Os protestos pró-democracia continuam em Hong Kong, com apelos a um boicote às aulas universitárias e a uma greve geral após um fim de semana violento. Desde junho, foram detidas 900 pessoas.
A polícia antimotim já se posicionou em várias estações de metro, depois dos manifestantes terem bloqueado as portas em várias carruagens, causando atrasos significativos em toda a rede, com a imprensa local a dar conta de novas detenções. As autoridades da região administrativa especial chinesa autorizaram duas novas manifestações, no momento em que os estudantes decidiram boicotar o regresso às aulas durante as próximas duas semanas.
Depois de dezenas de detenções de sábado para domingo, milhares de manifestantes pró-democracia tentaram bloquear o acesso ao aeroporto internacional de Hong Kong, conseguindo mesmo obrigar as autoridades a suspenderem o comboio que faz a ligação do centro da cidade para aquela infraestrutura aeroportuária. Cerca de 15 voos acabaram por ser cancelados e muitos dos passageiros forçados a realizar o percurso de vários quilómetros do centro da cidade para o aeroporto a pé.
Os manifestantes estão proibidos, por decisão de um tribunal, de se manifestarem no interior e junto ao aeroporto, um dos mais movimentados no mundo, depois de em meados de agosto terem conseguido que durante dois dias fossem cancelados todos os voos.
No sábado à noite, registaram-se mais uma vez violentos confrontos entre a polícia e manifestantes, com as forças de segurança a efetuarem dois disparos de aviso para o ar em Victoria Park. Um dos episódios mais marcantes aconteceu em Prince Edward, quando dezenas de manifestantes foram perseguidos no interior da estação de metro e posteriormente detidos, com a polícia a usar gás pimenta depois dos jovens terem vandalizado parcialmente aquele espaço.
“A segurança da polícia e da população está seriamente ameaçada pela escalada de violência e pelo uso crescente de armas letais pelos manifestantes”, apontou a polícia em comunicado. No sábado as autoridades registaram mais de 30 feridos, cinco deles em estado grave.
Os protestos em Hong Kong duram há quase três meses. Na passada semana, foram detidos proeminentes ativistas e três deputados do parlamento. A polícia deixou de fazer policiamento a pé pelas ruas para evitar quaisquer emboscadas às forças de segurança. Um ativista foi atacado com tacos de basebol por homens com o rosto tapado. Um polícia foi alvo também de um violento ataque com uma faca à saída de um turno, na sexta-feira.
Em Hong Kong vive-se um impasse político, depois de os manifestantes terem exigido inicialmente a retirada de uma lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China, para depois somarem outras reivindicações, uma delas o sufrágio universal naquela região administrativa especial chinesa. A chefe do Governo admitiu chamar a si poderes reforçados face à situação de emergência que se vive no território e com a China a estacionar tropas na cidade vizinha, Schenzen.
O movimento pró-democracia definiu cinco reivindicações: a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe de governo Carrie Lam e sufrágio universal nas eleições para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da lei da extradição garantem estar agora em causa. Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário. O Governo central chinês é responsável pelas relações externas e defesa.