Integrado na semana do automóvel em Monterey, o leilão do Type 64 foi anunciado como prevendo uma licitação máxima de 20 milhões de dólares. O valor, a raridade do exemplar e o facto de ser a respeitada RM Sotheby’s a conduzir a licitação levariam a crer que o leilão correria lindamente. Mas não foi assim.
Sob o martelo estava o Type 64, o primeiro Porsche construído pelo senhor Porsche, mais precisamente o engenheiro Ferdinand. Depois de ter concebido o Type 1 (o popular Carocha) em 1934 para Hitler, Ferdinand Porsche decidiu produzir sobre a mesma base o Type 64 em 1939. O resultado é um veículo aerodinâmico, muito leve e igualmente rápido. Mais do que tudo, foi o primeiro Porsche a ser construído, do qual apenas resta esta unidade em condições de circular pelos seus próprios meios, o que tem o condão de fazer disparar os valores em leilão.
Estimava-se uma licitação máxima de 20 milhões de dólares, pelo que foi alguma estranheza que os candidatos a levar o carro para casa viram as “hostilidades” abrir logo nos 30 milhões de dólares. Mas a vontade de arrematar o Porsche fez com que os interessados se refizessem rapidamente do choque inicial e desatassem a licitar, com a guerra a elevar o valor até aos 70,5 milhões. Isto significava que o primeiro veículo de Ferdinand Porsche, usado pelo próprio (e pelo seu filho) durante anos e produzido ainda antes de existir a Porsche como fabricante, iria ser vendido por mais de 70 milhões, cerca de 20 milhões acima do automóvel mais caro do mundo.
Porém, nada disso aconteceu. O que efectivamente teve lugar naquela sala de Monterey, durante o Pebble Beach Concours d’Elegance, foi um desfile de incompetência, pois afirma a CNBC que nunca existiu ninguém a oferecer 40, 50 e muito menos 70 milhões. Segundo admissão da própria Sotheby’s, o leiloeiro percebeu mal e o que a sala estava a tentar licitar era por 13, 14, 15, 16 e 17 milhões. Quando deram pelo erro, gerado pela confusão em 17 e 70 milhões – erro mais fácil no inglês, por ser entre seventeen e seventy –, a leiloeira apressou-se a trocar o valor afixado no quadro, mas então já reinava a confusão. Tudo indica que a dicção do leiloeiro, por ser holandês, criou o problema num leilão que deveria ter arrancado nos 13 milhões de dólares, em vez de 30.
Mesmo por 17 milhões, a Sotheby’s esteve quase três minutos a ameaçar completar a contagem para adjudicar a compra, com o Type 64 no final a ser retirado pela própria leiloeira, que teve aqui uma exibição que vai ficar para a história. E não pelas melhores razões. Veja aqui a confusão: