como antes fizeram a Daimler com a Chrysler e com a Mitsubishi, e a Ford com a Jaguar Land Rover e a Volvo: pura e simplesmente vender e cessar a parceria que, segundo ele, está condenada a não funcionar.

A decisão dos franceses em vender parte da quota na Nissan, ou mesmo a totalidade, afigura-se assim como possível, desde que o Estado francês esteja de acordo – o que deverá acontecer face ao mau estado das relações entre Nissan e Renault – e caso os japoneses consigam reunir uma verba desta dimensão. Tanto mais difícil quanto a marca nipónica atravessa uma crise grave em termos comerciais, com forte quebra das vendas e dos lucros – no último ano fiscal, a Nissan teve menos lucros do que a Renault, apesar de vender mais –, o que dificultará reunir investidores.

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A última vez que a Nissan, tal como a Mitsubishi, esteve entregue a ela própria, a história não acabou bem. Só não faliram porque alguém (Renault e Daimler), mais bem gerido, lhes colocou a mão por baixo. E só com doses extra de boa vontade é que se pode pensar que, depois de tudo o que foi dito e feito – a começar pela prisão de Ghosn – existe alguma possibilidade de fazer desaparecer a desconfiança entre Renault e a Nissan. Sobretudo, depois de Senard ter afirmado que não pretende beliscar os bens da Renault, ao “oferecer” uma maior percentagem da sua empresa aos japoneses.

Renault e Nissan recusaram comentar ou confirmar as conversações, mas tudo indica que os contactos para mudar a estrutura da Aliança Renault-Nissan começaram em Junho, logo depois das negociações para a fusão com a FCA colapsarem. Quem está ligado ao processo, segundo o WSJ, espera que se chegue a uma base de acordo em Setembro, citando emails trocados entre ambas as partes.