No jogo mais português da Premier League, o Everton de Marco Silva recebia o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo depois de um fim de semana em que nenhuma das equipas conseguiu resultados positivos — pelo menos no que à liga inglesa diz respeito. Os toffees perderam com o Aston Villa e tiraram a barriga de misérias a meio da semana, goleando o Lincoln City na segunda ronda da Taça de Inglaterra, e os foxes empataram em casa com o Burnley, graças a um penálti marcado por Raúl Jiménez já nos descontos, para depois vencerem o Torino no playoff da Liga Europa, carimbando o passaporte para a fase de grupos da segunda competição europeia (onde vão cruzar com o Sp. Braga).

Apesar do golo marcado ao Torino na primeira mão do playoff, Diogo Jota via este domingo uma série de exibições desinspiradas e pouco influentes culminarem na perda da titularidade: entrava Patrick Cutrone, o italiano contratado ao AC Milan durante o verão, e João Moutinho e Jonny Castro também começavam a partir do banco de suplentes, sendo substituídos por Rúben Vinagre e Adama Traoré. Do outro lado, Moise Kean, jovem contratado pelo Everton à Juventus, conquistava a titularidade a Calvert-Lewin, e tinha o apoio de Richarlison num corredor e de Iwobi no outro. No meio-campo, o português André Gomes era titular ao lado de Fabian Delph.

Os dois treinadores portugueses cruzavam-se pela primeira vez esta temporada no terreno do Everton

Numa altura em que as duas equipas ainda se estudavam mutuamente e procuravam perceber a forma como uma e outra se iriam apresentar dentro de campo, o capitão Coady procurou colocar a bola no pé esquerdo de Rui Patrício, à queima-roupa — o guarda-redes português, que para além de estar mal posicionado para receber a bola também não é um prodígio a jogar com os pés, limitou-se a dar um toque de último recurso e deixou a bola perdida já no interior da grande área, onde Richarlison apareceu com um remate forte que inaugurou o marcador (5′). Apesar de ser a equipa de Marco Silva a controlar de forma explícita as operações, a verdade é que o Wolves não precisou de cinco minutos para empatar em Goodison Park, novamente através de um erro individual: Adama Traoré fez um enorme trabalho na direita e cruzou rasteiro à procura dos homens mais adiantados; o lateral Coleman, a fazer a dobra ao meio, aliviou para a frente e quem aproveitou foi Saiss, que só precisou de encostar (9′).

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Ainda assim, e apesar do empate no marcador, a verdade é que o Everton estava melhor na partida e permanecia bem mais perigoso, sempre por intermédio do islandês Sigurdsson, que aparecia enquanto peça móvel nas costas de Kean, Richarlison e Iwobi e tanto surgia na faixa central como nos corredores, à procura de espaço entre linhas ou a puxar cruzamentos para o segundo poste. Foi assim que apareceu o segundo golo, logo três minutos depois do empate dos Wolves: Sigurdsson recebeu de Richarlison na passada e cruzou largo para a grande área, onde Iwobi cabeceou praticamente sem oposição (12′). Em 12 minutos de jogo, Everton e Wolves já tinham marcado três golos, exatamente o mesmo número de golos que haviam marcado, juntos, nas três jornadas iniciais da Premier League.

Patrick Cutrone esteve muito perto de voltar a empatar o resultado pouco mais de dez minutos depois, obrigando Jordan Pickford a uma enorme defesa (25′), mas o jogo foi mesmo para o intervalo com o Everton de Marco Silva a vencer. Na segunda parte, Nuno Espírito Santo lançou os portugueses João Moutinho e Diogo Jota, nos lugares de Saiss e Cutrone, mas os toffees continuavam por cima do jogo e Yerri Mina chegou a fazer o terceiro golo, que acabou anulado por posição irregular do central (72′). Ainda assim, o Wolves acabou por conseguir fazer novamente o empate fruto de um lance algo isolado e contra a corrente do jogo — André Gomes estava a ser o impulsionador de uma exibição dominante da equipa de Marco Silva –, com Raúl Jiménez a superar Digne depois de Boly desviar um cruzamento de Bennett (75′). O avançado mexicano foi atingido pelo jogador adversário com um pontapé na cara e nem sequer conseguiu festejar o golo mas acabou por conseguir recuperar e regressar à partida.

Mas a verdade é que estávamos a assistir a uma partida onde um golo parecia originar outro, numa corrente que só era interrompida com grandes intervenções ou de Pickford ou de Rui Patrício. Cinco minutos depois do golo de Jiménez, Digne cruzou a partir da esquerda e Richarlison foi mais forte do que Boly, voltando a colocar o Everton na frente do marcador (80′). Até ao final, a verdade é que a equipa de Marco Silva esteve sempre mais perto de fazer o quarto golo do que o Wolves esteve de empatar, com Rui Patrício a impedir o hat-trick do brasileiro com uma defesa que vai fazer parte dos melhores momentos da jornada (82′).

O Everton impôs ao Wolverhampton a primeira derrota da temporada na Premier League e assume cada vez mais algo que já tinha ficado subjacente na reta final da época passada: a equipa de Marco Silva, que se reforçou muito e bem, é este ano a grande candidata a ficar logo a seguir aos big six ou ingleses ou mesmo a intrometer-se entre os mais permeáveis desses seis gigantes; já a de Nuno Espírito Santo, que depois de uma temporada impressionante de regresso à Premier League conseguiu desde logo ficar em sétimo e garantir a ida à Liga Europa, pode perder fulgor com a competição europeia e uma gestão de plantel que nunca foi necessária ao longo da época anterior. Seja como for, será um treinador português a incomodar Manchester City, Liverpool, Chelsea, Tottenham, Arsenal e Manchester United.