Um quarto da população mundial vive em regiões com stress hídrico extremamente elevado, releva o Instituto de Recursos Mundiais, com base na ferramenta Aqueduct. Isto significa que há 17 países que consomem, em média, mais de 80% das reservas de água todos os anos. Em Portugal, os distritos de Setúbal, Faro, Évora e Portalegre também entram na categoria de stress hídrico extremamente elevado.

Na prática, o indicador mede o risco que cada população tem de vir a enfrentar uma situação de falta de água, por causa da utilização excessiva das reservas. Em termos globais, Portugal apresenta um stress hídrico elevado — a segunda categoria mais alta —, consumindo todos os anos, em média, mais de 40% da água disponível.

O stress hídrico é mais acentuado a sul do Tejo do que a norte, mas todos os distritos revelam ter consumos altos de água em comparação com aquilo que está disponível. A continuar esta tendência, até 2040 todo o país estará, no mínimo, numa situação stress hídrico elevado, com regiões mais afetadas a sul do Tejo e na costa Oeste. Só no Algarve, o stress hídrico será três vezes pior em 2030.

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No que diz respeito ao risco de seca, Portugal apresenta um risco médio a médio-alto, com Beja, Évora, Setúbal, Portalegre, Bragança e Lisboa entre os distritos com maior risco. Setúbal, com elevados riscos de stress hídrico e de seca, enfrentou grandes dificuldades na produção de arroz por causa da seca de 2017.

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Portugal, Espanha, Itália e outros países da bacia mediterrânica fazem parte dos 44 países com stress hídrico elevado e muito elevado, onde vive um terço da população mundial. E 12 dos 17 países com o nível de stress hídrico mais alto estão localizados no Médio Oriente e no Norte de África. Parte do problema explica-se por ser uma zona seca e árida e que tem poucas reservas de água, mas uma parte também é explicada pelo aumento dos consumos.

Há 50 anos a beber água reciclada

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Na Namíbia, no sul de África, onde a chuva é escassa, as barragens por vezes não enchem de um ano para o outro e as nascentes secaram, a água dos esgotos é tratada e convertida em água potável novamente. E já o fazem há 50 anos.

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O Médio Oriente e Norte de África têm uma má gestão da água nas culturas — a produtividade da água é metade da média mundial, segundo o Banco Mundial — e 82% das águas residuais não são recicladas, o que representa duas formas de perder grandes quantidades de água. Apesar disso, a região tem as tarifas da água mais baixas do mundo, revela o Banco Mundial. A escassez de água na região, relacionada com o clima, pode vir a significar uma perda de 6 a 14% do produto interno bruto (PIB) até 2050, diz a organização.

A região da bacia do Mediterrâneo, em particular o Médio Oriente e Norte de África, têm um elevado risco de não conseguirem repor as reservas de água que necessitam — Aqueduct/Water Resources Institute

Entre os 17 países existe um outro caso de relevo: a Índia. Embora só apareça no 13.º lugar dos países que mais consomem água em relação à quantidade que têm disponível, a Índia, sozinha, tem mais três vezes a população dos restantes países, já de si densamente povoados, nota o Instituto de Recursos Mundiais. O jornal The New York Times destaca o caso da Cidade do México, que vai perfurando cada vez mais fundo para obter água e que, à medida que isso acontece, a cidade vai-se afundando (é como estar deitado em cima de um colchão de ar que aos poucos vai esvaziando).

O que ainda podemos fazer?

“O stress hídrico é a maior crise de que ninguém está a falar. As consequências estão à vista de todos sob a forma de insegurança alimentar, conflitos e migrações e instabilidade financeira”, disse Andrew Steer, presidente e diretor executivo do Instituto de Recursos Mundiais, citado em comunicado. “A falta de ação será extremamente dispendiosa em vidas humanas e meios de subsistência.”

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Cada pessoa, em sua casa ou nas suas atividades diárias, pode reduzir o consumo de água, mas as grandes medidas têm de ser implementadas a nível regional ou nacional. Pode ser o aumento das tarifas da água, para reduzir os consumos, ou promover os consumos mais eficientes, como na indústria e, sobretudo, na agricultura. Escolher culturas e sementes que exigem uma menor quantidade de água e usar apenas a quantidade de água necessária para cada planta pode ajudar a reduzir os consumos. Diminuir o desperdício alimentar também ajuda a reduzir os consumos de água na agricultura, refere o Instituto de Recursos Mundiais.

Os estados devem encontrar formas de aumentar a capacidade de retenção da água, seja com estruturas humanizadas, como canalizações ou estações de tratamento de águas, seja por estruturas naturalizadas, como telhados verdes ou zonas alagadas. E isto vai desde detetar e reparar todas as ruturas no sistema, até recolher cada gota de água da chuva. Depois, é preciso tratar eficazmente as águas residuais para que possam voltar a ser usadas, seja para consumo humanos, agrícola ou industrial. Os custos deste tratamento podem ser reduzidos se os desperdícios resultantes forem usados como adubos ou fontes de energia (biomassa).

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