O procurador americano, depois de ter recebido um pedido de ajuda do seu colega japonês, determinou que foi o filho de Carlos Ghosn que transferiu 500.000 de dólares, em criptomoeda, para um dos homens que alegadamente ajudou o pai, Carlos Ghosn, a abandonar o Japão. Num documento do tribunal, apresentado esta semana, o procurador determinou que Anthony Ghosn pagou a Peter Taylor, pouco tempo depois de, alegadamente, ele e o seu pai, Michael Taylor, um veterano das forças especiais americanas, terem executado um plano para retirar Carlos Ghosn do Japão.

Não deixa de ser curioso ou de louvar, na opinião de muitos, que um filho ajude o pai num momento complicado. Dificilmente isso pode ser alvo de críticas quando abundam críticos internos ao sistema de justiça nipónico, o que é confirmado pelo The New York Times e pela BBC. A isto é forçoso juntar a estranha proximidade entre o Governo, a justiça e as empresas japonesas, sobretudo numa fase em que a Nissan, que estava falida quando foi salva pela Renault, queria ganhar mais poder dentro da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.

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Caberá aos tribunais, não apenas aos japoneses mas também aos holandeses (a Aliança é uma empresa sediada na Holanda), determinar quem tem razão em todo o processo da Nissan contra Ghosn. Sendo que é importante ter igualmente debaixo de olho o processo contra o americano Greg Kelly, o número 2 de Ghosn, que continua preso desde 2018 até que, aparentemente, confesse todos os males do mundo, ou os que interessem à justiça japonesa, sem acusação formal e sem direito a defesa.

Além de ter determinado que o filho Ghosn deu uma mãozinha ao pai, o procurador americano descobriu ainda que Ghosn “pai” transferiu 862.500 dólares para uma empresa de Peter Taylor em Outubro de 2019, desconhecendo os motivos. Que não podem ser muitos. Mas apesar destes dois pagamentos para os Taylor, estes foram libertados, depois de terem sido presos em Maio e de o Japão ter pedido a sua extradição. Não só não parece que esta vá alguma vez acontecer, provavelmente devido às suspeitas sobre as injustiças da justiça nipónica, como os advogados dos Taylor alegam que, de acordo com a lei japonesa, ajudar alguém a abandonar o Japão só é considerado ofensa criminal se o suspeito estiver detido e não sob fiança, como acontecia com Ghosn.

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Para ajudar à polémica e a descredibilizar as acusações da justiça japonesa, reforçando, por outro lado, as alegações de Carlos Ghosn de que foi tramado, documentos internos da Nissan tornados públicos parecem confirmar as alegações do ex-chairman e salvador da marca japonesa, pois indiciam congeminações para neutralizar Ghosn e destruir a sua reputação, o que alavancaria a posição negocial da Nissan junto dos franceses.