O presidente da Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP) alertou para a necessidade de acompanhar os doentes desnutridos quando têm alta hospitalar para evitar que regressem em pior estado clínico e acabem por morrer no hospital.

Aníbal Marinho advertiu também para a falta de nutricionistas a trabalhar nos hospitais e nos centros de saúde, a escassa informação sobre nutrição nos serviços de saúde e “poucos médicos interessados nesta área” porque “também não se criou a necessidade de formar pessoas para tratar este problema”.

Dados da APNEP, que é distinguida esta segunda-feira com um prémio de boas práticas na área da nutrição clínica pela Medical Nutrition Internacional Industry, na Polónia, estimam que anualmente mais de 115 mil doentes em risco nutricional ou malnutridos precisam de apoio nutricional com recurso a nutrição clínica (entérica e parentérica).

Muitos destes doentes agravam o seu estado nutricional durante o internamento e quando têm alta saem sem qualquer apoio do Estado para manter a nutrição clínica em casa. “Se não fizermos alguma coisa, estes doentes vão acabar por voltar ao hospital em pior estado clínico do que estavam e vai ser um círculo vicioso até que acabam por falecer nos hospitais”, disse à agência Lusa o presidente da associação.

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Aníbal Marinho lamentou que haja uma preocupação em “investir em medicamentos extremamente caros” e em “intervenções espetaculares” e depois se esqueça “o base, que é dar de comer aos doentes, forçá-los a comer, dar-lhes qualidade na alimentação”. O tratamento destes doentes “é barato”, defende, elucidando: “são produtos que custam dois, três, quatro euros e às vezes estamos a tratá-los com medicamentos extremamente caros”.

Apesar de muitas vezes até melhorarem na sua doença de base, ficam com “uma qualidade de vida péssima” porque não tem um suporte nutricional que lhes permita ter força muscular para se deslocarem, o que “não faz sentido nenhum”. “Temos de preocupar-nos não só em tratá-los na doença”, mas que tenham “alguma qualidade de vida, que é aquilo com que não nos preocupamos”, defendeu.

O Ministério da Saúde implementou há um mês em todos os hospitais públicos uma ferramenta para avaliar o risco nutricional dos doentes internados. Aníbal Marinho destacou a importância desta ferramenta para combater esta “catástrofe”, porque permitirá “uma ação muito mais célere”, além de revelar a real dimensão do problema.

Os dados que existem é de um estudo feito recentemente em enfermarias de Medicina Interna de 22 hospitais que aponta que dois em cada quatro doentes estão em risco de malnutrição, quando a média europeia é de um em cada três.

O médico intervencionista na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Santo António, no Porto, alertou ainda para a necessidade de um sistema de referenciação para garantir o acompanhamento destes doentes quando deixam o hospital. Mas, admitiu, “a referenciação é complicada” porque não há “médicos suficientes que gostem desta área, nem nutricionistas suficientes” nos hospitais e nos centros de saúde que permitam enviar de “um momento para o outro” 100 mil doentes para acompanharem. “É quase impossível, uma tarefa gigantesca”, sublinhou.

Para mudar esta realidade, Aníbal Marinho defendeu formação para os profissionais na área da nutrição clínica e “apoio político”, admitindo, contudo, que serão necessários anos para resolver o problema.

A associação estima que a malnutrição custe anualmente ao Estado cerca de 255 milhões de euros, defendendo que a sua erradicação resultaria numa poupança anual superior a 166 milhões de euros. Por cada um euro investido nesta terapêutica nutricional o SNS poupa 1,86 euros”, elucida.